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"Temos que continuar agindo, isso vai acabar bem", diz líder pró-Assange na América Latina

Tenho muita esperança, apesar do quanto é difícil esta situação, afirma a jornalista chilena e assessora política da Courage Foundation, Daniela Cabrera
Guido Vassallo
Página 12
Buenos Aires

Tradução:

A coordenadora da campanha em defesa de Julian Assange na América Latina, Daniela Lepin Cabrera, mostra-se otimista com o futuro do jornalista australiano. Preso no cárcere de segurança máxima de Belmarsh, Assange espera o veredito do Tribunal Superior do Reino Unido, que indicará se pode ou não apelar da extradição para os Estados Unidos.

O fundador do WikiLeaks sofreu um derrame cerebral em 2021 e em 2022 contraiu covid-19, além de enfrentar problemas de saúde mental demonstrados por sua defesa. Acusado de espionagem, caso seja declarado culpado pode ser condenado a 175 anos de prisão.

Daniela Lepin Cabrera

“Confio em que isto vai acabar bem. De um tempo para cá tenho tentado visualizar como vamos fazer para conter Julian quando esteja livre”, assegura Lepin Cabrera em diálogo com Página/12.

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A jornalista chilena e assessora política da Courage Foundation, uma organização internacional que apoia jornalistas e denunciantes arrecadando recursos para sua defesa legal, destaca a consciência que existe na região frente à delicada situação que vive Assange e planeja instalar em Buenos Aires “um centro de pensamento crítico para enfrentar o relato da extrema-direita“.

Lepin Cabrera participou do Terceiro Fórum Mundial de Direitos Humanos, onde foi apresentada uma declaração pedindo a liberdade de Assange, que inclui as assinaturas do presidente Alberto Fernández e da vice presidenta Cristina Fernández de Kirchner.

Tenho muita esperança, apesar do quanto é difícil esta situação, afirma a jornalista chilena e assessora política da Courage Foundation, Daniela Cabrera

Assemblea Nacional Catalana/Flickr
Daniela Lepin Cabrera: "Já sabemos diante de quem estamos, o calibre do inimigo, o que estão dispostos a fazer"




Confira a entrevista

Página 12 | Que balanço faz da campanha pela libertação de Assange na região?
Daniela Lepin Cabrera | No final do ano passado WikiLeaks manteve uma agenda paralela organizada com a minha coordenação, e que permitiu reunir-nos com distintas organizações da sociedade civil, organizações de direitos humanos, sindicatos de trabalhadores da imprensa e grandes confederações.

Aí instalam um input que era impossível não atender e que tem relação com o quanto era importante uma presença de um meio de comunicação tão importante como é o WikiLeaks na região, entendendo que existem muitas carências no plano da comunicação.

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É algo que o WikiLeaks em seu momento terá que definir. Enquanto isso, nós, que estamos e somos parte da campanha em defesa de Julian temos que continuar agindo. Atualmente está instalada uma máquina discursiva que irrompe brutalmente e estes setores não têm como combatê-la.

Kristinn Hrafnsson (chefe editor do WikiLeaks) diz que a consciência frente à situação de Assange é maior na região do que em outros lugares. Concorda?
Sim, concordo plenamente. Na América latina se fez não apenas ativismo como também realizamos ações políticas concretas. As petições pela liberdade de Julian nos espaços políticos dos Estados Unidos surgiram aquí, em sua maioria; os mandatários se pronunciaram permanentemente, como Andrés Manuel López Obrador do México, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva do Brasil e Gustavo Petro da Colômbia também.

Creio que nenhum presidente pode ficar alheio a este tema. Obras são amores e não boas razões, e nesse sentido a América Latina tem sido muito clara. E creio que Julian pede para fazer esta viagem para recorrer a um povo que nunca soltou sua mão.

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Os europeus em troca são mais reticentes. Foi uma batalha estabelecer que Julian é um preso político porque eles o consideravam apenas como um jornalista privado de liberdade, e essa é uma forma muito suave de enfrentar a discussão.

Qual é a importância do documento que apresentaram no Terceiro Fórum Mundial de Direitos Humanos?
Esta declaração foi feita com Baltasar Garzón, que é o coordenador da defesa, porque visualizamos um espaço importante. Havia em Buenos Aires muitas personalidades que são altamente reconhecidas em matéria de direitos humanos. Era o espaço onde achávamos que politicamente podíamos conseguir algo.

