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Sánchez: Mais que disputa de partidos, nestas eleições há uma ameaça real sobre a Espanha

“O PP deveria ter vergonha de trocar cargos por princípios e direitos por votos”, assegura o presidente do Governo e candidato do PSOE
Ignacio Escolar
El Diário.Es
Madri

Tradução:

“Falou-se muito de meus pactos”, reconhece Pedro Sánchez nesta entrevista na redação do elDiario.es. “Busquei votos até debaixo das pedras para alavancar avanços e conquistas sociais que foram bons para a cidadania, enquanto o PP e o Vox acertam proibir as concentrações contra a violência machista, ou o cúmulo de ver censura em eventos culturais”. O presidente do Governo e candidato socialista defende sua gestão contrastando-a com o que está se passando em dezenas de governos do PP e do Vox, “o trailer do filme tenebroso” que suporia a chegada de Feijóo e Abascal a La Moncloa. 

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Sánchez argumenta que não estamos diante de umas eleições como as outras. “Isto não é uma disputa de partidos políticos”, “um Governo de PP e Vox seria um retrocesso sério, grave, em direitos e liberdades”. E pede “o voto majoritário das esquerdas, do centro e também de gente de direita” para que a Espanha avance. “Os votantes do PP e do Vox são melhores que seus dirigentes”.

“O PP deveria ter vergonha de trocar cargos por princípios e direitos por votos”, assegura o presidente do Governo e candidato do PSOE

PSOE/Flickr
Sánchez: Estou convencido de que os votantes do PP e Vox são muito melhores que seus dirigentes, por isso é importante pedir seu voto

Confira a entrevista

El Diario | O emprego está em recordes históricos e a Espanha é a economia que mais cresce e que menos inflação tem entre os principais países europeus. Como se explica que com estes dados o PP encabece praticamente todas as pesquisas?
Pedro Sánchez | Não foram tempos fáceis, tivemos que enfrentar uma pandemia e tampouco estamos em um momento fácil em consequência da guerra na Ucrânia. Mas creio que no próximo dia 23 de julho, diferentemente do que acontece em outro tipo de eleições, não é uma disputa entre partidos políticos: trata-se de decidir para que direção vai a Espanha. Se assume uma direção de avanço ou uma direção de retrocesso. Nestas eleições não estamos disputando a alternância: a ameaça real é um governo de coalizão entre Feijóo e Abascal, que evidentemente suporia um retrocesso sério, grave, em direitos e liberdades, como estamos vendo já em alguns municípios e em algumas comunidades autónomas onde fizeram um pacto.

Chega tarde para lutar contra esta caricatura que a direita fez do senhor com o “sanchismo”?
Creio que cada momento tem sua urgência. O Governo da Espanha e eu em particular o que fizemos foi estar constantemente trabalhando para responder e enfrentar os problemas que afetaram os cidadãos, de maneira coerente com o acordo de investidura que os dois partidos assinamos. Eu sempre disse que sou um político de esquerda, limpo, autônomo, e isso para determinados poderes é absolutamente inaceitável. Mas creio também que neste processo eleitoral o que temos que fazer é falar do que realmente importa e preocupa as pessoas. Primeiro, fazer um balanço do que encontramos há quatro anos e como está a Espanha hoje. E em segundo lugar, quais são as propostas que temos para os próximos quatro anos. É o que estamos fazendo e de fato creio que esta campanha positiva e propositiva do Partido Socialista nos fará ganhar as eleições no próximo dia 23 de julho.

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O senhor está dando entrevistas a muitos meios de comunicação e programas aos que não foi nesta etapa como presidente. Deveria tê-lo feito antes? Por que não o fez?
Denunciei sempre a desproporção entre o que representa a presença de opiniões de direitas ou de ultradireita em relação à marginalização que se oferece a todas as aproximações ao debate progressista. E não tem a ver esta opinião publicada com a opinião pública, a opinião das pessoas, a sociologia de nosso país. Mas a partir de agora o que temos que fazer é falar do balanço e das propostas de futuro.

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Encontrei este país com três principais desafios. O primeiro é o emprego: [havia] menos de 19 milhões de afiliados à Seguridade Social e hoje temos quase 21 milhões. Dois, a corrupção. Tínhamos uma crosta de corrupção com o financiamento irregular, com a Gürtel e também com a Operação Kitchen. Hoje, em troca, temos um governo sem mancha, exemplar e que freou e deu uma resposta contundente a qualquer problema de falta de exemplaridade que pudesse ocorrer em nosso país.

