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Segurança da Europa, já deteriorada, pode piorar se Otan admitir Ucrânia, adverte Rússia

Presidente russo avaliou o desempenho do grupo Wagner no front durante a operação militar especial e também da rebelião
Juan Pablo Duch
La Jornada
Moscou

Tradução:

O Kremlin, através do seu porta-voz, Dmitry Peskov, confirmou nesta segunda-feira (10) que o presidente Vladimir Putin se reuniu há dias com Yevgueni Prigozhin, após o motim do grupo de mercenários Wagner. 

O diário francês Libération, baseando-se em fontes anônimas de inteligência ocidental, deu a conhecer que Putin e Prigozhin haviam se reunido em Moscou em 1º de julho, sem dar detalhes.

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Segundo Peskov, o encontro teve lugar em 29 de junho, isto é, cinco dias depois da falida rebelião dos Wagner e que durou cerca de três horas. Nela, além de Prigozhin, participaram todos os comandantes dos distintos grupos de assalto do maior escalão do grupo de mercenários, em um total de 35 pessoas. 

“O presidente fez uma avaliação do desempenho do grupo Wagner no front durante a operação militar especial e também dos acontecimentos de 24 de junho (quando se rebelaram). (O presidente) Putin escutou os comandantes e lhes propôs distintas formas de contratação para continuar seu serviço militar (antes havia dito que suas opções eram incorporar-se ao exército mediante a assinatura de contratos com o ministério da Defesa, irem para casa como civis ou exilar-se na Bielorrússia). 

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De acordo com o porta-voz do Kremlin, “os comandantes expuseram sua versão do ocorrido e sublinharam que são seguidores e soldados do chefe de Estado e do comandante-chefe (Putin), e também disseram que estão dispostos a seguir combatendo pela pátria”. 

E para não aprofundar no tema, agregou: “isto é tudo o que posso dizer sobre essa reunião”.

Presidente russo avaliou o desempenho do grupo Wagner no front durante a operação militar especial e também da rebelião

Kremlin
O porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov

Outras reuniões

Peskov não quis confirmar nem desmentir outras informações que circulam como rumor nas redes sociais russas, por exemplo, que Prigozhin reuniu-se também com Aleksandr Bortnikov, diretor do Serviço Federal de Segurança (FSB na sigla em russo), Viktor Zolotov, comandante da Guarda Nacional, e Serguei Naryzhkin, diretor do SVR (sigla em russo do Serviço de Inteligência Exterior). 

Tal qual peças de um complexo quebra-cabeças, pode-se ir colocando alguns episódios ligados a Prigozhin que pareciam inverossímeis. Agora, para dar um exemplo, já se dá como fato o que começou como uma suposta filiação e que, depois desse encontro com Putin, tudo aponta que o FSB recebeu instruções de devolver a Prigozhin os 10 bilhões de rublos em efetivo que coletaram em uma das residências do magnata e que seu motorista passou a recolher com uma carta poder e várias caminhonetes com guardas armados. 

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Atando cabos, não é descabelado supor que esse dinheiro não era de Prigozhin (diferentemente das centenas de milhares de dólares e os lingotes de ouro, mostrados pela televisão pública), senão que o recebeu do Estado para pagar o salário dos mercenários e as compensações aos familiares de combatentes mortos. Só assim poderia se entender a notícia dada a conhecer inicialmente, sem explicar o motivo, pelo portal de notícias Fontanka, de São Petersburgo.

Mercenários no exército ucraniano

No mesmo dia em que Peskov confirmou a reunião de Putin com Prigozhin e os comandantes dos mercenários do grupo Wagner, o ministério da Defesa russo emitiu um comunicado no qual assegura que, desde que começou a guerra, em 24 de fevereiro de 2022, “no total chegaram à Ucrânia para participar das ações bélicas do lado de seu exército, oficialmente, 11.675 mercenários de 84 países”.

Segundo a dependência castrense russa, a maior parte dos combatentes estrangeiros chegaram procedentes de Polônia, Estados Unidos, Canadá, Geórgia, Grã Bretanha, Romênia, França, Croácia e das zonas sírias sob controle da Turquia (em ordem decrescente).

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“No contexto do fracasso da nova onda de mobilizações na Ucrânia, e a fim de ocultar as baixas catastróficas de efetivos de seu exército, o regime de Kiev incrementou o recrutamento de mercenários em países da Ásia, América Latina Médio Oriente”, sustentam os militares russos. 

Afirmam que, durante o passado mês de junho, “começou o recrutamento de mercenários na Argentina, Brasil, Afeganistão, Iraque e nos territórios sírios sob controle dos Estados Unidos”. 

Por que armas de fragmentação enviadas pelos EUA à Ucrânia são proibidas por 123 países?

O ministério da Defesa russo assevera que, até 30 de junho, “morreram em combate 4.845 mercenários estrangeiros e outros 4.801 escaparam da Ucrânia, desiludidos com o tratamento dado pelo regime de Kiev”. 

Estima-se que neste momento “2.029 mercenários continuam servindo no exército ucraniano”.

O Kremlin, contra o ingresso da Ucrânia na Otan

Na véspera do cúpula da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), celebrada em 11 e 12 de julho em Vilna, capital da Lituânia, a Rússia reiterou que o eventual ingresso da Ucrânia na aliança é “uma ameaça” que vai requerer “uma resposta compreensiva e firme”. 

O porta-voz do Kremlin, Dimitri Peskov, recordou que a Rússia se opõe ao ingresso da Ucrânia na Otan: “Todos conhecem a posição absolutamente compreensível e consequente da Rússia de que a membresia da Ucrânia no Otan requererá de nós uma resposta suficientemente compreensível e firme”. 

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Para Peskov, “o regime de Kiev tenta pressionar de diversas maneiras a todos os participantes da cúpula para conseguir que o maior número de membros expressem sua solidariedade com a intenção de a Ucrânia de ser admitida na aliança”. 

O porta-voz da presidência russa é consciente de que não é assunto decidido e que nestes momentos “se levam a cabo discussões bastante intensas entre os países membros à (eventual) incorporação da Ucrânia, mas – advertiu – que, se isso se concretizar, haverá “consequências extremamente graves para toda a arquitetura de segurança na Europa, por si só já deteriorada”.

Juan Pablo Duch | La Jornada, especial para Diálogos do Sul – Direitos reservados.
Tradução: Beatriz Cannabrava


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Juan Pablo Duch Correspondente do La Jornada em Moscou.

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