Que Alberto e Cristina tenham encabeçado esta declaração condiz plenamente com suas ações. A vice presidenta manifestou seu total apoio porque se sente tremendamente interpelada pela situação que vive Assange, que se formos mais fundo veremos que é parecida em muitos aspectos com o que ela vive.

E a mesma coisa o presidente; ele concordou em realizar todas as ações possíveis para que isto de alguma maneira tivesse frutos. O fato de encabeçarem esta declaração responde à vontade política dos governos de defender a liberdade de expressão.

Como está Assange neste momento?
Julian é um homem que está preso há mais de uma década. Em princípio em uma condição de asilo, embora nunca seja cômodo estar asilado. Julian é uma pessoa que sinceramente não descansa, porque está todo o tempo pensando. Mas estão diminuindo esta pessoa.

Julian passou muito tempo sem atenção a sua saúde, com problemas físicos que não era possível resolver quando estava na embaixada (do Equador). A equipe mais próxima não estava tão equivocada com relação à possibilidade de que o assassinassem, porque estava no planejamento da CIA.

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Ele faz um esforço importante para ser uma pessoa presente na vida de sua companheira (Stella Assange) e de seus filhos. Tenho muita esperança, apesar do quanto é difícil esta situação. De uns tempos para cá tentei visualizar permanentemente como vamos fazer para conter Julian quando esteja livre.

Em relação à sentença do Tribunal Superior de Londres, há alguma data prevista?
É incerto. Todos os dias há uma nova situação do ponto de vista legal, há respostas, estão todo dia trabalhando. Nunca falei disso com Baltasar, mas imagino que esperar esta notificação deve ser algo tremendo para os companheiros que estão na defesa. Porque todos os dias pedem algo novo, sempre está surgindo uma ou outra coisinha para pedirem, então você pensa: 'Isto é para logo, vamos ter uma resposta esta semana'.

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Mas já se passaram uma, duas, três semanas, as defesas se desorganizam, então tem que voltar a se organizar; isso é muito difícil. E sim, pode acontecer a qualquer momento. Amanhã, daqui a dois meses, não sabemos, o que é certo é que a resposta que se está esperando somente diz respeito à apelação. E se disserem não, já poderiam abrir as portas para que os Estados Unidos levem Julian.

Não esperava uma postura diferente de Joe Biden e de seu governo no caso Assange?
Pessoalmente nunca espero muito dos Estados Unidos, mas creio que Biden tem a intenção de não dar sequência à era Trump, de modificar a forma como se governou, essa postura tão prepotente em relação a tudo, à política exterior, às relações internas, em uma espécie de supremacia. E acho que Biden procura suavizar.

Obama provavelmente lhes deixou pouco espaço de manobra, então depois vem uma pessoa que arruína tudo e ele tem que baixar a bola e conduzir o país na medida de suas possibilidades. Não vejo nenhum interesse de Biden, sinceramente, de seguir com este caso.

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Eu o vejo como uma pessoa séria que provavelmente vai se questionar, por sua moral cristã, quanto a violar a primeira emenda da Constituição e condenar um jornalista a uma prisão eterna e, finalmente, matá-lo em vida.

Qual é o principal argumento dos Estados Unidos para que Assange esteja preso?
Do ponto de vista técnico é julgá-lo sob a Lei de Espionagem, principalmente por divulgar o que eles chamam de segredos de Estado. Mas se fizermos uma análise mais política o que aqui temos é um Estado que tem segredos para com sua população, segredos que, evidentemente, envergonham qualquer governo.

Ninguém pode sentir orgulho de ser exposto publicamente como um violador de direitos humanos. Porque quando se revelam os telegramas, cai uma tese que os Estados Unidos propôs a sangue e fogo em todos os espaços políticos internacionais, que havia armas químicas no Iraque, inventaram este filme e fizeram que todos acreditassem nele e finalmente invadem um território; mas além disso abusam de uma maneira doentia.

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É digno de análise psiquiátrica porque se você visualizar os casos de violações dos direitos humanos, em particular quando se analisa o tipo de violações que sofriam os presos em Guantânamo, são coisas muito perversas. Eu sempre me detenho nas formas como operaram. Já sabemos diante de quem estamos, o calibre do inimigo, o que estão dispostos a fazer.

Guido Vassallo | Página 12
Tradução: Ana Corbisier


As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul

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