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Sem debates e oportunamente, TV brasileira foge de suas responsabilidades nas eleições

Argumento das emissoras de que não é possível garantir protocolos de prevenção ao novo coronavírus é contraditório
Wagner de Alcântara Aragão
Revista Intertelas
Rio Grande do Sul

Tradução:

Não é só a pandemia que impõe restrições ao processo eleitoral. A televisão brasileira está tornando ainda mais difícil ao cidadão conhecer candidaturas e propostas, para que possamos ir às urnas em 15 de novembro mais cientes do que vamos fazer. É inexplicável e inaceitável a recusa das emissoras em promover debates entre candidatos às Prefeituras.

É uma usurpação do nosso direito de vermos os postulantes frente a frente, sem texto para ler, sem cortes e edição, ao vivo, defendendo suas ideias ou expondo suas contradições. Sim, é verdade que boa parte das fórmulas tem deixado esses debates engessados. Mesmo assim, esses encontros são fundamentais para o processo eleitoral.

Argumento das emissoras de que não é possível garantir protocolos de prevenção ao novo coronavírus é contraditório

Wikimedia Commons
É inexplicável e inaceitável a recusa das emissoras em promover debates entre candidatos às Prefeituras.

O argumento de que não é possível garantir protocolos de prevenção ao novo coronavírus é contraditório. Afinal, essas mesmas emissoras já retomaram alguns de seus programas que reúnem tanta ou até mais gente que um debate entre candidatos. Se não dá para fazer debate, não dá para voltar a gravar novela, então. Se não dá para fazer debate, não dá para fazer competição de dança.

A televisão já não vem cumprindo seu papel com o horário eleitoral – por culpa da legislação, alterada com famigerada reforma conduzida, em 2015, pelo ex-presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, cujo currículo dispensa maiores apresentações. A legislação diminui demais o tempo do horário eleitoral. Impossível conhecer candidaturas com inserções de segundos, por dia.

 

Impossível uma candidatura, por mais bem intencionada que esteja, conseguir produzir conteúdo audiovisual que destrinche temas. Resultado é o que estamos a ver: peças publicitárias que não acrescentam em nada. Canais de rádio e televisão não pertencem às emissoras. São concessões públicas.


Ou seja, Globo, Record, SBT, Band, RedeTV!, Gazeta, CNT, todas elas ocupam um espaço que é do povo. Há “apenas” uma concessão para que usufruam desse espaço. Ora, nada muito justo que deem contrapartidas. Respeito e promoção à democracia, entre essas contrapartidas.

Promoção à democracia passa por abrir espaço para a discussão de problemas e sugestões; para a defesa de ideias ou para a contestação de outras. A televisão brasileira cômoda e oportunamente se omite dessa responsabilidade. Perdemos nós.


As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul

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Wagner de Alcântara Aragão

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