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Rússia prolonga pacto com Turquia que garante envio de grãos a países com fome

Tratado vencia nesta sexta-feira (19) e permite exportar alimentos por uma espécie de corredor humanitário a partir de portos do mar Negro
Juan Pablo Duch
La Jornada
Madri

Tradução:

Uma boa notícia para os países que padecem de fome – os que mais sofrem as consequências da crise alimentar mundial – chegou nesta quarta-feira (17) de Istambul, onde a Rússia e a Ucrânia, com a mediação da Turquia e das Nações Unidas, decidiram prolongar o chamado pacto dos cereais. O tratado vencia nesta sexta-feira (19) e permite exportar os grãos ucranianos por uma espécie de corredor humanitário a partir de portos do mar Negro.

No entanto, a prorrogação é só por dois meses, o que faz pensar que não se cumpriram todas as condições fixadas pela Rússia para estender o entendimento original, firmado em julho de 2022, que pressupunha permitir durante meio ano a saída dos cereais ucranianos em troca de facilidades para a exportação russa de fertilizantes e produtos agropecuários.

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Depois de Moscou se queixar de que não se satisfaziam suas demandas, em março de 2023, pressionou com a primeira prorrogação de apenas dois meses e depois apresentou, em uma reunião do Conselho de Segurança das Nações Unidas, cinco condições para manter a vigência do pacto a partir de 18 de maio: 

Primeira: voltar a conectar o banco Roszeljozbank (Banco Agrícola da Rússia) ao sistema de transferências internacionais SWIFT. Segunda: retomar a venda de maquinaria agrícola e de consertos à Rússia. Terceira: desbloquear os ativos no estrangeiro de companhias russas relacionadas com a produção agrícola e de fertilizantes. Quarta: quitar as restrições em matéria de seguros e resseguros de cargas em embarcações russas. E quinta: restabelecer o funcionamento da tubulação de amoníaco, composto químico que é utilizado na produção de fertilizantes, da cidade industrial de Togliatti (Rússia) ao porto de Odessa (Ucrânia). 

Sem resolver estas demandas, que chamou de “problemas sistêmicos”, o Kremlin resolveu retirar-se do pacto dos cereais. Se desconhece até que ponto os Estados Unidos e seus aliados, que são os que estabeleceram o atual regime de sanções, cederão às exigências da Rússia. 

“Vamos continuar nossos esforços para assegurar que se cumpram todos os pontos do acordo e sua prorrogação na seguinte ocasião”, prometeu o presidente da Turquia,  Recep Tayyip Erdogan, o primeiro a anunciar que as delegações russa e ucraniana haviam aceitado prolongar o pacto “durante 60 dias”.

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Erdogan também deu a conhecer que “nossos amigos russos declararam que não vão pôr nenhuma objeção a que navios turcos saiam dos portos de Mykolaiv e Olvia”, dois a mais dos três incluídos no entendimento inicial. 

Por sua parte, o secretário-geral da Organização das Nações Unidas, Antonio Guterres, escreveu no Twitter: “Recebo com beneplácito a confirmação por parte da Federação Russa de que vai continuar durante outros 60 dias sua participação na Iniciativa do mar Negro. Incluso nas horas mais escuras, sempre há um raio de esperança e uma oportunidade para encontrar soluções que beneficiem a todos”. 

As palavras de Erdogan e de Guterres, e a falta de que se conheçam os detalhes, parecem indicar que, se não se cumprirem todas as suas condições, a Rússia pelo menos levou de Istambul a promessa de que se está trabalhando para atender brevemente suas demandas. 

A chancelaria russa, mediante um breve comunicado difundido através da agência TASS, confirmou a extensão do pacto dos cereais, o qual “oferece a oportunidade de contribuir para garantir a segurança alimentar global”. 

Tratado vencia nesta sexta-feira (19) e permite exportar alimentos por uma espécie de corredor humanitário a partir de portos do mar Negro

Kremlin
Recep Tayyip Erdoğan e Vladimir Putin

Ataques noturnos da Rússia na Ucrânia provocam guerra de versões

Após o enésimo ataque noturno nas primeiras horas desta terça-feira (16), em que o único seguro – ninguém o desmente – é que a Rússia lançou 25 mísseis, 6 hipersônicos Kinzhal (Punhal), 9 de cruzeiro Kalibr (Calibre) e 10 de tipo SS-400, Iskander-M contra Kiev e outras cidades ucranianas, começou outra batalha, a da propaganda de guerra à base de verdades indiscutíveis, realidades a meio e mentiras descaradas, em que uns e outros recorrem a esse peculiar coquetel de versões ajustadas aos desejos para defender o prestígio de suas forças armadas. 

