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Silêncio: é proibido defender a Palestina em Hollywood

Artistas pró-povo palestino são perseguidos e perdem papéis, enquanto apoiadores do Estado sionista têm licença para zombar do povo árabe
George Ricardo Guariento
Diálogos do Sul
Taboão da Serra

Tradução:

Estamos em meio a um dos maiores genocídios já testemunhados desde o advento da era da internet. Na faixa de Gaza, o povo palestino é bombardeado por Israel todos os dias sem a mínima chance de se defender ou sequer fugir. Diante desse genocídio continuado, atrizes que expressaram opiniões pró-Palestina vêm sendo demitidas de suas agências, gerando intensas críticas à posição de Hollywood sobre a liberdade de expressão.

A perseguição começou quando a atriz Susan Sarandon, cinco vezes indicada ao Oscar e vencedora de melhor atriz em “Dead Man Walking”, de 1995, foi dispensada pela United Talent Agency depois de fazer comentários em um comício pró-Palestina na semana passada. O Deadline noticiou esse acontecimento na última terça-feira, dia 21.

Além de participar de protestos nos Estados Unidos em defesa do direito de existir dos palestinos, Sarandon também recorreu às redes sociais para expressar suas opiniões. Ela afirmou: “Muitos estavam com medo de serem judeus, e estavam experimentando um pouco do que é ser muçulmano neste país”.

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Artistas pró-povo palestino são perseguidos e perdem papéis, enquanto apoiadores do Estado sionista têm licença para zombar do povo árabe

Melissa Barrera (Foto: Reprodução/Facebook)
A verdade é que, neste momento, todos aqueles que ousarem pedir um cessar-fogo serão queimados, descartados e previamente silenciados




Melissa Barrera 

Posteriormente, foi revelada a demissão da atriz Melissa Barrera da franquia “Pânico“. A jovem artista afirmou corajosamente em sua conta no Instagram que Gaza se transformou em um campo de concentração. Apesar de apagar o post sob pressão, ela foi retirada da franquia pela produtora dos filmes.

“Eles estão encurralando todo mundo, sem ter para onde ir, sem eletricidade, sem água… as pessoas não aprenderam nada com nossas histórias”, declarou Barrera, enfatizando que a guerra é um “genocídio e limpeza étnica”.

Em um comunicado à Variety, o Spyglass Media Group forneceu detalhes sobre o fim do contrato com Melissa, citando postagens consideradas “antissemitas”. A empresa afirmou: “A posição da Spyglass é inequivocamente clara: não toleramos antissemitismo ou incitação ao ódio de qualquer forma, incluindo referências falsas a genocídio, limpeza étnica, distorção do Holocausto ou qualquer coisa que ultrapasse flagrantemente a linha do discurso de ódio”.

Em um comunicado à imprensa, Barrera afirmou que “ficar em silêncio não é uma opção” e condenou o antissemitismo e a islamofobia. Ela defendeu a liberdade de expressão, afirmando: “Como latina, sou uma mexicana orgulhosa e sinto a responsabilidade de ter uma plataforma que me permita o privilégio de ser ouvida”.

Leia também: Mais um cessar-fogo? Só fim da ocupação israelense pode impedir genocídio palestino

Barrera argumentou ainda que toda pessoa tem o direito à autodeterminação, independentemente de religião, raça, etnia, gênero, orientação sexual ou status socioeconômico, e enfatizou: “Acredito que nenhum grupo de pessoas é sua liderança, e nenhum órgão governamental deve estar acima das críticas”.

Em uma publicação em suas redes sociais, Barrera compartilhou um post de outra conta que relatava que “pessoas da indústria cinematográfica de Hollywood estão deletando seus posts pró-Palestina por causa de uma nova lista proibida em Hollywood”. 

A atriz denunciou essa prática, chamando-a de “censura, silenciamento e intimidação” e ironizou: “Mas eles vão adorar fazer filmes sobre tudo isso e ganhar prêmios daqui a alguns anos”.