E, finalmente, a questão catalã: encontramos um país quebrado. Até 2019 víamos contêineres ardendo em Barcelona e hoje temos um conflito canalizado, onde a primeira força política é a representada por Salvador Illa. Portanto, creio que temos uma política agora limpa, um país que convive e um país que avança com um forte crescimento econômico e com uma grande criação de emprego.

Falava da questão catalã. É evidente que hoje está bastante melhor que há cinco anos, depois de algumas medidas, como os indultos. Há decisões a tomar pensando no médio prazo, ainda que a curto prazo possa lhe custar votos?
Tomei decisões arriscadas, tomei decisões que cidadãos também progressistas não entenderam inicialmente. Pedi esse voto de confiança e acredito que hoje efetivamente temos a situação na Catalunha canalizada. Agora que tomamos conhecimento desta sentença do Tribunal Geral da União Europeia para Puigdemont e também para o resto dos fugitivos independentistas catalãos, vemos como a ultradireita e esse PP ultradireitizado desprezam a Catalunha de Puigdemont. Eu reivindico a Catalunha de Salvador Illa e essa Catalunha o que quer é conviver, é avançar em direitos e liberdades e não retroceder a tempos passados, a 2017 ou 2019, quando vimos efetivamente arder contêineres em Barcelona.

Creio que há dois elementos muito importantes: a economia espanhola está crescendo, estamos criando emprego, e estamos solucionando problemas como o da Catalunha. Vamos voltar para trás? Por isso estou convencido de que o povo espanhol vai nos confiar o voto majoritário nestas eleições. Considerando que não se trata de uma disputa de partidos políticos, e sim da direção que adotará a Espanha, peço o voto não só para aqueles votantes tradicionais do Partido Socialista. Peço o voto para todos aqueles votantes de outras opções políticas, inclusive a do Partido Popular, que estão envergonhados dos acordos com Vox e com Abascal. Peço o voto majoritário de esquerdas, de centro e também de gente de direita que sei que vão me dar um voto emprestado, mas que desde logo o fazem porque há uma coisa que nos une a todos e a todas, e é que a Espanha não retroceda, que a Espanha avance. E isso é o que está em jogo. Não é a alternância. Há que dizer, com nosso voto, sim ao avanço. E dizer a Feijóo que com Abascal não, que assim não, que com Abascal nunca. E isso também temos que fazer no próximo dia 23 de julho.

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Puigdemont garantiu que alguém de seu partido ofereceu-lhe um indulto se se entregasse primeiro e cumprisse um tempo de prisão. Sabe desta oferta? Foi feita com sua autorização?
Puigdemont era um problema há cinco anos, hoje é uma piada. E a palavra de Puigdemont vale o que vale sua declaração de independência. É papel molhado. Mas o que é certo é que há uma coincidência entre Feijóo, Abascal e Puigdemont e é que querem que quanto pior, melhor.

O PP e o Vox anseiam pela Catalunha de Puigdemont. E Puigdemont anseia pela Espanha governada pela direita. Imaginemos uma direita e uma ultradireita que disseram – Abascal neste caso – que a solução na Catalunha tem que ser resolvida a bofetadas. Nós queremos construir convivência, queremos construir coesão. 

O que faltou neste mandato? Que medidas teria tomado se tivesse tido um mandato mais tranquilo, sem uma pandemia, sem uma guerra?
Fizemos 200 leis muito importantes, que foram 200 proezas, porque é preciso lembrar que estamos falando de leis de um governo de coalizão em minoria parlamentar, com o qual tivemos que ganhar votações até no minuto 93 ou no minuto 95, como foi a reforma trabalhista. A tarefa que temos pela frente agora é consolidar e culminar estas reformas. Isto é, que estas 200 leis que agora mesmo estão no Diário Oficial do Estado façam parte do dia a dia dos cidadãos.

Há muitíssimas questões que ficaram no tinteiro, mas que vamos implementar a partir de 23 de julho. Aí está a lei de paridade, a lei de famílias, todo o desenrolar da lei da moradia… Temos que fazer da moradia a grande causa nacional durante os próximos quatro anos para aumentar a moradia protegida, sobretudo para nossos jovens e reduzir a idade de emancipação.