O general Igor Konashenkov, porta-voz do exército russo, abriu seu informe de guerra diário com a notícia de que um míssil Kinzhal destruiu um sistema de defesa antiaérea Patriot, de fabricação estadunidense, na cidade de Kiev, o mesmo que há uns dias, segundo os ucranianos, derrubou pela primeira vez um projétil hipersônico dessas características – que supera em 10 vezes a velocidade do som –, que até esse momento se acreditava impossível de interceptar, nas palavras do presidente russo Vladimir Putin.

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Horas mais tarde, o general Valeri Zaluzhny, comandante-chefe do exército ucraniano, afirmou que o sistema Patriot interceptou os 6 mísseis hipersônicos lançados pela Rússia, enquanto o porta-voz da força aérea, Yuri Ignat, agregou que a defesa antiaérea derrubou os 25 mísseis russos.

E o porta-voz do Kremlin, Dimitri Peskov, eludiu comentar se era certo ou não que a Ucrânia derrubou 6 mísseis hipersônicos, limitando-se a dizer que essa variedade de armas “tem características técnicas e táticas únicas em seu gênero”, ao mesmo tempo que o canal de televisão CNN, citando fontes anônimas, negou que o Patriot tivesse sido destruído, dando a entender que pode ter sofrido “certo dano” e necessita avaliar se os engenheiros ucranianos podem repará-lo. 

Entretanto, a única evidência gráfica do que falaram uns e outros são dois vídeos nas redes sociais em que se pode ver dois mísseis, presumivelmente russos, caindo envolvidos em fogo.


Versões contraditórias

Igual panorama de versões contraditórias – em que dependendo de quem o diga são exagerados os êxitos e minimizados os fracassos – domina o que era passando em torno à cidade em ruínas de Bakhmut. 

Konashenkov reconheceu que as forças russas “estão na defensiva” na zona da localidade de Krasnnasoye, ao sudoeste de Bakhmut, assim como em Chasiv Yar e Bohdanivka, onde “nas 24 horas recentes o inimigo empreendeu cerca de 10 ataques, detidas pela aviação” russa, enquanto “as unidades de assalto, em alusão ao grupo de mercenários Wagner, prosseguem suas operações ofensivas na própria cidade de Artiomovsk (que os russos chamam de Bakhmut)”.

Guerra na Ucrânia passa de 1 ano sem prazo pra acabar. Já entendeu os motivos do conflito?

A versão ucraniana, pela boca da vice-ministra de defesa Hanna Malyar, é que “nossas tropas liberaram aproximadamente 20 km² no Norte e no Sul das periferias de Bakhmut”, embora reconheça que as forças russas estão conseguindo “alguns avanços” no interior da cidade, devido a que a aviação e a artilharia do inimigo bombardeiam cada vez mais os edifícios que os ucranianos usam para resistir nos combates rua a rua, os quais “continuam com resultados díspares” e muitas baixas de ambas as partes.


Denunciado o Tratado de Forças Armadas Convencionais na Europa

A Câmara Baixa do Parlamento russo, a Duma, aprovou por unanimidade nesta terça-feira denunciar o Tratado FACE (sigla de Forças Armadas Convencionais da Europa), 16 anos depois que o presidente Vladimir Putin, em 2007, suspendeu mediante decreto a participação da Rússia nesse acordo firmado em 1990 por 16 países que então formavam parte da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte) e 6 do Pacto de Varsóvia (integrado pela União Soviética e cinco países socialistas da Europa do Leste). 

“Desde começos dos anos 1990, devido a significativos câmbios políticos e militares, em primeiro termo relacionados com a ampliação da Otan, o Tratado perdeu atualidade e vinculação com a realidade”, aponta o documento que a chancelaria local submeteu à consideração dos deputados. 

