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Foto: Reprodução/ Facebook
O Tribunal de Justiça da União Europeia, no último dia 27 de Fevereiro de 2018, publicou o segundo acórdão que determina que o Saara Ocidental e não é parte do Reino de Marrocos, é um território distinto e separado e quaisquer acordos entre a UE e Marrocos não podem nem incluir este território nem as suas águas adjacentes, reafirmando assim o que já tinha sido estabelecido no acórdão de 21 de Dezembro de 2016 – C-104/16 P-.
Por Pravda
A Frente Polisário acionou assim um avalanche jurídica que já deu frutos com a apreensão de navios de transporte de fosfatos, recurso natural que junto com a pesca é a base do roubo de Marrocos das riquezas Saarauís e que é o motivo essencial da ocupação militar do Saara Ocidental, um território riquíssimo, cuja população vive sob um regime de terror num apartheid social, político e econômico desde a invasão marroquina em Novembro de 1975.
Em 23 de fevereiro, o Tribunal Superior da África do Sul decidiu que uma carga de fosfatos a bordo de um navio proveniente do Saara Ocidental para a Nova Zelândia carregava bens que não pertenciam ao exportador marroquino nem ao importador na Nova Zelândia. A embarcação NM Cherry Blossom, esteve detida em Port Elizabeth por mais de 300 dias. O Tribunal sublinhou que o Marrocos ocupa ilegalmente o Saara Ocidental e não tem o direito de exportar o fosfato do território. Esta carga foi agora devolvida ao legitimo representante do povo Saarauí, a Frente Polisário.
Vários proprietários de navios internacionais introduziram uma cláusula que excluí o Saara Ocidental nos novos contratos de frete como é o caso por exemplo da Global Ocean.
No começo de março foi publicada a noticia que a empresa aérea Transavia cancelou a ponte aérea entre Dahkla (cidade dos territórios ocupados) e Paris, na página online da companhia pode-se verificar que o último voo será dia 22 de Março 2018.
Segundo o jornal online marroquino Le Desk, a “Polisário cancelou a linha Paris-Dahkla operada pela Transavia” a agência noticiosa espanhola Efe fala em ” A primeira via aérea que ligou a cidade Saarauí de Dahkla com Paris falhou”
A Federação das Associações de Pescadores das Ilhas Canárias apela à negociação direta com a Frente Polisário
Numa declaração da Federação das Associações de Pescadores das Ilhas Canárias, esta organização profissional apela à negociação direta com a Frente Polisário para o uso do banco de pesca do Saara Ocidental um acordo de pesca que proporciona estabilidade e suporte jurídico adequado à presença dos pescadores canários nas águas do Saara.
O comunicado realça que num acordo de pesca referente ao Saara Ocidental, deve ser dada especial atenção à presença do sector artesanal das Canárias, que com suas práticas de pesca sustentáveis.
![](http://dialogosdosul.operamundi.uol.com.br/wp-content/uploads/2023/10/Saara-Ocidental-mapa.png)
Num texto que começa por explicar a relação histórica dos pescadores canários com o banco de pesca do Saara e onde condenam o estado espanhol pelo abandono do território sem nunca terem dado a oportunidade ao povo Saarauí a exercer o seu legitimo direito à autodeterminação, esta associação urge agora ao Estado Espanhol e à União Europeia respeitar sem quaisquer “distorções” a sentença do Tribunal de Justiça Europeu que determinou que os acordos de pesca com Marrocos não incluem nem o território nem as águas do Saara Ocidental, uma vez que este território não faz parte de Marrocos.
Os pescadores canários lamentam que na sucessão de acordos de pesca, entre a Espanha em primeiro e a União Europeia mais tarde, com Marrocos os pescadores das Canárias progressivamente expulsos destas águas e que o povo Saarauí teve que assistir como as riquezas dos seus mares são saqueadas por práticas predadoras de pesca desenvolvidas por poderosas frotas estrangeiras, permitidas e encorajadas pela administração de ocupação marroquina.
A Federação apela assim ao respeito integral do acórdão do Tribunal de Justiça da União Europeia de 21 de Dezembro de 2016 – C-104/16 P, resolução judicial esta que reconheceu que Marrocos e o Saara Ocidental são territórios distintos e separados, em virtude da Carta das Nações Unidas e do princípio da autodeterminação dos povos, considerando que os acordos estabelecidos entre a União Europeia e Marrocos não são aplicáveis a Território do Saara Ocidental ou suas águas, de modo que as empresas europeias não podem, em nenhuma circunstância, usar as autorizações marroquinas para operar no Saara Ocidental.
![](http://dialogosdosul.operamundi.uol.com.br/wp-content/uploads/2023/10/W_Sahara_Map-400x308.png)
Os pescadores canários realçam que o TJUE também afirma que o fator determinante não é avaliar se uma atividade econômica específica pode ser favorável ou não à população Saarauí, mas garantir que o representante do povo Saarauí, a Frente Polisário, tenha dado o seu consentimento para o seu desenvolvimento. Desta forma, a legislação europeia deixa claro que qualquer atividade econômica no território do Saara Ocidental está sujeita ao acordo expresso da Frente Polisário, o único representante do povo Saarauí, nos termos da resolução 34/37 da Assembleia Geral das Nações Unidas.
Apelam ainda à implementação dos acordos de paz de 1991 e as inúmeras resoluções das Nações Unidas e da União Africana, para que o conflito no Saara Ocidental possa ser definitivamente resolvido mediante a realização de um referendo no qual o povo Saarauí possa decidir livremente o seu futuro, para que com se pode ler no texto “todos os povos desta área possam desenvolver-se em paz e com estabilidade”.
Frente Polisário disponível para negociar acordos respeitando a sustentabilidade dos recursos
A Frente Polisário esclareceu que a União Europeia deve se comportar com o máximo respeito pela legalidade internacional e as suas próprias leis, consequentemente, se for tentada a incluir as águas do Saara Ocidental de qualquer maneira num novo acordo sobre a pesca com Marrocos, a Polisário irá recorrer de novo aos os tribunais europeus, deixando na absoluta incerteza jurídica as empresas que pretendem agir baixo a cobertura desses acordos.
A Frente Polisário manifestou vontade de chegar a acordos com empresas interessadas em desenvolver atividades econômicas no território e nas águas do Saara Ocidental, com a perspectiva de permitir uma atividade respeitosa com os seus recursos, sustentável no tempo e benéfica para as partes que assinam os acordos.
O Advogado da Frente Polisário, Gilles Devers reafirmou que embora este acórdão não dará a independência ao povo Saarauí, representa um progresso muito significativo e que incitar empresários a investir na áreas ocupadas do Saara Ocidental é incitar o crime e a ilegalidade e que qualquer actividade económica será denunciada em sede judicial.