Também temos que aprovar uma lei de prazos de tempos máximos para a prestação de serviços e isso vai tornar possível, por exemplo, fixar em 60 dias no máximo a realização de consultas externas especializadas no sistema nacional de saúde ou em 15 dias para o atendimento psicológico a jovens com menos de 21 anos. Enfim, o que queremos é reduzir e garantir com prazos máximos a prestação de serviços que são muito importantes.

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Mas vai ser possível melhorar a saúde simplesmente proibindo as listas de espera? Não é uma questão de recursos?
É de recursos e nós aumentamos os recursos da saúde pública, da dependência, revertemos os cortes do Sistema Nacional de Dependência perpetrados pela administração de Rajoy. Hoje temos os mesmos recursos destinados à economia dos cuidados. Reforçamos também os serviços na Seguridade Social, revalorizamos as pensões… Enfim, reconstruímos todo este aparato debilitado pela direita durante seus anos de governo. O que nos compete agora é melhorar a eficiência na prestação desses serviços públicos. E esse é o compromisso que vamos assumir com esta lei de tempos máximos na prestação de serviços. Por exemplo, que prestações tão importantes como a prestação por desemprego ou as vinculadas ao Sistema Nacional de Dependência possam ser recebidas em um tempo máximo de 30 dias. Não é tanto voltar a aprovar outras 200 leis, e sim consolidar e culminar as leis que aprovamos e as políticas sociais e econômicas que implementamos durante estes últimos quatro anos.

Gostaria que Felipe González defendesse sua candidatura com a mesma força com que o está fazendo o ex-presidente Zapatero?
Como secretário geral do Partido Socialista eu fiz o mesmo que fez José Luis e que fez Felipe González. O Partido Socialista foi – e a meu ver, é –, a grande força política transformadora de nosso país, com nossos acertos e nossos erros. O que quero dizer com isto? Que quando Felipe González chegou à Secretaria Geral do Partido Socialista acusaram-no das mesmas coisas de que acusaram José Luis quando era presidente do Governo ou de que me estão acusando.

O felipismo e o zapaterismo?
Sim, mas não apenas isso. Nos acusavam de comunistas, de radicais, de extremistas… O socialismo democrático é uma força política reformista e isso é o DNA das lideranças e da ação do Governo de Felipe González e de José Luis Rodríguez Zapatero. Eu me sinto muito agradecido e muito honrado de que haja ministros daquela época que reconheçam o trabalho deste governo, também da Executiva federal e da minha como secretário geral do Partido Socialista. E estou profundamente agradecido pelas palavras de apoio e pelo compromisso de José Luis Rodríguez Zapatero. E Felipe González só pode ter meu reconhecimento, meu carinho e meu apreço, que sempre lhe dediquei, tanto privada como publicamente.

Mas lhe parece casual que Felipe González concorde com Feijóo em que há que deixar governar a chapa mais votada?
É que o PP sempre tem este acordo tão inflexível no fim, mas tão flexível na forma. E é que governe sempre o Partido Popular. Pois veja, se você é a segunda força política na Extremadura, homem, como não vai fazer um pacto com o Vox para ser eleito presidente ou presidenta, neste caso, de Extremadura!

Creio que estas não são eleições que representem uma mera disputa entre partidos políticos: aqui está em jogo algo muito mais sério, mais importante, e é se a Espanha avança, se continuamos sendo uma referência de valores, de solidariedade, influente em debates globais como por exemplo a transição ecológica, a mudança climática ou a igualdade entre homens e mulheres. Creio que a Espanha tem a grande responsabilidade e a grande oportunidade de demonstrar a nós mesmos, ao mundo e à Europa, que podemos frear os ultradireitistas e também aqueles que se ultradireitizaram, como o Partido Popular de Feijóo.

Em um país que é referência em transição ecológica, que recebe um montão de dinheiro em investimentos verdes ou que é exemplo em políticas feministas, ver líderes em instituições dizer que as mulheres são mais agressivas que os homens porque não têm pênis? É igualmente responsável o partido político que o propõe e o partido político que com seus votos permite que essa gente esteja à frente de instituições. Deveriam ter vergonha de trocar cargos por princípios, direitos por votos.

Falou-se muito durante estes últimos anos de com quem fiz acordos para conseguir conquistas sociais e esta é a grande diferença. Eu fiz acordos e busquei votos até debaixo das pedras para levar adiante avanços e conquistas sociais que foram bons para o conjunto da população, para gente que nem tinha votado em mim, mas que está de acordo em que o salário mínimo interprofissional suba a 60% do salário médio, que é preciso revalorizar as pensões ou que é preciso aprovar uma lei da eutanásia.

