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Se quisessem, EUA e China inclinariam a balança climática

Revista Diálogos do Sul

Tradução:

Stephen Leahy*

Fábrica de cimento Saint Mary’s, em Dixon, Estados Unidos. A indústria do aço da China é muito menos eficiente do que a norte-americana, ao contrário do que ocorre com a produção de cimento. Foto: Wayne Wilkinson/ CC BY 2.0 
Fábrica de cimento Saint Mary’s, em Dixon, Estados Unidos. A indústria do aço da China é muito menos eficiente do que a norte-americana, ao contrário do que ocorre com a produção de cimento. Foto: Wayne Wilkinson/ CC BY 2.0

China e Estados Unidos são responsáveis por 35% das emissões mundiais de dióxido de carbono (CO2), mas se adotassem melhores práticas de eficiência energética poderiam ajudar a limitar o aumento da temperatura mundial em cerca de dois graus, segundo um novo estudo. Embora o uso de energia tenha disparado na China nos últimos 20 anos, o norte-americano médio consome quatro vezes mais eletricidade do que o chinês.

Mas quando se trata da eficiência energética, a indústria do aço chinesa é muito menos eficiente do que a norte-americana, ao contrário do que ocorre com a produção de cimento, segundo uma nova análise da organização Climate Action Tracker sobre o uso e a economia potencial de energia na produção de eletricidade, no setor industrial, nos edifícios e no transporte nos dois países.

Se China e Estados Unidos adotassem as melhores práticas de eficiência utilizadas no mundo, “ambos estariam no caminho correto para manter o aquecimento global abaixo dos dois graus”, afirmou Bill Hare, cientista do clima da organização alemã Climate Analytics. Os dois países devem “reduzir drasticamente” o uso de carvão, apontou.

Neste momento, nenhum dos dois lidera em nenhum setor a mitigação da mudança climática, segundo a análise. A Climate Action Tracker é uma colaboração entre a Climate Analytics, a Ecofys e o Instituto de Potsdam para a Pesquisa sobre o Impacto Climático. “Nos fixamos em qual seria o rendimento dos Estados Unidos e da China se adotassem uma das duas melhores práticas na produção de eletricidade, no setor industrial, nos edifícios e no transporte. Descobrimos que isto, por si só, os colocaria em um rumo melhor”, explicou Niklas Hohne, da Ecofys.

Uma das razões de os Estados Unidos terem um uso de energia por habitante 400% maior é que o espaço residencial dos norte-americanos duplica o da China, enquanto os edifícios chineses geralmente consomem muito menos energia. “Os prédios da China não são os mais eficientes, mas, no geral, são mais novos e utilizam menos ar-condicionado e calefação do que nos Estados Unidos”, pontuou Hohne.

Mas, segundo o estudo, o consumo energético no setor industrial chinês está aumentando significativamente. Se os dois países adotassem o padrão da União Europeia (UE), haveria enormes reduções. Outra razão de peso do maior uso de energia nos Estados Unidos é que a propriedade de automóveis é dez vezes maior do que na China. Além disso, esta tem menos emissões por veículos devido às suas leis, um pouco mais rígidas. Novamente, se ambos adotassem as melhores práticas mundiais, como o aumento, na Noruega, da cota de carros elétricos, poderia haver uma diferença importante.

China e Estados Unidos são muito diferentes, mas poderiam aprender um com o outro, opinou Michiel Schaeffer, da Climate Analytics. Poderiam ocupar uma posição de autêntica liderança se adotassem as melhores práticas do mundo, acrescentou. “No momento não estão liderando” neste campo, ressaltou. O tempo não está do lado de ninguém. As emissões mundiais de carbono continuam aumentando ano a ano e, se não chegarem a um máximo e começarem a baixar nos próximos dois ou três anos, será extremamente difícil e caro impedir que a temperatura do planeta aumente acima dos dois graus.

As temperaturas subiram 0,085 grau até o momento, o que está ligado a milhares de milhões de dólares em danos e a fenômenos meteorológicos extremos que afetam dezenas de milhões de pessoas, com vem informando a IPS.

Se China e Estados Unidos adotassem as melhores práticas mundiais no uso de energia, até 2020 as emissões norte-americanas cairiam 18% abaixo do nível de 2005, cerca de 5% menos do que os níveis de 1990. As da China alcançariam seu ponto máximo no começo da próxima década. Isso fecharia a brecha das emissões em quase 25%. A brecha de emissões é a quantidade de reduções de carbono, além dos atuais compromissos, necessárias antes de 2020 para o aquecimento permanecer abaixo dos dois graus.

A UE é claramente líder mundial na redução das emissões que afetam o clima, com mais de 20% até 2020, em comparação com 1990. Este mês o bloco europeu se comprometeu a reduzi-las em pelos menos 40% até 2030.

Outra análise da Climate Action Tracker, de junho deste ano, dizia que os Estados Unidos e outras economias avançadas, conhecidas como os países do Anexo I dos tratados climáticos da Organização das Nações Unidas (ONU), deverão reduzir seus orçamentos de carbono entre 35% e 55% até 2030, para deixarem de usar combustíveis fósseis em 2050, aproximadamente.

Essas datas podem parecer distantes, mas a realidade é que não se poderá construir infraestruturas que consumam carbono, como casas, veículos, centrais elétricas, fábricas e outros, depois de 2018. As únicas exceções seriam para substituição da infraestrutura existente, segundo recente estudo do que se chama os compromissos de carbono. A construção de uma casa com calefação a gás hoje em dia implicará que emitirá CO2 este ano e ficará comprometida ao uso de mais CO2 a cada ano que se utilizar.

Se o crescimento econômico se mantiver como agora, a nova infraestrutura planejada e construída nos próximos cinco anos comprometerá o mundo ao emitir CO2 suficiente para superar o quantidade máxima CO2 que pode ser emitida para se permanecer abaixo dos dois graus. Depois de 2018, a única opção será o fechamento das usinas de energia e outros grandes emissores antes da conclusão de sua vida útil.

Todo plano ou estratégia para reduzir as emissões de CO2 tem que dar mais prioridade aos investimentos em infraestrutura. Neste momento as estatísticas revelam “que estamos utilizando mais combustíveis fósseis do que nunca”, destacou Robert Socolow, da Universidade de Princeton, nos Estados Unidos, e coautor do estudo. “Escondemos de nós mesmos o que está acontecendo: os investimentos de capital no mundo estão assegurando um futuro de alto consumo em carbono”, advertiu.

 

*IPS de Boon, Alemanha para Diálogos do Sul – Editado por Kitty Stapp – traduzido do ingles por Álvaro Queiruga

 


As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul do Global.

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