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Sucateamento da inteligência nacional

Revista Diálogos do Sul

Tradução:

O caso do almirante nacionalista e o juiz entreguista na mídia nacional. O sacrifício de um nacionalista autêntico pelas forças antinacionalistas.

Mauro Santayana*
Mauro Santayana - boa fotoAlmirante Othon Luiz Pinheiro da Silva, uma das melhores cabeças científicas do País, responsável pelo enriquecimento de urânio, fundamental, para desenvolvimento da indústria nuclear, que requer acumulação de segredos de natureza estratégica para a defesa nacional, acaba de ser condenado, a 43 anos de prisão, pelo juiz Moro, que o acusa de receber propina de empresa privada na tarefa de aprimorar sua tecnologia, alvo de espionagem internacional.
Certamente, por guardar segredo, está sendo punido por um juiz cujas relações, com os setores de inteligência dos Estados Unidos, produzem natural desconfiança de que interesses antinacionais passaram a atrair setores do judiciário brasileiro para atingir fins obscuros, inconfessáveis: evitar que o Brasil caminhe soberanamente para desenvolver plano nacional de defesa, sem o qual não haverá real integração nacional, dado que a burguesia brasileira não cumpriu esse papel histórico devido a sua grande fragilidade por ser totalmente dependente do capital externo.