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Trata-se certamente de um simples trâmite, que dá sepultura a um documento já morto, criado para conter a rivalidade em tempos da Guerra Fria.

Há ainda o futuro incerto do Tratado de Redução de Armamento Estratégico, conhecido como Novo Start. No passado 21 de fevereiro, a Rússia suspendeu seu cumprimento, matizando que não abandona o pacto, pela atitude hostil dos Estados Unidos que apoiam com armas e dinheiro à Ucrânia. Já nesta terça-feira, nos corredores da Duma, o vice-chanceler Serguei Ryabkov respondeu categórico à imprensa que Moscou não vai proporcionar informação sobre o número de ogivas nucleares que tem. Na véspera, os Estados Unidos publicaram esses dados e instou a Rússia a retomar suas obrigações conforme o Novo Tratado Start, sobretudo no que diz respeito a medidas de transparência e verificação. 

“Não, não o faremos. De nenhuma maneira estamos considerando essa possibilidade”, disse Ryabkov à agência Interfax, depois de admitir que leu o comunicado do Departamento de Estado e que será “arquivado”.


Novo escândalo de corrupção na Ucrânia

A promotoria anticorrupção deteve nesta terça-feira o presidente da Suprema Corte da Ucrânia, Vsevolod Knyazev, por sua presumida implicação no “maior caso de corrupção do poder judicial na história” no país eslavo. 

De acordo com o promotor Oleksandr Omelchenko, o qual deu a conhecer a notícia, a detenção do alto funcionário se inscreve na investigação que se leva a cabo sobre o suposto pagamento de subornos à “plane maior” da Suprema Corte e a vários juízes. 

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Revelou-se à imprensa ucraniana que se imputa a Knyazev “a cobrança de benefícios inapropriados” em cerca de 3 milhões de dólares. A Suprema Corte celebrou um plano extraordinário para retirar o foro do suspeito, enquanto a promotoria distribuiu imagens da busca na sua residência, onde o efetivo encontrado ia se acumulando em cima de um sofá da sala em pacotes de cédulas de 100 dólares. 

Um dos principais envolvidos na presumida compra de juízes é o magnata Konstantin Zhevago, que fugiu para a França e cujo serviço de imprensa desmentiu qualquer vinculação com o caso dos subornos.

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Zhevago, um dos homens mais ricos da Ucrânia, encabeça o grupo Finanças e Crédito, consórcio que surgiu do banco homônimo e que mantém fortes interesses na metalurgia, mineração, farmacêutica, transporte e outros setores da economia ucraniana. Não é o primeiro caso de corrupção na Ucrânia.


Cidadão da Colômbia condenado

Uma corte de Moscou condenou nesta terça-feira a cinco anos e dois meses de prisão o colombiano Alberto Enrique Giraldo Saray, por “difundir notícias deliberadamente falsas em troca de dinheiro” acerca da operação militar na Ucrânia “através de envios em massa de mensagens curtas, SMS” a partir de “seis celulares manejados por controle remoto, com fontes externas de alimentação, que estavam escondidos em um centro comercial” no distrito Voykovsky, da capital russa. 

Em dezembro passado, a promotoria geral, mediante um comunicado, deu a conhecer que Giraldo Saray, detido em abril de 2022, “seguindo instruções de pessoas ainda não identificadas”, entre 8 e 18 de março deste ano difundiu, em troca de pagamento em criptomoedas, “mentiras” como, por exemplo, que “as tropas russas matavam civis na Ucrânia e que o exército engrossava suas filas com reservistas, recrutas que faziam o serviço militar, estrangeiros e até alunos da escola preparatória”.

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A dependência assegurou então que o condenado tinha dois cúmplices, “Ramírez Salazar e Briceño Mendoza (sic, sem nome de batismo), que dirigiam as ações de Giraldo Saray desde o estrangeiro e, por sua vez, recebiam ordens da “organização estadunidense Digital Humanity”, relacionada, segundo a investigação, com a Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (USAID), proscrita na Rússia em 2012. Alberto Giraldo, casado e pai de duas filhas, vivia na Rússia há 20 anos.

Juan Pablo Duch | La Jornada, especial para Diálogos do Sul – Direitos reservados.
Tradução: Beatriz Cannabrava


As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul

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Juan Pablo Duch Correspondente do La Jornada em Moscou.

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