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Foto: Facebook de Cubana de Aviación

Sanções contra aviões de Cuba: extrema-direita internacional manda, Argentina obedece

Ação integra plano “em defesa do livre mercado" e contra "ameaça do socialismo do século 21"; entenda
Stella Calloni
TIEMPO ARGENTINO
Buenos Aires

Tradução:

Carolina Ferreira

A decisão da Argentina de não permitir o fornecimento de combustível aos aviões da Cubana de Aviación, que cobrem o trajeto Buenos Aires-Havana, coincide, neste momento, com duas reuniões importantes das direitas argentina e internacional: os encontros da Fundación Libertad, vinculado aos grupos de mães dos Estados Unidos na região, e o seminário desenvolvido na Universidad del Centro de Estudios Macroeconómicos (UCEMA), uma ONG instalada na Argentina que agora estabeleceu um objetivo principal que é Cuba.

O programa da UCEMA é realizado, de acordo com o seu convite, “em defesa do livre mercado e da ameaça do socialismo do século 21” para gerar “consciência na opinião pública e nos atores do sistema político”. Haverá uma discussão sobre “hegemonia cultural dominante no hemisfério”, entendendo que, por trás disso, “está a experiente e poderosa influência do eixo Cuba-Foro de São Paulo-Grupo Puebla que opera no desenvolvimento de correntes políticas de caráter anti-democrático”.

Para enfrentar esta situação, propõe-se “mostrar redes e conexões entre regimes autocráticos e totalitários na América Latina com outras partes do mundo” e mencionar como, por trás de Cuba, “estão a Rússia, a China e o Irã por diferentes razões, principalmente para alcançar os seus próprios objetivos estratégicos”.

Além disso, a proposta é “promover o diálogo em torno de eixos temáticos centrais, para compreender um processo que, muitas vezes, é subestimado, mas que, sem dúvida, tem um impacto enorme na região e nos arredores”.

Entre os palestrantes está Alberto Benegas Lynch, uma das figuras centrais dos planos econômicos do presidente de extrema-direita, Javier Milei, e de seu partido ainda em construção, La Libertad Avanza.

Neste contexto, Cuba aparece não apenas como um exemplo ou símbolo de um povo heroico, que chamou a atenção do mundo por meio do triunfo revolucionário, em 1959, mas cuja resistência assombra a humanidade até os dias de hoje. Conta, inclusive, com o apoio da maioria dos países contra o apoio genocida imposto pelos Estados Unidos.

Nos últimos meses, novos planos e operações contra Cuba foram descobertos e denunciados pelo governo do presidente Miguel Díaz Canel (2019-). Atribui-se uma dimensão apocalíptica a um país que é uma Ilha do Caribe, o único independente da América Latina desde 1959, com seus 11 milhões de habitantes e seu território limitado. Suportou, e ainda suporta, não apenas esse bloqueio criminoso, mas todo tipo de ações terroristas há mais de um século. Também fica a apenas 145 quilômetros da costa dos Estados Unidos, a maior potência imperial do mundo.

Várias organizações e instituições reagiram a esta nova e gravíssima decisão tomada pelo presidente Milei, sob a evidente assessoria ou ordens de Israel, Estados Unidos e Grã-Bretanha. O próprio presidente declarou na sua campanha eleitoral que pertencia à Freedom and Progress Foundation e que era financiado por Israel e pelos Estados Unidos. 

Agora a Venezuela também está na mira, visto que, nas últimas horas, foi identificada como centro das operações do Irã no continente. Tudo isso desafia milhões de argentinos que saem às ruas, nas maiores manifestações que ocorreram no país contra as medidas tomadas pelo governo.

Um povo oprimido pela fome, pela anulação de todos os seus direitos e que se encontra em estado de rebelião, neste caso protegido pelas leis constitucionais, que se resumem no direito de se defender quando a sua vontade democrática for traída e violada, o que é o que está acontecendo neste momento.


As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul do Global.
Stella Calloni Atuou como correspondente de guerra em países da América Central e África do Norte. Já entrevistou diferentes chefes de Estado, como Fidel Castro, Hugo Chávez, Evo Morales, Luiz Inácio Lula da Silva, Rafael Correa, Daniel Ortega, Salvador Allende, etc.

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