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Seca: na Amazônia, é como se 4 cidades de São Paulo estivessem derrubadas e à espera do fogo para queimar

A queimada de áreas recém-derrubadas pode facilmente escapar para florestas vizinhas, transformando-se em incêndio florestal. Isso é especialmente verdadeiro em anos mais secos do que o normal.
Redação Ecodebate
Ecodebate
Rio de Janeiro (RJ)

Tradução:

Há quase 5 mil quilômetros quadrados de área, quase quatro vezes o município de São Paulo, com vegetação derrubada e seca só esperando alguém chegar com o fogo.

A estação seca de 2021 na Amazônia traz uma sobreposição de fatores que podem levar a um aumento na incidência do fogo. 

Uma nova análise feita por pesquisadores do IPAM (Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia) e do Woodwell Climate Research Center mostra que a soma de áreas desmatadas e ainda não queimadas desde 2019 mais uma seca intensa provocada pelo fenômeno La Niña exigem atenção especial neste ano, especialmente na porção sul da região.

Há quase 5 mil quilômetros quadrados de área, quase quatro vezes o município de São Paulo, com vegetação derrubada e seca só esperando alguém chegar com o fogo. A queimada, nesse caso, é a última etapa do desmatamento, a forma mais barata e rápida de limpar o terreno para seu uso posterior. Mais de um terço dessa área está concentrado em dez municípios no Amazonas, Mato Grosso, Pará e Rondônia.

“Saber que existe essa quantidade de combustível esperando para queimar já seria suficiente para determinar ações em campo que coíbam a prática”, afirma o pesquisador sênior do IPAM Paulo Moutinho. O governo publicou uma nova moratória de fogo em todo o país. 

Mesma atitude foi tomada no ano passado, mas com zero efeito prático: houve 15% mais focos na Amazônia em 2020 do que em 2019, segundo dados do INPE. “Se não há atuação forte de controle do desmatamento e do fósforo em campo, a tendência é que a moratória fique no papel.”

A queimada de áreas recém-derrubadas pode facilmente escapar para florestas vizinhas, transformando-se em incêndio florestal. Isso é especialmente verdadeiro em anos mais secos do que o normal.

Bruno Kelly/Amazônia Real
Queimada vista em meio à área de floresta próximo à capital Porto Velho, Rondônia

Uma queimada de áreas recém-derrubadas pode facilmente escapar para florestas vizinhas, transformando-se em incêndio florestal. Isso é especialmente verdadeiro em anos mais secos do que o normal.

O fenômeno La Niña, o resfriamento de águas superficiais do Pacífico, costuma intensificar a seca em algumas regiões na Amazônia, aumentando o risco. 

“Os efeitos de La Niña não são tão intensos e abrangentes quanto os de El Niño, quando historicamente acontecem os grandes picos de fogo na Amazônia. Mas é um momento de alerta”, explica Moutinho. 

Municípios no sul e no centro da Amazônia apresentam risco extremamente alto, particularmente o noroeste de Mato Grosso, a maior parte de Rondônia, o leste do Acre e um longo trecho da rodovia Transamazônica, entre o Pará e outros estados mais a sul. 

Os dez municípios que experimentam condições secas ou de extrema seca têm 283 km2 de áreas desmatadas e não queimadas. Esses municípios também possuem grandes trechos de florestas remanescentes que podem ser atingidas por incêndios sem controle.

Entre os municípios com mais combustível pronto para queimar, somente um, Lábrea (AM), também está na rota da seca mais intensa em 2021. Ele também faz parte da lista de 26 municípios que receberão as Forças Armadas neste ano, determinado em nova GLO (Garantia de Lei e Ordem) — mas nenhum dos outros nove mais secos do ano estão na mira do governo como prioridade. 

“É preciso combater a queimada toda a Amazônia, assim como o desmatamento, que é a origem de um terço do fogo que vimos nos últimos dois anos na região. Vamos lembrar que toda queimada na Amazônia começa com o homem; é essa ação que devemos controlar”, diz o pesquisador. 

O diretor-executivo do IPAM, André Guimarães, lembra que análises desse tipo ajudam na melhor gestão de recursos, financeiros e humanos, na hora de enviar equipes de fiscalização para o campo. “A nova GLO, por exemplo, determina 26 municípios prioritários em cima dos dados do passado, em vez de incorporar tendências do presente”, diz. 

“Boa ciência deveria ser a base para a tomada de decisão, e hoje existem meios para que isso aconteça.” Fonte: Cristina Amorim, Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM)


As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul

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