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Só agora mídia corporativa vê o ministério fascista de Bolsonaro? Já é tarde demais

Os mortos serão 100 mil e a mídia ficará na história como responsável por mais esse morticínio, mais esse genocídio. A história a condenará
Paulo Cannabrava Filho
Diálogos do Sul Global
São Paulo (SP)

Tradução:

Vendo a reação da mídia corporativa diante dos vídeos sobre uma reunião ministerial, parece que só agora perceberam que puseram no governo uma súcia de facinorosos. Que cinismo. Sem vocês esses quadrilheiros jamais teriam chegado ao poder pelas vias pelas quais chegaram.

A armação do alto comando militar para a captura do poder era visível e vocês apoiaram. Apoiaram desde o início, quando em 2016 se articulou o golpe jurídico-parlamentar-militar para derrubar a presidenta Dilma Rousseff. E apoiaram seguidamente as ladroagem e entrega das riquezas nacionais praticadas pelo ilegítimo governo de Michel Temer. 

Vocês aplaudiram a negação de habeas corpus ao Lula, ignorando a pressão do comando do Exército sobre o Supremo Tribunal. Valia tudo, desde que se impedisse Lula de participar da eleição. E agora, José?

Os militares diziam claramente que iram disputar as eleições, ensaiaram a manipulação das redes, a ação militar nas favelas do Rio de Janeiro. Onde vocês estavam? Apenas noticiaram e aplaudiram. Nenhum questionamento à farsa eleitoral, ao abuso do poder econômico, à interferência estrangeira na manipulação do pleito, e vocês continuaram apoiando uma captura do poder pelos militares legitimada pelo voto. 

Os mortos serão 100 mil e a mídia ficará na história como responsável por mais esse morticínio, mais esse genocídio. A história a condenará

Lula Marques | Fotos P´úblicas
Sergio Moro foi peça fundamental na farsa montada para eleger o governo de ocupação

Oito generais no núcleo duro do governo. São mais de dois mil militares nas várias instâncias do governo. Nunca antes na história dos golpes militares a ocupação foi tão ampla. Ampla em número e mais ampla ainda em incompetência, em peculato. Peculato sim, porque estão se enriquecendo, ganham dois salários e mordomias em função para as quais não estão preparado. Nenhum questionamento. Apenas a notícia, fria, sem contexto.

São todos da mesma laia. Nenhuma denúncia sobre as medidas entreguistas. Apoiaram a destruição da Petrobras, da Vale do Rio Doce, da Eletrobras, da Nucleobras. Acabaram com os Direitos Trabalhistas, tudo sob os aplausos de vossas excelências. 

Agora, para vergonha nossa, exibem o vídeo e dão páginas e páginas sobre a reunião ministerial do dia 22 de abril. Vídeo que já está escandalizando o mundo que, antes,  já havia se escandalizado com o horror que foi a sessão da Câmara Federal que aprovou a deposição da primeira mulher na presidência da República, sem uma  prova sequer de irresponsabilidade cometida em seu governo.

“Inconcebível, inacreditável”, diz o Estadão, como se não soubesse que essa é a rotina desse governo de ocupação. Preferem substituir as informações de seus repórteres pelos releases preparados pelos comunicadores do governo ou enviados por agencias de publicidade. Temos que defender o capital, a família, a propriedade, tudo… menos a VIDA e a Constituição.

Quantas vezes seus repórteres foram agredidos? E vocês assim mesmo continuaram apoiando essa gangue, que se faz proteger por esquadrões da morte. Vocês se esqueceram do delegado Sergio Fleury e seu esquadrão da morte? Esqueceram da Escuderia Le Cocq? O que são essas chamadas milícias integradas por PMs senão esquadrões da morte? O que são esses militares que dizem que há que fuzilar 30 mil, que a tortura é legal, que condecora torturadores? São ou não são esquadrões da morte? 

As milícias se espalhando, já estão em 20 estados, não é um fato corriqueiro, mas vocês acham que tudo está bem, desde que Paulo Guedes fique no comando da Economia.

Foi preciso chegar a 30 mil mortos pra vocês acordarem? 

Um vídeo do que é a rotina desse governo de ocupação precisou ficar público, escandalizar o mundo pra vocês acordarem?

Meus caros proprietários e diretores da mídia corporativa, vocês estão abaixo da lumpen-oligarquia, abaixo da lumpen-burguesia. Viraram capacho dos capadócios. E enquanto isso, a nação se desfaz sob a ação das tropas pretorianas e o imperador se diverte vendo os incêndios na Amazônia.

Quero dizer pra vocês, mídia corporativa, agora é tarde!

Os mortos logo serão 50 mil, e vocês serão os culpados…. Os mortos serão 100 mil e vocês ficarão na história como responsáveis por mais esse morticínio, mais esse genocídio. Não creio que pese em suas consciências ou das oligarquias que se enriqueceram grilando terras, matando índios, escravizando gente.

Agora é tarde. Mas a história os condenará.

Acordaram e estão dizendo que agora há que agir. Agir como, cara pálida?

Há quanto tempo estamos dizendo que há que mobilizar as forças democráticas, as redes sociais, a imprensa, as diferentes organizações da sociedade civil? Há quanto tempo estamos dizendo que não é hora de teorizar nem de protestar? Chega de pronunciamento, a hora é de atitudes pró-ativas, de mobilizar em torno de propostas, mobilizar as grandes massas para fazer com que as instituições — principalmente o Judiciário e o Executivo cumpram com a Constituição. Ficaram calados enquanto se violava a Constituição. Vocês são cúmplices da inconstitucionalidade do poder!

Agora é tarde.

Enganam-se em pensar que tendo acordado farão as coisas mudarem. Os militares tomaram o poder para ficar. A indignação que vocês estão exteriorizando hoje, só será motivo de riso, de chacota, de mais impropérios desses quadrilheiros que vocês puseram no poder.

O cara, que ocupa a cadeira da Presidência da República disse que quer armar o povo para derrubar as instituições. Apelando à guerra civil para continuar no poder, gerar o caos almejado pelo império. Pode? São todos traidores da pátria, todos, a começar pelo ex-juiz de Curitiba, empregado do Departamento de Justiça dos Estados Unidos. O resto é detalhe sem importância.

Agora é tarde! 

Oxalá entre seus netos e bisnetos surja gente inteligente com sensibilidade humana para concordar com que o país seja independente, a nação soberana e contrários ao que vocês fazem durante séculos!


As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul do Global.

Paulo Cannabrava Filho Iniciou a carreira como repórter no jornal O Tempo, em 1957. Quatro anos depois, integrou a primeira equipe de correspondentes da Agência Prensa Latina. Hoje dirige a revista eletrônica Diálogos do Sul, inspirada no projeto Cadernos do Terceiro Mundo.

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