Esta gente [PP y Vox] está combinando proibir as concentrações contra a violência machista, mudando os conselhos de Igualdade por conselhos de Família, como se a igualdade e as famílias fossem conceitos absolutamente antitéticos. Ou, dizendo claramente que são negacionistas climáticos e as primeiras decisões que tomam são, por exemplo, paralisar as obras de ciclovias. Ou chegar ao cúmulo de ver a censura em eventos culturais. Parece-me que há muito em jogo, demasiado, para que em 23 de julho não vamos aos colégios eleitorais e digamos ao PP que assim não e ao Vox, que não, e que digamos, todos, sim ao avanço.

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Diz que está em jogo algo mais que a alternância se governar o PP com o Vox. Acredita que um governo com essas características pode supor um retrocesso democrático, como ocorreu em outros países europeus? Isto é, que a alternância seguinte, se a extrema direita chega a governar, estará em risco.
Estamos vendo isso na Europa. Há gente bem intencionada que pode pensar que por estar na Europa vivemos em um sistema democrático de valores, de respeito, de direitos fundamentais. Mas na Europa, desgraçadamente, estamos vendo retrocessos e recuos muito sérios em países que começaram tirando as bandeiras LGTBI de fachadas dos edifícios públicos e que acabaram identificando o coletivo LGTBI com movimentos proxenetas. Vimos isso e não há 20 ou 30 anos, há muito pouco tempo, em nosso continente europeu.

Há analistas sérios que dizem: 'Bem, mas isto não influi no comportamento eleitoral'. Como se realmente o que estivesse em jogo é o que influi ou não no comportamento eleitoral. O dever de toda força política é impedir este tipo de retrocesso. Não sei se isto dará ou não rendimento eleitoral, mas, vou falar disso durante todos os dias da campanha, desta involução que Feijóo e Abascal representam, deste trailer de filme tenebroso que estamos vendo? Claro que sim, porque é um compromisso político que supera o que eu possa representar como secretário geral do partido e também como presidente do Governo da Espanha. Com tudo o que temos feito durante estes anos, com tudo o que consolidamos durante estes últimos 40 anos, a Espanha não merece ter um governo que, como estamos vendo, esteja pensando em censurar obras de teatro de Lope de Vega.

O medo do Vox funciona como estratégia eleitoral? Sei que é uma questão de princípios, como acaba de dizer, mas não lhe preocupa que isto possa concentrar o voto no PP, como ocorreu nas eleições andaluzas?
Há a ultradireita e há os ultradireitizados, e o PP se ultradireitizou. É assim quando um partido político abre a porta dizendo que o que ocorreu foi um divórcio duro ou que é verdade que existe a violência doméstica ou aceita o enfraquecimento das estruturas de diálogo social, como estamos vendo por exemplo em Castela e Leon. Um partido político que assume, não por ação e sim por omissão, o negacionismo climático ou que põe à frente de instituições pessoas antivacinas é tão responsável como aqueles que propõem estas pessoas. E vou lhe dizer uma coisa, que talvez pareça um pouco apelativa, mas depois de ouvir e ver estas pessoas à frente das instituições, estou convencido de que os votantes do PP e do Vox são muito melhores que seus dirigentes e por isso creio que é importante pedir seu voto, e estou convencido de que vai ser assim, muita gente que não votou no Partido Socialista, mas que não quer esta Espanha de Feijóo e Abascal.

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A defesa de Doñana dá votos ou em alguns âmbitos pode tirá-los? Por que é difícil para a esquerda explicar as políticas sobre o meio ambiente no mundo rural?
Eu nego: penso que o meio rural e os agricultores e agricultoras e pecuaristas são os primeiros a sofrer os efeitos da mudança climática. Há muita gente conscienciosa também em Doñana, gente que tem suas irrigações legais há muito tempo, que está muito preocupada com o desvio da Junta de Andaluzia e este negacionismo climático por ação ou omissão do Vox e do PP. Creio que o que há que mencionar em muitas ocasiões não é tanto o curto prazo, e sim o médio e o longo prazo. E vamos ganhar esta batalha de Doñana, de fato já está ganha do ponto de vista legal.

