O presidente dos Estados Unidos solicitou na última quinta-feira (4), aberta e publicamente, que Ucrânia e a China investigassem um de seus adversários políticos neste país, ou seja, justamente o que detonou o processo para destituí-lo, ao ser acusado de solicitar interferência estrangeira na pugna eleitoral estadunidense.
Donald Trump, em comentários na Casa Branca, disse que “a China deveria iniciar uma investigação sobre os Biden”, referindo-se ao seu adversário democrata, o ex-vice-presidente Joseph Biden e seu filho Hunter, os mesmos contra ao quais solicitou a ajuda da Ucrânia em uma chamada telefônica em julho, e raiz da investigação de impeachment. Ao mesmo tempo, reiterou que os ucranianos deveriam fazer uma investigação maior contra os mesmos Biden.
Os comentários de Trump sobre Ucrânia e agora sobre a China provocaram assombro, já que agora o presidente estava confirmando a violação da lei que detonou o processo de impeachment.
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Donald Trump
De fato, neste contexto, a presidenta da Comissão Federal Eleitoral, Ellen Weintraub, decidiu que teria que publicar no Twitter uma declaração que já havia feito em junho em resposta a comentários de Trump nessa época afirmando que não necessariamente reportaria às autoridades se um estrangeiro lhe oferecesse informação de algum opositor político: “É ilegal para qualquer pessoa solicitar, aceitar ou receber qualquer coisa de valor de estrangeiro em conexão com uma eleição nos Estados Unidos. Este não é um conceito novo”, escreveu hoje.
Por sua parte, o democrata Adam Schiff, chefe do Comitê Inteligência reagiu aos comentários de Trump sobre a Ucrânia e a China, reafirmando que “o presidente não pode usar o poder de seu posto para pressionar líderes estrangeiros a investigar seus opositores políticos” – ou seja, a acusação central da investigação para o impeachment. Outros de seus colegas democratas afirmaram que os comentários de hoje levam a denúncias adicionais contra o presidente.
Mas Trump e seus defensores estão argumentando que não há nada de ilegal em instar a outro governo a realizar uma investigação de possível corrupção em seus países, inclusive, neste caso, a do ex-vice-presidente Biden e seu filho. O vice-presidente Mike Pence insistiu em que “o povo estadunidense tem o direito de saber” se Biden e sua família lucraram com seu posto quando foi vice-presidente.
No entanto, Trump e sua gente não têm oferecido nenhuma evidência sobre possíveis atos de corrupção por parte dos Biden – embora o filho Hunter esteja vinculado com negócios na Ucrânia e na China.
E como se as coisas não estivessem cada vez mais estranhas, Trump decidiu sugerir que talvez por trás dessa “farsa” do impeachment estava a indústria farmacêutica. Em um evento sobre seguros médicos na Flórida, comentou que “não ficaria surpreso se parte dessa bobagem que todos tivemos que aguentar… provém de indústria como a farmacêutica com a qual nós temos nos enfrentado [segundo ele, tem insistido em reduzir os preços de medicamentos]”. Para variar, não ofereceu nenhuma prova para sua acusação.
Enquanto isso, tanto o ex-enviado especial de Trump para a Ucrânia, Kurt Volker, que renunciou ao seu posto na sexta-feira passada, apresentou-se a uma reunião a portas fechadas diante de três comitês da câmara baixa que estão realizando as investigações para formular denúncias para o processo de impeachment. Entre o que indigna aos legisladores estão os esforços do enviado para facilitar contatos entre o advogado pessoal de Trump, Rudolph Giuliani, e o governo ucraniano.
Ao mesmo tempo, é notável que, à medida que avança essa crise política, há cada vez mais pessoas dentro do regime que estão filtrando a cada dia mais detalhes sobre seu chefe.
Mas, parece que o processo para sua possível destituição não ocupa toda a atenção presidencial e hoje Trump teve tempo para elogiar uma crítica à jovem ativista contra a mudança climática Greta Thunberg:
Keep up the great work Kellie! https://t.co/PcAnK009EW
— Donald J. Trump (@realDonaldTrump) 3 de outubro de 2019
*David Brooks, correspondente – La Jornada em Nova York
**Tradução: Beatriz Cannabrava
***La Jornada, especial para Diálogos do Sul — Direitos reservados.
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