Almirante Othon Luiz Pinheiro da Silva
Almirante Othon Luiz Pinheiro da Silva

A integração nacional, portanto, deve ser erguida pela defesa dos interesses nacionais, ancorados em indústria da defesa, a partir da qual se constrói cadeia produtiva complexa, integrada, que requer aposta decisiva na educação, na saúde e nos empregos de qualidade dos brasileiros, na linha da moderna concepção de defesa nacional, ditada pela Escola de Copenhague, à qual se liga, atualmente, as forças armadas brasileiras.
Os militares, que, durante Governo Lula, conseguiram aprovar no Congresso a Doutrina Militar de Defesa (2008), composta pela Política Nacional de Defesa (2005) e Estratégia Nacional de Defesa (2007), base essencial para o que consideram Projeto de Desenvolvimento Nacionalista Integrado, a partir da construção da indústria de defesa, sofrem, com a prisão do Almirante Othon, duro golpe, dado pelas forças neoliberais, que se servem do juiz Moro, para detonar seu objetivo essencial: erguer, no Brasil, o nacionalismo econômico sustentável, alternativa ao neoliberalismo, à prioridade ao mercado financeiro especulativo, que inviabiliza a soberania econômica nacional, agora, em escalada irresistível pelo golpe político-parlamentar-jurídico que colocou Michel Temer no poder, sintonizado com as forças antinacionais.(CF)
Em uma sentença que chama a atenção pela severidade e a ausência de proporcionalidade, o ex-presidente da Eletronuclear, Othon Luiz Pinheiro da Silva, foi condenado, ontem, por um juiz do Rio de Janeiro – com uma decisão que atingiu também a sua filha – a 43 anos de prisão por crimes supostamente cometidos durante as obras da usina nuclear de Angra 3.
O vice-almirante Othon é um dos maiores cientistas brasileiros, um dos principais responsáveis pelo programa de enriquecimento de urânio da Marinha, que levou o Brasil, há 15 dias, a fazer a sua primeira venda desse elemento químico – usado como combustível para reatores nucleares – para o exterior, para uma empresa pertencente ao governo argentino.
Em qualquer nação do mundo, principalmente nos EUA –o vice-almirante Othon estaria sendo homenageado, provavelmente com uma medalha do Congresso ou da Casa Branca, por serviços de caráter estratégico prestados ao fortalecimento da Nação e ao seu desenvolvimento.
No Brasil de Itamar Franco (1992 a 1995) – um homem íntegro e nacionalista – o Almirante Othon recebeu, em 1994, da Presidência da República, a Grã-Cruz da Ordem Nacional do Mérito Científico.
Ele também é Comendador da Ordem do Mérito Naval; da Ordem do Mérito Militar; da Ordem do Mérito Aeronáutico; da Ordem do Mérito das Forças Armadas; da Medalha do Mérito Tamandaré; e recebeu, além disso, a Medalha do Pacificador, a Medalha do Mérito Santos-Dumont e a Medalha Militar de Ouro.
No Brasil kafquianamente imbecilizado, midiotizado, manipulado, plutocratizado, deturpado, moralmente, da atualidade, que caminha a passos largos para a instalação de um governo – de fato – de exceção e fascista – e, ainda por cima, entreguista e antinacional – a partir de 2018, ele está sendo condenado por uma justiça em que muitos membros recebem acima do teto constitucional, perseguem jornais que os denunciam, e podem fazer palestras remuneradas sem ter que declarar quanto estão, conforme resolução do CNJ divulgada no início de julho.
Com uma maioria de patriotas, nacionalistas, legalistas, constitucionalistas, os militares brasileiros tem suportado em silêncio digno a interrupção e as ameaças que pairam, como aves de rapina, sobre numerosos projetos de defesa que tiveram início na última década e sobre as empresas responsáveis por eles, como o dos submergíveis convencionais e o do submarino atômico – de cujo desenvolvimento do reator foi da responsabilidade do próprio Almirante Othon – tendo como executora a Odebrecht.
Um dos grupos mais prejudicados e perseguidos pela Operação Lava-Jato, a Odebrecht já teve que demitir mais de 120.000 pessoas no último ano; também é encarregada, por meio da Mectron, da construção, em conjunto com a Denel sul-africana, do míssil A-Darter que irá armar os novos caças Gripen NG-BR, que estão sendo – também por iniciativa dos dois últimos governos – desenvolvidos na Suécia pela SAAB.
Tudo isso, em nome de um pseudo combate à corrupção hipócrita, ególatra, espetaculoso e burro, em que, para descobrir supostos desvios de um ou dois por cento em programas estratégicos de bilhões de dólares, condena-se ao sucateamento, atraso ou interrupção – como era o caso, há anos, das obras de Angra 3 antes de sua retomada justamente pelo Vice-Almirante Othon – os outros 97% dos projetos, sem nenhuma consideração pela aritmética, a lógica, o bom senso, a estratégia nacional, o fortalecimento ou o desenvolvimento brasileiros.
Isso, ainda, para vender, falsa e mendazmente, com a cumplicidade de uma parcela da mídia irresponsável, apátrida e venal, a tese de que se estaria “consertando” o país, quando o que se está fazendo é jogar o bebê pela janela junto com a água do banho, e matando a boiada inteira para exterminar meia dúzia de carrapatos, no contexto de um projeto de endeusamento de um personagem constantemente incensado por uma potência estrangeira – justamente aquela que espionou o próprio Almirante Othon, a Petrobras e inclusive a presidenta da República.  Vale recordar que para prender corruptos não era preciso arrebentar com as maiores companhias de engenharia do país, como se está arrebentando, nem com os principais projetos bélicos e de infraestrutura em andamento, ou com a Estratégia Nacional de Defesa, arduamente erguida nos últimos anos, ou com um conjunto de programas do qual toma parte, ainda, o Astros 2020 da Avibras; a nova família de fuzis de assalto IA-2, da IMBEL; o Cargueiro Militar multipropósito KC-390 da Embraer; a nova linha de radares SABER; os 1050 novos tanques Guarani, desenhados pelo Departamento de Engenharia do Exército, – ainda em construção pela IVECO; os novos navios de superfície da Marinha; ou o novo satélite de comunicações que atenderá às Forças Armadas.
Acusam o almirante de ter recebido 4 milhões de reais em “propina” dinheiro que ele cobrou por uma consultoria, e o condenam a 40 anos de prisão. O absurdo está no fato de que o projeto do reator nuclear se desenvolve em segredo, por ser de segurança nacional. Por trabalhar com material sensível, cuja venda é vetada pelas potencias da OTAN, o projeto como esse necessita manejar caixa 2 para comprar no mercado negro. Esse tipo de coisa não passa pela cabeça de um juiz de província deslumbrado com o sucesso e cego à realidade do país.
Só no Brasil, um cientista desse porte é enxovalhado, como o Vice-almirante Othon está sendo, nas redes sociais, por um bando de ignorantes que não tem a menor ideia do que está ocorrendo no país. É a soberania nacional que está sendo ameaçada.
Como diria Cazuza, o tempo não para.
Aos que estão arrebentando com a Pátria – e com as suas armas, seus heróis e seus exemplos – sacrificando-os no altar de suas inconfessáveis, imediatistas e rasteiras ambições, sobrará o inexorável e implacável julgamento da História.
*Original de Patria Latina – Editado por Diálogos do Sul


As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul do Global.

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