Mas lhe dou outro exemplo: o do Mar Menor, em Múrcia. Um lugar onde a direita e a extrema direita conseguiram 60% dos votos. Por que a esquerda, em um lugar onde há um exemplo tão evidente das consequências das políticas que não consideram o meio ambiente, não consegue convencer os cidadãos?
Pois bem, será preciso convencê-los e continuar denunciando o que estão fazendo no Mar Menor e será preciso acabar com esses interesses espúrios que evidentemente estão por trás de boa parte do que está acontecendo no Mar Menor. Não sei se dará mais ou menos votos, mas não tenha dúvidas de que eu vou defender o Mar Menor, que vou defender o Parque Nacional de Doñana e que vou fazer da transição ecológica um dos eixos vetores de transformação e de oportunidades para nosso país.

E é compatível lutar contra a crise climática e manter o mesmo estilo de vida e o mesmo nível de consumo que temos hoje?
É evidente que temos que adaptá-lo. A ciência, a inovação nos dão muitas capacidades para poder adaptar-nos a um contexto e a uma realidade climática diferente. Creio que as administrações públicas podem contribuir para esta adaptação, para essa mudança de usos, por exemplo, e em uma questão tão evidente como a mobilidade sustentável, como a utilização de um veículo nada perigoso, pelo menos para a maioria social de nosso país, salvo para o PP e para o Vox, como é a bicicleta. Não sei que ameaça veem na bicicleta para justificar este freio que estão dando na construção de ciclovias em nosso país.

Falemos de emprego. Deu como um fato o pleno emprego e a baixa do desemprego a 8%. É factível? Em que prazo?
Em quatro anos. Se pudermos chegar a esses 8% é porque realizamos uma política econômica que nos permitiu que haja mais dois milhões de afiliados e afiliadas à Seguridade Social nestes últimos quatro anos.

Fiquei bastante surpreso com Feijóo quando disse que ele criaria mais um milhão de empregos. Mas, se criamos dois, por que vamos criar apenas um? Vamos por dois mais, não? E creio que além disso, se continuarmos com esta política econômica, podemos fazer isso. Penso que temos que apostar claramente na formação profissional e temos que continuar reforçando e fortalecendo todo nosso sistema educativo e universitário. A proposta que incluímos em nosso programa eleitoral é que os estudos universitários sejam gratuitos e também a formação profissional superior para aqueles estudantes que passem na primeira. O que também nos remete a um conceito que creio que é muito importante, o da meritocracia: tirar todos estes obstáculos para que se ative o elevador social e que uma pessoa,  independentemente de qual seja seu sobrenome e origem familiar e o tamanho do bolso de seus familiares, possa chegar a desenvolver todo seu potencial e ter todas as oportunidades que merece e demanda.

Considero essa ideia da meritocracia bem entendida e não a que utiliza o Partido Popular com seus múltiplos apelidos, pois creio que é ela que a esquerda tem que defender e é a que nós defendemos. Portanto, em primeiro lugar, a empregabilidade. Em segundo lugar, continuar com todos estes investimentos que estamos fazendo na nova economia e na modernização do tecido produtivo mais tradicional de nosso país. E finalmente, o que temos que fazer é que esse crescimento venha acompanhado de políticas sociais. Uma das grandes lições que acho que se deve tirar destes cinco anos é que a política econômica baseada na coesão social não apenas é mais equitativa, como é mais eficiente. 

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Em seu anterior programa eleitoral propuseram uma profunda reforma fiscal. Há inclusive um Livro branco elaborado por vários especialistas que ficou na gaveta. Por que não foi feita esta reforma?
Vamos ver, digo com ironia, porque então não teríamos justificativa para pedir a reeleição. Não pudemos fazer tudo neste mandato; fizemos 200 leis. Já esquecemos, mas a pandemia fez cair em dez pontos nosso Produto Interno Bruto e creio lembrar que a última vez em termos históricos em que a Espanha sofreu uma queda desse tamanho provavelmente foi na Guerra Civil. Pois mantivemos o emprego, mantivemos a atividade empresarial e mantivemos o impulso econômico de nosso país.

Tivemos que fazer frente ao inimaginável e creio que efetivamente temos que fazer, entre outras, uma reforma fiscal. Mas é certo também que fomos incorporando na justiça fiscal alguns elementos importantes como o imposto sobre as grandes fortunas, o imposto sobre as grandes energéticas e o imposto sobre as grandes entidades financeiras.

