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Paulo Cannabrava Filho*
Chicotada na mídia!
Impressiona ver as fotos de Paris e outras cidades francesas ocupadas por tropas de choque. Para quem se recorda de Paris ocupada pelas tropas da SS de Hitler, essas cenas devem ser mais que traumáticas, avivar recordações que queriam ver sepultadas. Para as novas gerações, acostumadas com certa ilusão de liberdade, a sensação de frustração e medo.
A Torre Eiffel se manteve apagada em respeito ao luto da população e no mundo inteiro, todos os comunicadores nos estamos proclamando indignados: Somos Charlie!
A imprensa cavernária se aproveita, utiliza imagens chocantes para vender e instigam o ódio entre as pessoas. Quem foi ou quem foram os autores? Querem um culpado para livrar-se de culpas.
As perguntas que não fazem: a quem ou a que serve o atentado? Por que?
A crise econômica mundial que todos querem esconder esta a provocar demissões em massa não só na França, como também na Espanha, Portugal, Itália. As primeiras vítimas são os que realizam trabalhos subalternos, a maioria sabidamente imigrantes. Antes serviam, eram úteis. Agora não servem mais, são estorvo e competem no mercado de trabalho. É preciso que liquidar com essa praga. É mais fácil e mais barata a política de extermínio que impulsar um modelo de desenvolvimento inclusivo e em respeito à dignidade humana. Exatamente como raciocinava Hitler. Acenderão os fornos outra vez?
Não. Não vão acender os fornos. Vão afundar os barcos, vão militarizar os Estados policiais. Porém, não há porque se preocupar. Há sim que alienar-se sobre sobreviver na sociedade do medo.
Que diferença há entre Paris e Rio de Janeiro? Ou entre Paris e Lima? Ou entre Caracas e Madrid? Ambas cidades cercadas por outra cidade, com outra cultura e outras esperanças. A cidade dos excluídos e a cidade dos excludentes, estes também excluídos, condenados viver em verdadeiros bunker, com seus passos vigiados por olhos espiões.
Aqui em Nossa América já nos acostumamos a viver em permanente estado de sitio. Agora é a vez da velha colonialista Europa.
Não é difícil prever o que ocorrerá na França a partir de agora. Se agravarão as tensões sociais e, paralelamente, a xenofobia. Se radicalizará a direita fundamentalista e, paralelamente, o estado militar. Os ricos seguirão mais ricos e excludentes e os pobres cada vez mais pobres e excluídos.
* Paulo Cannabrava Filho é jornalista, historiador e editor da Diálogos do Sul.