Pesquisar
Pesquisar

Solução para crise migratória é desenvolver a América Central, porém não existe um plano

Até agora, o México deu a esta causa, apenas 30 milhões de dólares para El Salvador, um milésimo do que, de acordo com o governo mexicano, é necessário
Jorge Santibáñez
La Jornada
Cidade do México

Tradução:

O Presidente mexicano tem insistido, há tempos, que a solução ao tema migratório é o impulso de atividades produtivas, a criação de empregos e o bem-estar nos países de origem dos migrantes. Em particular ele se refere à migração que se origina do chamado Triângulo Norte, constituído por El Salvador, Honduras e Guatemala. Assim expressou na missiva que em sua representação foi levada pelo secretário de Relações Exteriores à reunião do G-20 no Japão. 

O Presidente tem razão, tanta como qualquer participante de um concurso de Miss Universo quando afirma que a solução a todos os problemas da humanidade é que as pessoas sejam felizes. Ninguém pode estar contra isso. Oxalá a teimosia que o caracteriza o levem a conseguir o que tanto tem dito. Além de que se detenha ou não o fluxo migratório, não há dúvida que um maior desenvolvimento na América Central seria sumamente benéfico para a região, e a migração seria por causas muito diferentes daquelas pelas quais ocorre hoje.

No entanto, o argumento tem, pelo menos, dois problemas. O primeiro é que não se vê como tornar realidade o plano de desenvolvimento dessa região, não há recursos suficientes nem um projeto que inclua todos os países afetados. O segundo é que a afirmação distrai a atenção da crise humanitária que tragicamente se sintetiza na imagem do pai salvadorense e sua filha que recentemente se afogaram no rio Bravo tentando cruzar para os Estados Unidos, como consequência direta dos mecanismos de controle que os Estados Unidos têm na fronteira e as do governo mexicano instrumentadas a pedido do governo estadunidense.

Até agora, o México deu a esta causa, apenas 30 milhões de dólares para El Salvador, um milésimo do que, de acordo com o governo mexicano, é necessário

Twitter
Uma nova e numerosa caravana de migrantes partiu recentemente de Honduras rumo aos EUA

Além da solicitação de injeção de recursos na América Central, não há um plano concreto para a região. Falam-se em cifras que não guardam nenhuma proporção com o que realmente ocorre.  No princípio se disse que o plano requer 30 bilhões de dólares, sem dizer quem os poria; depois que o México daria 5 bilhões e os Estados Unidos outro tanto. Cavoucando um pouco, o aporte do México é desenvolvimento turístico e o Trem Maia no sudeste mexicano, e a parte dos Estados Unidos é a promoção de negócios e não um investimento para o desenvolvimento e o bem-estar.

 Ademais, o presidente estadunidense e o Congresso desse país brigam por 2 bilhões e 500 milhões de dólares para o muro que que Donald Trump prometeu aos seus seguidores. Vejo difícil que nesse ambiente os Estados Unidos aportem recursos para o desenvolvimento da América Central.

Até agora, o México deu a esta causa apenas 30 milhões de dólares para El Salvador, a milésima parte do que se requer, segundo o governo mexicano. Guatemala, Honduras e El Salvador não apresentaram uma proposta concreta a esse respeito e a única coisa que fizeram foi assinar, no dia seguinte da posse de AMLO, um acordo para o desenvolvimento da região e, no caso do presidente salvadorense, receber sorrindo os recursos mexicanos. 

O mais preocupante é que quando AMLO fala do tema migratório, nunca faz referência à crise humanitária que se vive, à superlotação nos albergues da fronteira norte dos que fogem os migrantes e tentam cruzar onde e como for para os Estados Unidos, tal como ocorreu com pai e filha salvadorenses que morreram afogados. Tampouco fala dos milhares de migrantes centro-americanos que são detidos violentamente e contra a vontade na fronteira sul do México, e que a última coisa que querem é regressar à violência da qual estão fugindo. Deles não há uma só menção na missiva que foi levada à reunião do G-20.

Na referida missiva, o Presidente mexicano afirma que “depois de deixar de lado a confrontação, os governos do México e dos Estados Unidos acordamos, entre outras coisas, responder ao fenômeno migratório mediante a promoção ao desenvolvimento na América Central e no sul-sudeste de nosso país”,

Não, Presidente, com todo o respeito, o senhor mesmo disse que não se confrontará com os Estados Unidos e o que foi acordado e firmado é que o México controlaria os fluxos migratórias de centro-americanos com a Guarda Nacional e que os solicitantes de asilo nos Estados Unidos esperariam no México a resolução de sua solicitação. Nada que ver com o desenvolvimento da região. 

*Presidente do Mexa Institute

www.mexainstitute.org

Tradução: Beatriz Cannabrava

Veja também


As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul Global.

Jorge Santibáñez

LEIA tAMBÉM

Com defesa de imigrantes, Petro age em prol de toda Humanidade, aponta líder colombiano
Com defesa de imigrantes, Petro age em prol de toda Humanidade, aponta líder colombiano
Acordo de Bolsonaro permite humilhação a brasileiros deportados dos EUA; cabe a Lula anular
Acordo de Bolsonaro permite humilhação a brasileiros deportados dos EUA; cabe a Lula anular
Fim do aplicativo CBP One Trump joga no escuro imigrantes em busca de asilo nos EUA
Fim do aplicativo CBP One: Trump joga no escuro imigrantes em busca de asilo nos EUA
Realidade do povo Mapuche piorou sob Boric, afirma Héctor Llaitul mais confronto e violência
Mais confronto e violência: Governo Boric piorou luta do povo Mapuche, afirma líder Llaitul