Os lucros das empresas aumentaram mais de 20% em 2022 e em geral, ao longo deste mandato, houve mais crescimento dos lucros econômicos do que do poder aquisitivo dos cidadãos, que em muitos casos, diminuiu. Seu governo deveria ter feito mais para frear isso?
Sem dúvida, sempre é pouco e penso que não se pode cair na autocomplacência. Em muitas ocasiões falamos das cifras macro, mas os cidadãos e cidadãs dizem 'bem, mas o que acontece com a cesta básica ou com a fatura da luz?'. Fizemos um enorme esforço. Lembro que um de meus primeiros compromissos, já que começou até antes da guerra, foi garantir que os cidadãos pagassem uma fatura de luz de média semelhante à de 2018. Cumprimos isso mesmo agora e até mesmo em alguns casos é menor graças à solução ibérica que o Partido Popular e o Vox agora querem revogar. Não vão fazer isso porque não vão chegar ao governo, mas…

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Se vocês se mantiverem na Moncloa, manteria a solução ibérica?
Claro, nós o que queremos é uma grande reforma do mercado elétrico na Europa, mas  ‘enquanto isso’,  esta intervenção do mercado cai bem. Mas para responder a sua pergunta, evidentemente creio que a reforma trabalhista nos permitiu voltar a situar no centro, depois de muitos anos, a negociação coletiva. Daí o diálogo social, daí o acordo salarial entre sindicatos e a patronal. Também a subida do salário mínimo interprofissional. Nosso compromisso é incorporar ao Estatuto dos Trabalhadores um salário mínimo que seja 60% do salário médio para que nunca mais haja retrocessos. Outro elemento que incorporamos, muito importante em vista do que você indica, é o Observatório de Margens Empresariais, porque isso vai dar transparência a cada um dos setores e portanto vai se abrir um debate de como distribuímos esta riqueza e este crescimento entre a empresa e os trabalhadores e trabalhadoras. Este é meu compromisso também para o próximo mandato.

Feijóo disse nesta sexta-feira que a Espanha é um “problema do ponto de vista do déficit e da solvência da UE”. É responsável fazer este tipo de comentário para a imagem da Espanha no exterior? Tem a Espanha realmente um problema de dívida, como assegura a direita?
Absolutamente, e aliás aí está a evolução do prêmio de risco. E aí estão os dados e as previsões econômicas, ontem mesmo da AIReF, que nos situa em um nível de crescimento econômico do PIB de quatro vezes a média europeia. A dívida afinal e a capacidade que se tem para poder pagar os juros têm tudo a ver com o crescimento econômico e a Espanha está liderando o crescimento econômico na Europa. Crescemos por dois anos consecutivos mais de 5%: 5,5%. É verdade que nestes anos o senhor Feijóo disse que entrávamos em recessão, não foi? Acho que jogam no ‘quanto pior, melhor’. É um clássico, uma norma na direita espanhola. É verdade que nestes últimos tempos é até mais triste porque não vivemos tempos fáceis, tivemos que enfrentar uma pandemia, a emergência sanitária e posteriormente as consequências sociais, econômicas desta guerra e desta crise humanitária que estamos vendo na Ucrânia.

Quando em plena pandemia fui a Bruxelas pedir uma resposta solidária que nos trouxe 140 bilhões de euros dos fundos europeus, o Partido Popular esteve em Bruxelas precisamente dizendo que não era possível e que impusessem à Espanha deveres e reformas absolutamente draconianas. Posteriormente veio a solução ibérica e fizeram mais do mesmo, defendendo os interesses das grandes corporações energéticas. Depois foram a Bruxelas quando a Espanha tinha acertado a reforma das pensões para dizer que eles se opunham a esta reforma das pensões, que definitivamente o que fazia era instaurar a revalorização das pensões por lei e reconstruir o Pacto de Toledo. E eles foram a Bruxelas dizer que não, portanto eu não esperava uma declaração positiva sobre a Espanha. 

A Espanha vai terminar este ano como a principal economia europeia, com o déficit mais baixo, se nos compararmos com a França, com a Alemanha. Estamos reduzindo a dívida pública e é preciso lembrar porque aumentamos a dívida pública, que foi, entre outras coisas, para os ERTES, para os [créditos] ICO, para os avais e as ajudas diretas aos trabalhadores autônomos… E, sim, houve uma coisa que efetivamente tivemos que incorporar à dívida pública, que foram os 30.000 milhões de euros do resgate financeiro e da Sareb que tivemos que incorporar. E isso vem da anterior administração, a do Partido Popular. E uma última coisa: vindo essa crítica de um dirigente que durante 14 anos na Xunta de Galicia o que fez foi triplicar a dívida pública, me parece que tem a credibilidade que tem…

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Pode-se fazer políticas feministas sem incomodar alguns homens? Não é como dizer que se pode fazer políticas de defesa dos trabalhadores sem incomodar a patronal?
Eu nunca disse isso.

