O deputado estadual de São Paulo Eduardo Suplicy (PT) fala baixo e pausado. Assim como o anticristo das ditaduras, Leonel de Moura Brizola – o incendiário – ele escolhe cuidadosamente cada palavra a usar. Afinal, a vida é um campo minado. Aos fatos.
Até fascistóides reconhecem a lisura radical do pai dos músicos Supla e do João. Antes mesmo do golpe de 1964, quando Roberto Marinho chafurdava em dívidas com a esperança de entregar o país por um punhado de dólares, suas empresas decadentes entravam chão adentro, Suplicy passou a destilar a subversão da língua com a palavra radical.
Ora, o termo vem do Grego: raiz. O ser pensante deve ir à raiz do conhecimento. É irracional se deixar de ir ao fundo de tudo. Radical busca o conhecimento. Não a mentira neoliberal. Por isso, o Império comprou os Marinhos Plim Plim por um punhado de moedas.
Nas trevas da Batcaverna, em São Paulo, o desgovernador Tarcísio de Freitas (Republicanos) usa a imprensa hegemônica para causar polêmica e desviar a atenção do seu gado. O governante é uma nuvem cinza de maldade.
Eis a entrevista:
Amaro Augusto Dornelles: O senhor promoveu uma reunião para pensar e elaborar um plano de segurança pública. Quem participou?
Eduardo Suplicy: Parlamentares e cinco autoridades do Ministério Público, comando da Polícia Militar, policiais diversos e especialistas, como psiquiatras. Foi feito um balanço sobre como foram realizadas as avaliações das ações passadas. Houve muitos erros nas várias tentativas de intervir na chamada Cracolândia. A própria dispersão das pessoas não resultou no que o governo de São Paulo esperava. É importante encontrar uma solução para resolver o problema, principalmente que envolva a inteligência e não a violência policial.
A atuação do órgão público, independentemente de partido, foi deplorável. Agora, a atuação desse governo extrapolou. Quer mostrar ser a única possibilidade de a extrema-direita voltar ao poder.
Faço uma recomendação ao governador Tarcísio no sentido de que, se ele realmente quiser que tenhamos uma decisão democrática sobre seus projetos — nos quais tem investido bastante — ele precisa reconhecer os erros por falta de percepção, uma visão mais ampla de um problema tão grave.
Os trabalhadores das Centrais Sindicais, do Metrô, da CPTM, da Sabesp, têm sugerido a realização de um plebiscito para decidir se os serviços deverão ser privatizados ou não.
Eduardo Leite (PSDB), governador do Rio Grande do Sul, derrubou lei semelhante há alguns anos, e a camarilha dele foi vibrar na Assembleia Legislativa feito palhaços, com os braços erguidos… repugnante. Na Câmara dos Deputados, sob aplausos e uhus…
Indigno. Mas a minha recomendação ao governador é que, depois de uma reflexão, ele aceite essa sugestão e realize…
Na caserna isso é punido. Experiência própria, professor.
Risos. Olha, quando um dia Bolsonaro — naquela reunião ministerial — disse que gostaria de distribuir armas para todo o povo brasileiro, eu fiquei assustado. Aprendi com meu pai desde pequeno que em casa nunca teríamos armas.
Ele conhecia uma família na qual o menino, brincando com os primos, pegou um revólver no armário, deu um tiro e matou o primo. Pois bem, certo dia esse presidente disse que estava com a Covid-19. Iria ficar duas semanas isolado no Palácio da Alvorada. Pensei que talvez ele pudesse ler um livro para aprender uma lição…
Qual livro?
Mandei de presente a ele o livro “A Utopia”, de Thomas More, publicado em 1516.
Nele há um diálogo em que o cardeal Morton está conversando com vários personagens da história sobre a pena de morte. Instituída no início do século 16 na Inglaterra, ela não reduziu a criminalidade no país, com assaltos, roubos, assassinatos…
O viajante português Hítalo D’eu — em grego, um bom lugar — disse: “muito mais eficaz do que impor essas punições horríveis, não há outra alternativa a não ser garantir a sobrevivência das pessoas. Com base nessa reflexão, o amigo de More, chamado Juan Luiz Vives, escreveu para o prefeito da cidade flamenga Bruges (Bélgica) um tratado sobre a assistência aos pobres. Foi a primeira vez que se propôs ajudar as pessoas carentes.
A sua Renda Mínima…
Por essa razão, Thomas More é considerado um grande pensador da história. Ele fundamentou o direito à renda básica de cidadania. O gabinete de Bolsonaro agradeceu o presente, sem dizer se ele leu e aprendeu alguma lição. Da mesma forma que enviei o livro a Bolsonaro, faço essa recomendação ao governador Tarcísio: que ele realize um plebiscito antes de prejudicar tanto a vida de seus eleitores e não eleitores de São Paulo.