Em outro post, possivelmente uma resposta direta à sua demissão, Barrera compartilhou uma imagem com os dizeres: “No fim do dia, prefiro ser excluída por ter incluído alguém, do que ser incluída por ter excluído alguém”.


Dois pesos, duas medidas

O ator Noah Schnapp, por outro lado, gerou indignação nas redes sociais ao expressar sua aprovação a um post que zombava de muçulmanos e apoiadores da Palestina. O astro, de 19 anos, conhecido por seu papel na série ‘Stranger Things‘, é judeu e anteriormente utilizou sua conta no Instagram para apoiar os recentes ataques de Israel aos territórios palestinos.

Schnapp, intérprete do personagem Will Byers em ‘Stranger Things’, manifestou sua concordância com uma publicação da atriz Noa Tishby, contendo um vídeo que fazia piada com a população palestina e seus apoiadores.

O vídeo é uma esquete (que tenta ser humor) na qual dois jovens pró-Palestina convidam as pessoas a visitarem a Palestina. Um deles diz: “Todos são bem-vindos, LGBTQH… H de Hamas”, em referência ao grupo politico envolvido no 7 de outubro. O vídeo ainda faz comentários sobre as vestimentas dos palestinos, chamando-as de “chique opressão”.

Se é verdade que Hollywood e suas produtoras sionistas não aceitam qualquer tipo de preconceito e incentivo à violência, eu me pergunto: por que diabos Noah Schnapp continua empregado? E, mais do que isso, por que continua sendo mostrado como um expoente jovem dentro da cultura pop?

Ser parte da comunidade LGBTQIA+, como apontaram alguns comentários na internet, não é o que o isenta das penalidades, mas ser um judeu sionista sim. 


O sionismo dominou Hollywood

Hollywood, historicamente, tem sido influenciada por uma presença significativa da comunidade judaica, incluindo a força sionista. O sionismo, um movimento político que defende o estabelecimento de um Estado judeu em Israel, tem desempenhado um papel marcante nos bastidores da indústria do entretenimento. Essa presença pode ser percebida em várias produções cinematográficas e televisivas que abordam temas relacionados à história e à cultura judaicas, muitas vezes destacando narrativas sionistas.

A influência sionista em Hollywood pode ser observada na preferência por contar histórias que retratam eventos históricos do ponto de vista judaico e, especificamente, sionista. Isso se reflete em filmes que abordam a criação do Estado de Israel, a luta pela independência e outras narrativas que fortalecem a identidade judaica. A representação da história judaica muitas vezes destaca as realizações e desafios enfrentados pela comunidade, reforçando a perspectiva sionista como parte integrante da narrativa.

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É importante reconhecer que a presença sionista em Hollywood não é homogênea, e há uma diversidade de vozes e perspectivas dentro da comunidade judaica e na indústria do entretenimento. No entanto, a influência sionista desempenha um papel significativo na escolha e na promoção de narrativas que moldam a percepção pública sobre a história judaica. Essa dinâmica complexa levanta questões sobre a representatividade e a diversidade de vozes na indústria cinematográfica, bem como sobre como as histórias são contadas e interpretadas.

A verdade é que, neste momento, todos que clamarem pela morte de palestinos em Hollywood serão protegidos, acolhidos e promovidos, enquanto aqueles que ousarem pedir um cessar-fogo serão queimados, descartados e previamente silenciados.

Cabe a nós, consumidores do mercado audiovisual, cobrar os detentores do dinheiro, e cabe aos atores terem coragem para serem, mais uma vez, protagonistas e enfrentarem a indústria. O sionismo tem poder, mas não é hegemônico. Resta saber se aquele discurso de “ninguém solta a mão de ninguém” era apenas uma retórica de classe artística.

George Ricardo Guariento | Jornalista e colaborador da Diálogos do Sul.


As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul

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As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul do Global.
George Ricardo Guariento Graduado em jornalismo com especialização em locução radiofônica e experiência na gestão de redes sociais para a revista Diálogos do Sul. Apresentador do Podcast Conexão Geek, apaixonado por contar histórias e conectar com o público através do mundo da cultura pop e tecnologia.

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