Mas disse que havia alguns homens em torno…
Não expressei isso nunca nesses termos e é bom também dizer as coisas como foram e como foram ditas. O que eu disse foi que o machismo diz que o feminismo vai contra os homens. O machismo diz isso. E eu digo que não, que o feminismo, pelo contrário, é uma causa que nos provoca a todos, fundamentalmente as mulheres e os homens que acreditamos em uma causa que entra em cheio nos direitos humanos, como é a igualdade real e efetiva entre homens e mulheres. E, efetivamente, contra o machismo temos que lutar todos. O que eu sempre defendi e sempre pratiquei são políticas transversais em favor da igualdade real e efetiva entre homens e mulheres e discursos amplos, que integrem. Isso é o que reivindico.

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Mas em uma recente entrevista assegurou que as políticas do Ministério da Igualdade tinham levado alguns homens a se incomodarem com o feminismo.
Não, o que digo é o seguinte; insisto uma vez mais, o feminismo é uma causa que nos provoca a todos: as mulheres lideram, nós, os homens, caminhamos junto com elas, mas temos que fazer discursos amplos. E há muitos homens, assim como há muitas mulheres, a maioria, que estamos a favor destes avanços e destas reformas e destas conquistas em favor da igualdade real efetiva entre homens e mulheres. Este governo fez uma política feminista notável. Destacada, diria eu. Quando falamos do salário mínimo interprofissional é que 60% são beneficiárias, são mulheres. Quando há uma reforma trabalhista que estabiliza a contratação, estamos falando de mulheres fundamentalmente, também de jovens. Ou quando estamos falando da revalorização das pensões, também são mulheres aposentadas. E quando falamos do Pacto de Estado contra a violência de gênero, do que estamos falando? Ora, de passar de 80 milhões a 320 milhões de euros.

Mas além de tudo isso, creio que o importante é não esquecer o que temos pela frente e é que há gente que está questionando a igualdade real e efetiva entre homens e mulheres. Questionam de maneira indireta quando dizem 'não, isto de cotas e de paridade é um invenção que vai contra a meritocracia', como se ver homens todos alinhados em uma foto significasse que se não há mulheres é porque não mereceram. Ou quando dizem que é preciso tirar o gênero da qualificação de violência. A ameaça é tão real e é tão firme que acho que vale a pena fazer esses discursos amplos. E eu, claro, vou fazer isso. Fiz desde que sou secretário geral do Partido Socialista, desde que tenho a honra de ser presidente do Governo e, claro, continuarei fazendo durante os próximos quatro anos.

Uma recente sentença do Tribunal Constitucional que condena a Administração de Múrcia voltou a por sobre a mesa que há províncias e autonomias onde o direito ao aborto não é cumprido. Por que seu governo não foi capaz de solucionar este problema mesmo em autonomias onde o PSOE governa? Onde está o empecilho?
Acredito que temos que investir todos os recursos e toda a vontade política para garantir um direito que é reconhecido por lei. E, sem dúvida, este será um compromisso que continuarei assumindo nos próximos quatro anos.

