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Sarcasmo? Após minimizar pandemia, Trump tem colocado população dos EUA em risco

Como comentou um médico em resposta: “Trump tem toda a razão; o cloro mata o vírus. O problema é que também mata o paciente”
David Brooks
La Jornada
Nova York

Tradução:

Não há outra conclusão possível. Logo Trump será o primeiro mandatário a presidir mais mortes estadunidenses que o total que pereceu na guerra do Vietnã (58 mil), com mais de 54 mil até agora, a maioria das quais eram preveníveis. De fato, ele declarou que sua resposta ao “inimigo invisível” é “uma guerra”. 

Não é um furacão, ou um tsunami, ou um sismo, as dimensões desta catástrofe não podem ser atribuídas a “forças maiores” nem a “forças divinas”, mas sim ao manejo inepto, irresponsável e francamente criminoso pelos encarregados de governar este país. Embora o terreno para a crise tenha sido cultivado por políticas neoliberais dos dois partidos durante décadas, o presidente é o responsável pelas dimensões dos efeitos dessa crise que estamos testemunhando. 

Mas, aparentemente não satisfeito com o saldo crescente da Covid-19, e o fato de que alguns dos que vivemos nos Estados Unidos seguimos vivinhos e requebrando, Trump nos convidou a nos auto envenenar. Sugeriu o consumo de desinfetantes industriais, injeções de cloro para curar-nos do vírus em sua entrevista coletiva de quinta-feira. Como comentou um médico em resposta: “Trump tem toda a razão; o cloro mata o vírus. O problema é que também mata o paciente”.

O Centro de Controle de Enfermidades, departamentos de saúde estaduais e municipais, juntamente com os fabricantes de desinfetantes à base de cloro foram obrigados a transmitir alertas declarando que ingerir tais coisas era perigoso.

Como comentou um médico em resposta: “Trump tem toda a razão; o cloro mata o vírus. O problema é que também mata o paciente”

La Revista
“Maria Antonieta: que comam brioches. Donald Trump: que se injetem cloro”

Seu opositor democrata Joe Biden enviou um tuíte declarando “não posso acreditar que seja necessário dizer isto, mas, por favor, não bebam cloro”. O colunista do Washington Post, David Von Drehle, resumiu a assim a mensagem presidencial: “Maria Antonieta: que comam brioches. Donald Trump: que se injetem cloro”. Pouco depois, vários centros e agências de saúde pública estaduais e municipais reportaram um incremento em casos de envenenamento ou queimaduras em pessoas que acreditaram no presidente, reportaram vários meios de comunicação em Maryland, Nova York e Chicago, entre outros. 

Foi tão intensa a reação que Trump se viu obrigado a fugir de suas declarações e na sexta-feira argumentou que tinha sido um comentário “sarcástico” só para provocar a mídia. No meio de uma pandemia com mais de 50 mil mortos, o presidente decidiu fazer piada? Pouco depois tuitou que talvez já não fizesse coletivas diárias porque “não valem a pena” já que os meios distorcem tudo o que diz. Mas parece que seus estrategistas temem que suas expressões de “gênio estável” não ajudem sua reeleição nesta conjuntura. 

Por outro lado, se as pessoas não morrem de vírus, podem morrer também lentamente por desemprego e fome. Alguns economistas calculam que a taxa de desemprego real está entre 20 e 45 por cento – ou seja, é possível que quase a metade da força de trabalho esteja sem emprego, muito acima do pior momento da Grande Depressão. Isto é acompanhado por um incremento de milhões de pessoas – sobretudo crianças – que não têm acesso a alimento suficiente.  

Nem todos estão na linha de fogo desta crise, alguns estão passando a quarentena em lugares de luxo como Los Hampton ou em seus iates. De fato, entre 18 de março e 10 de abril, enquanto 22 milhões de estadunidenses perderam seus empregos, a riqueza dos multimilionários nos Estados Unidos incrementou-se em 282 bilhões de dólares, um lucro de 10%, reporta um novo informe do Institute of Policy Studies

Enquanto isso, os imigrantes estão entre os mais afetados aqui pela pandemia, em grande parte por causa das medidas anti-imigrantes deste governo. E para os que pensavam que estavam mais seguros porque viviam fora deste país, o mais contagiado do mundo, Trump tem estado exportando vírus a vários pontos do planeta ao deportar imigrantes que estavam encarcerados em centros de detenção contagiados sem antes fazer testes para diagnosticá-los. 

A grande pergunta diante disso é: vamos deixar?

Assista também o vídeo:

David Brooks, correspondente de La Jornada em Nova York

La Jornada, especial para Diálogos do Sul — Direitos reservados.

Tradução: Beatriz Cannabrava


As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul

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As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul do Global.

David Brooks Correspondente do La Jornada nos EUA desde 1992, é autor de vários trabalhos acadêmicos e em 1988 fundou o Programa Diálogos México-EUA, que promoveu um intercâmbio bilateral entre setores sociais nacionais desses países sobre integração econômica. Foi também pesquisador sênior e membro fundador do Centro Latino-americano de Estudos Estratégicos (CLEE), na Cidade do México.

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