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Trump: Chefe de Gabinete reforça ofensiva por impeachment; 52% dos EUA apoiam processo

Mick Mulvaney reconheceu em entrevista coletiva que o mandatário freou assistência militar aprovada à Ucrânia para pressionar investigação
David Brooks
La Jornada
Nova York

Tradução:

O chefe de gabinete do regime de Donald Trump contradisse o presidente afirmando que houve um quiproquó com a Ucrânia para fins políticos pessoais contra rivais políticos – ou seja, parte chave da investigação de impeachment — enquanto testemunhas ante o Congresso continuaram afirmando que o advogado pessoal do mandatário, Rudolph Giuliani, estava no controle da política de Washington com Kiev.

E um reconhecido almirante e ex-chefe das forças especiais escreveu que a república estadunidense estava “sob ataque do presidente”. 

No que se refere à investigação para formular acusações para um julgamento político de Trump, a estratégia da Casa Branca continuou mostrando rachaduras e falta de controle, com diversas correntes do poder Executivo manifestando-se cada vez mais publicamente. 

Mick Mulvaney, chefe de gabinete interino, reconheceu em entrevista coletiva que Trump freou assistência militar aprovada à Ucrânia para pressionar o novo governo desse país a abrir uma investigação sobre uma teoria de conspiração sem sustentação, relacionada com a eleição para a presidência de 2016. 

O comentário deixou várias pessoas assombradas, pois era uma contradição direta ao presidente que havia reiterado que nunca houve um quiproquó em seu tratamento com a Ucrânia. Horas depois de várias pessoas do governo terem se distanciado das declarações de Mulvaney, o próprio chefe de gabinete enviou um comunicado declarando que não disse o que disse, e culpou, para variar, a mídia de interpretar mal para “promover a caça às bruxas política” contra seu chefe. 

Mick Mulvaney  reconheceu em entrevista coletiva que o mandatário freou assistência militar aprovada à Ucrânia para pressionar investigação

Vox.com
Aumentam as manifestações de apoio a destituição de Trump

Rick Perry

Enquanto isso, o secretário de Energia, Rick Perry informou formalmente a Trump que vai renunciar ao seu posto em data próxima. Embora há semanas já houvesse indícios de que Perry pensava em se retirar do regime, agora se encontra no centro da controvérsia sobre a Ucrânia que detonou o processo de impeachment.

Perry aparentemente estava envolvido em esforços para pressionar o novo presidente Volodymyr Zelensky a investigar a família do ex-vice-presidente Joe Biden, um dos principais rivais políticos de Trump na contenda eleitoral de 2020, cujo filho estava na diretoria de um empresa de gás ucraniana. 

Ao mesmo tempo, Gordon Soundland, embaixador dos Estados Unidos na União Europeia – posto que ganhou como prêmio por haver doado mais de um milhão de dólares para a eleição de Trump – compareceu diante dos investigadores da câmara baixa a portas fechadas, ocasião em que informou que foi uma falta de sorte o fato do presidente ter delegado o manejo da política com a Ucrânia a Giuliani.

Giuliani também sob investigação

O advogado pessoal de Trump agora se encontra sob investigação não apenas de legisladores da câmara em torno ao impeachment, mas também de promotores federais em torno a sócios ucranianos-estadunidenses que recentemente foram detidos acusados de violar leis de financiamento eleitoral ao tentar canalizar fundos estrangeiros para campanhas republicanas no país. 

Por outro lado, o almirante retirado William McRAven, ex-comandante do Comando de Operações Especiais, e considerado o estrategista da captura e morte de Osama bin Laden, denunciou hoje que o comandante em chefe dos Estados Unidos estava atacando, por dentro, a república dos Estados Unidos. Em um artigo publicado no New York Times, McRAven expressou que entre vários altos oficiais militares há “frustração, humilhação, ira e temor … de que os Estados Unidos em que acreditavam estava sob ataque, não de fora, mas de dentro”. 

Escreveu que muitos foram testemunhas dos “assaltos contra nossas instituições”, inclusive de inteligência, segurança pública, diplomática e a mídia, como também o “abandono de nossos aliados”.

Acusou Trump de acreditar que as qualidades e virtudes estadunidenses pelas quais dão a vida os soldados “são pouco importantes ou demonstram fraqueza. Está equivocado. Estas são as virtudes que nos sustentaram nos últimos 243 anos…

Se este presidente não entende a importância disso, se não demonstra a liderança que os Estados Unidos requerem, tanto domesticamente como no exterior, então está na hora de ter uma nova pessoa no Salão Oval… quanto mais rápido, melhor. O destino da nossa República depende disso”.

Na pesquisa mais recente sobre o assunto, o Gallup registra que 52% dos estadunidenses já estão apoiando o impeachment de Trump. 

*David Brooks, correspondente – La Jornada em Nova York

**Tradução: Beatriz Cannabrava

***La Jornada, especial para Diálogos do Sul — Direitos reservados.

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As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul do Global.

David Brooks Correspondente do La Jornada nos EUA desde 1992, é autor de vários trabalhos acadêmicos e em 1988 fundou o Programa Diálogos México-EUA, que promoveu um intercâmbio bilateral entre setores sociais nacionais desses países sobre integração econômica. Foi também pesquisador sênior e membro fundador do Centro Latino-americano de Estudos Estratégicos (CLEE), na Cidade do México.

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