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Saída para grave crise na Colômbia são o diálogo e a unidade, diz sacerdote defensor dos direitos humanos

Junto a outros 11 pastores de distintas religiões, o sacerdote Edilson Huérfano Ordoñez criou a "Primeira Linha Ecumênica pela Colômbia"
Odalys Troya Flores
Prensa Latina
Havana

Tradução:

Para o sacerdote Edilson Huérfano Ordoñez, líder social e defensor dos direitos humanos, a saída para a grave crise na Colômbia são o diálogo e a unidade.

Por isso, junto com outros 11 pastores de distintas religiões, criaram a Primeira Linha Ecumênica pela Colômbia, para estabelecer um canal de interlocução entre os setores camponeses, indígenas, os jovens e outros, e o governo de Iván Duque, como explicou em entrevista a Prensa Latina, via Internet.

O sacerdote evangélico disse que vê o país muito polarizado politicamente e que fica preocupado ao ver que se está lidando de forma similar à época do governo de Laureano Gómez (1950-1951) quando, guardadas as diferenças, o país vivia uma dura situação de crise.

É como se se repetisse neste momento, como se fossem caminhos paralelos, enfatizou Huérfano Ordoñez, que faz parte do Movimento Comunitário do Catatumbo e é guarda camponês.

“Me preocupa que não se abram caminhos de diálogo real com todos os setores na Colômbia envolvidos nesta explosão social, gerada pelas reformas propostas pelo governo de Duque”, afirmou.

Explode porque a Colômbia vinha sendo uma panela na qual o orifício por onde sai o vapor estava tapado, as reformas foram como a gota que transborda o copo e o povo vinha se cansando, assegurou. Também disse que o país está polarizado, “as pessoas que Iván Duque chama para negociar não gozam de toda a credibilidade, sobretudo alguns políticos”.

Buscar uma saída para crise

Propomos, disse, sentarmo-nos para dialogar, mas com todos os setores, nos departamentos, nos municípios, e nesse nível buscar uma saída para a crise, e depois, em nível nacional fazer uma grande mesa de organizações sociais.

Pedem ao governo negociar com as organizações em nível nacional, com todos os setores: arrozeiros, papeleiros, produtores de mandioca, de leite, que estão empobrecendo porque muitos desses produtos estão sendo importados.

A outra proposta é que as pessoas desbloqueiem as estradas, mas permaneçam nelas, em assembleia, enquanto ocorre esse diálogo nacional, acrescentou. “Estamos vivendo o mesmo que em 9 de abril de 1948 – escalada de enfrentamentos e protestos que teve lugar em Bogotá e outras cidades do país depois do assassinato do candidato presidencial líder do Partido Liberal, Jorge Eliécer Gaitán.

“Os partidos Liberal e Conservador explodiram e veio o Bogotazo que deixou milhares de mortos, além dos desparecidos”, lembrou. “Agora não se trata de liberais e conservadores, e sim de posições extremas e nós, que estamos no meio, buscamos uma saída de acordo e diálogo, não violenta”.

É que a Colômbia foi historicamente um país de violência: a guerra dos Mil Dias, entre 1899 e 1902; o massacre das bananeiras, em 1928; depois o de 1952, com as guerrilhas liberais, nos anos 1970 quando surge o Movimento 19 de Abril (M-19), depois toda a época de Pablo Escobar, comentou.

“O diálogo tem que ser de todos os colombianos, não só de atores políticos”, insistiu Huérfano Ordoñez. “Mas não quizeram, estamos vivendo um governo cheio de egos a que é preciso somar as eleições presidenciais que já estão aí, o que polariza ainda mais o país”.

Sublinhou que neste momento o uribismo – seguidores da política do ex presidente Álvaro Uribe (2002-2010) – perdeu força e muita credibilidade “pela forma como este governo mente para as pessoas: “Não ao fracking, proteção aos páramos, menos impostos e mais salários”, insistiu. “A saída é o diálogo, reconhecer a nós mesmos como atores desta situação”.

Disse que na Colômbia, devido aos altos níveis de corrupção, perdem-se a cada ano cifras milionárias de dinheiro, e em meio à pandemia da Covid-19 “continuam roubando. Então vêm os políticos e justificam que com a greve nacional os pequenos e médios comerciantes quebraram, o que não é verdade, porque já estavam quebrados”.

Por isso a única saída é que os atores políticos que estão buscando créditos se afastem e seja o próprio povo que chame para o diálogo, enfatizou. “E somos os culpados porque permitimos que os que estão no Congresso façam conosco o que querem”.

Junto a outros 11 pastores de distintas religiões, o sacerdote Edilson Huérfano Ordoñez criou a "Primeira Linha Ecumênica pela Colômbia"

Prensa Latina
"O diálogo tem que ser de todos os colombianos, não só de atores políticos."

“Foi criada por sacerdotes não romanos e há pessoas católicas, leigos e pastores de diferentes denominações religiosas. Alguns se surpreenderam porque saímos com escudo, capacete e com a imagem de Jesus abraçando a Colômbia; e além do mais somos 12”.

Assegurou que isso tem uma conotação simbólica: o capacete é um símbolo de resistência, de trabalho porque para poder gestar as mudanças no país não apenas é preciso resistir, é preciso trabalhar. Acerca do escudo, explicou que parte da base de uma razão comum de seus integrantes: “O Senhor é nosso escudo, um sinônimo de proteção”. Acrescentou que 12 é um número bíblico e que Jesus abraçando a Colômbia está relacionado à religiosidade do país.

Também é um apelo a todos os líderes religiosos para parar com as confrontações e protagonismos, e começar a trabalhar com as comunidades, levando não só uma mensagem de salvação, mas de libertação, de questionamento e do Jesus humanista.

“Na Colômbia nós, líderes religiosos, ficamos em silêncio ante a realidade do que ocorre, alguns se põem a favor do Estado porque dá contratos. Estamos apelando à unidade para poder salvar o país”, disse.

Mas temos que estar conscientes que, na Colômbia, os governos não entendem pelas boas, acrescentou. Mostrou sua preocupação com os assassinatos, com os desaparecimentos, com as torturas, com todos os mortos e considerou urgente acabar com os discursos classistas.

Há gente vestida de civil em motos com as placas tapadas disparando nas pessoas, e a força pública não está apoiando o povo, e sim um setor que tem dinheiro, advertiu. “Me preocupa que os jovens estejam dando suas vidas e porque neste país milhões de jovens não têm nada a perder, foi-lhes roubado absolutamente tudo”.

Muitos de nós, líderes religiosos, 99 por cento, ficamos em silêncio diante disso e quem se pronunciou a partir do trabalho social, foi questionado, criticado, chamado de guerrilheiro e ameaçado, afirmou o religioso, que insiste no diálogo para uma saída da explosão social na Colômbia.

* Jornalista de Prensa Latina

Tradução de Ana Corbisier  


As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul

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