O senhor reconheceu o que houve com a lei do ‘sim é sim’ como um de seus principais erros deste mandato. Por que ocorreu? O que aconteceu com a elaboração desta lei para que ninguém do Governo percebesse esse rebaixamento indesejado de penas para violadores?
A lei do ‘sim é sim’ é uma boa lei. É um avanço feminista que é preciso reconhecer e que as esquerdas devem reconhecer. E eu assim o faço. É uma lei que propõe uma resposta a uma realidade de que sofrem muitas mulheres em nosso país. No ano passado, por exemplo, houve 3.600 condenações com pena de prisão por agressões sexuais. Em nosso país as agressões sexuais existem, ocorrem, é preciso dar-lhes visibilidade e investir recursos, meios e atenção para preveni-las e também para proteger e atender as mulheres vítimas destas agressões sexuais. Isto é o que faz a lei do sim é sim. Dá recursos econômicos, propõe alterações da jornada de trabalho e também da prestação por desemprego a vítimas das agressões sexuais; propõe recursos e atendimento especializado psicológico para as vítimas de agressões sexuais e acho que é uma boa lei. É um avanço na igualdade real e efetiva entre homens e mulheres, pioneira em muitos âmbitos. A partir daí, houve um efeito não desejado de um erro no Código Penal, sem dúvida alguma. E eu assumi essa responsabilidade na primeira pessoa. Pedi perdão às vítimas das agressões sexuais e pus em cima da mesa uma resposta que encerrou, digamos, esta situação indesejada. Você me pergunta pelo tempo. Eu tentei persuadir meus parceiros de governo, neste caso a ministra da Igualdade, que tínhamos que tomar uma decisão de maneira urgente e rápida. Desgraçadamente não consegui avançar com esta reforma do Código Penal com a ministra Irene Montero, mas esta reforma do Código Penal foi aprovada e creio que foi a melhor maneira de defender, insisto, uma boa lei. Porque é uma boa lei.

Foi suficientemente explicada a mudança de posição sobre o Saara? O que oferece à Espanha o Marrocos pela mudança?
São dois elementos, duas perguntas que me faz. A primeira sobre o Saara Ocidental. O que está fazendo o Governo da Espanha é propor uma das opções que é reconhecida nas resoluções do Conselho de Segurança das Nações Unidas, que também está sendo seguida pelos principais aliados da Espanha. Não estamos falando só dos Estados Unidos, mas também das principais nações europeias: França, Alemanha e outras tantas. E, em segundo lugar, não nos esqueçamos nunca: a solução tem que dar-se no marco das Nações Unidas e tem que ser aceita pelas partes implicadas no conflito.

Quanto ao Marrocos. Creio que é um país com o qual temos relações que transcendem, digamos, aquelas vinculadas à proximidade geográfica. O Marrocos, para a economia espanhola, para muitas empresas de nosso país, representa a porta de entrada no continente africano. Temos relações e uma concentração de investimentos e de relações comerciais com o Marrocos que não temos com nenhum outro país africano.

E além disso temos que colaborar com eles para fazer frente ao desafio do terrorismo, da segurança e logicamente, o controle dos fluxos migratórios irregulares. E penso que os dados estão aí: o aumento nas relações comerciais e os investimentos no Marrocos aumentaram significativamente, assim como está ocorrendo durante estes últimos anos a redução dos fluxos de imigração irregular. O esforço de colaboração e cooperação entre o Marrocos e a Espanha está dando seus frutos, porque não só estamos reduzindo esta migração irregular, como também estamos salvando vidas.

Mas não houve muitas guinadas em sua política migratória? O senhor inaugurou o mandato com o oferecimento do Aquarius e durante seu mandato houve devoluções de menores e também uma crise como a que custou a vida a cerca de trinta pessoas em Melilla.
Creio que se homologam situações que são muito diferentes, todas dramáticas, mas muito diferentes. Veja, vou lhe dar alguns dados acerca deste assunto. Nestes últimos quatro anos uma empresa pública que outros países europeus não têm, mas a Espanha sim, que é a  Sasemar, salvou a vida de quase 150.000 seres humanos.

Desde que chegamos ao Governo da Espanha fizemos modificações no Regulamento de Estrangeiros para reconhecer direitos e tirar da exclusão social os menores estrangeiros não acompanhados que foram estigmatizados pela direita e pela ultradireita e que hoje têm direitos e podem trabalhar. E não estamos falando de uma cifra pequena, estamos falando de cerca de 8.000, 12.000 jovens em nosso país. Este governo, quando cheguei à presidência, aumentou a equipe do Escritório de Atenção a Refugiados e as petições de asilo. Este governo é o quinto país da União Europeia que mais refugiados ucranianos está acolhendo. Este Governo pôs em pé o centro logístico europeu para poder acolher e fazer o trânsito de todos aqueles refugiados afegãos e sobretudo afegãs que fugiam da tomada de Cabul pelos talibãs. 

Sofremos situações muito duras, muito complexas, muito difíceis, que foram dramas humanos que, claro, nós condenamos. Mas isso não implica em que o Governo não tenha sido coerente em sua política migratória.

A entrevista completa de Pedro Sánchez:

Ignacio Escolar | El Diario.es
Vídeo: Nando Ochando, Clara Rodríguez y Mario Iranzo
Tradução: Ana Corbisier


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