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Trump é acusado de falsificar documentos que teriam influenciado sua eleição em 2016

Republicano teria identificado e suprimido informação prejudicial contra ele próprio, o que configuraria violações das leis eleitorais
Jim Cason
La Jornada
Nova York

Tradução:

Donald Trump se entregou às autoridades de Nova York onde foi detido e acusado de 34 delitos graves e com isso se converteu no primeiro ex-presidente na história dos Estados Unidos a enfrentar um processo criminal – além de ser um ex-mandatário, a partir desta terça-feira (4) é agora o caso número 71543-23.

Trump chegou ao escritório do promotor distrital de Manhattan, Alvin Bragg, donde foi formalmente detido e fichado – deixando suas impressões digitais mas evitando ser fotografado ou algemado – como todo acusado comum – e daí prosseguiu ao edifício de tribunais criminais de Nova York que está ao lado e onde compareceu diante do juiz Juan Merchan. O juiz deu leitura às acusações ao agora acusado sob detenção e, ao ser perguntado se aceitava ou não sua culpabilidade, o ex-presidente falou pela primeira vez ao responder: “não culpado”. 

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Nunca antes havia chegado um acusado a um tribunal escoltado por agentes do Serviço Secreto. No tribunal, não fez comentários, e sua expressão se manteve sem revelar nada. O juiz Merchan advertiu Trump e os advogados que “por favor evitassem fazer declarações que provavelmente incitem a violência ou distúrbios civis” ou “comportamento que ameace o império da lei”. Nos últimos dias, o promotor e o juiz receberam umas 50 ameaças de simpatizantes de Trump consideradas sérias pela polícia. 

Enquanto isso, em frente e ao redor do tribunal criminal nos bancos e em um parque pequeno, brotou um tipo entre circo e carnaval que começou de manhã, onde dúzias de simpatizantes trumpistas competiram com manifestantes anti-trumpistas pela atenção de um mar muito maior de jornalistas e turistas, tudo rodeado por policiais. 

Os dois bandos foram separados por valas, e se gritavam obscenidades e consignas de um lado a outro. Uma deputada federal republicana ultra trumpista foi a oradora principal dos simpatizantes do acusado, mas seu discurso foi muito breve diante de um “protesto de ruído” de opositores para afogar sua mensagem, e abandonou a praça rapidamente diante de alguns gritos que diziam “saia da minha cidade” e a chamavam de monstro.

Todo o processo diante do juiz durou aproximadamente uma hora, foi estabelecido um calendário preliminar para prosseguir para um julgamento, o qual, se é que se realiza, não seria até o próximo ano. O seguinte encontro no processo judicial inclui intercâmbios de argumentos em agosto, e possivelmente uma solicitação para trocar de tribunal a outro distrito e uma para anular todas as acusações. Ao concluir a sessão, o ex-mandatário saiu por uma porta dos fundos do tribunal para ir ao aeroporto e tomar seu voo privado de regresso à mansão. 

Republicano teria identificado e suprimido informação prejudicial contra ele próprio, o que configuraria violações das leis eleitorais

Twitter | Reprodução
Segundo o promotor distrital Bragg, as acusações não são pelos pagamentos a estas pessoas, mas sim pela falsificação dos documentos




Delitos graves

As 34 acusações são todas por delitos graves por falsificação de documentos de negócio para ocultar e empregar de maneira ilícita diversos pagamentos. Na declaração oficial de fatos e apoio da acusação, os promotores afirmam que Trump, “repetidamente e de maneira fraudulenta falsificou documentos empresariais em Nova York para ocultar conduta criminosa que ocultou informação daninha do público votante durante a eleição de 2016”. 

Essa declaração de fatos elaborada pela promotoria sustenta que, entre agosto de 2015 até dezembro de 2017, o acusado “orquestrou um esquema com outros para influir a eleição presidencial de 2016”, ao identificar e suprimir informação prejudicial contra Trump, e que para fazer isso se violaram leis eleitorais e se falsificou informes dos documentos empresariais”. Ou seja, a acusação essencialmente afirma que, como candidato presidencial, e em seus primeiros dois anos como presidente, Trump pessoalmente coordenou um esquema delitivo. 

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O mais salaz dos detalhes é que algumas das acusações são pela investigação sobre pagamentos para comprar o silêncio de Stormy Daniels, uma estrela de pornografia para evitar que divulgasse, pouco antes da eleição presidencial de 2016, uma aventura sexual que ocorreu em 2006. Mas também inclui pagamentos a outra mulher, Karen McDougal, que foi modelo da Playboy e que alega haver tido uma relação sexual com Trump e um porteiro da Torre Trump para que não declarasse a existência de um possível filho ilegítimo de Trump. 

O promotor distrital Bragg enfatizou que as acusações não são pelos pagamentos a estas pessoas, mas sim pela falsificação dos documentos empresariais sobre esses pagamentos. “Sob lei estadual de Nova York é um delito grave falsificar documentos empresariais com a intenção de encobrir outro delito”, afirmou Bragg em entrevista coletiva depois da detenção e do comparecimento de Trump diante de um juiz. Reiterou: esses são “delitos graves no estado de Nova York, sem importar quem seja”, sublinhando a consigna de que “todos são iguais perante a lei, sem importar o dinheiro, sem importar o poder”.


Perseguição judicial

Um dos advogados de Trump, Todd Blanche, em comentários à imprensa ao concluir a visita histórica, afirmou que “hoje é um dia muito triste para este país” e, repetindo o roteiro que Trump tem empregado, acusou que “o promotor distrital tornou o que é um assunto completamente político em uma perseguição judicial”. 

Ao longo do contínuo circo na parte de fora, anti-trumpistas gritavam “prendam-no, prendam-no”. Enquanto isso, apoiadores se queixavam de que Trump era vítima de uma caça de bruxas, desciam a insultos anti-gay ou acusavam seus opositores de serem “comunistas”. Algumas mensagens eram muito simples: “Foda-se Trump”, se lia em umas bandeiras, enquanto do outro lado era “Foda-se Biden”. Uma pessoa sem teto queria que todos se fossem do seu “quintal” (o parque), enquanto que de repente apareceu um pregador que declarava que tanto Trump como seus opositores “necessitam a Jesus”.

Ninguém viu Trump sair, já que diferentemente de como chegou pela porta principal, saiu por uma porta atrás do edifício. Em rota de regresso a Florida, Trump enviou um correio à suas bases afirmando que “enquanto estamos vivendo nas horas mais escuras da história americana, posso dizer que pelo menos neste momento agora, estou em muito bom espírito”. Ele concluiu com uma solicitação para doar para sua campanha presidencial declarando que nunca esteve tão seguro de “retomar a Casa Branca e salvar nossa Grande Nação”. 

Na noite de terça-feira, depois de regressar à sua mansão e clube Mar-a-Lago na Florida, Trump declarou que não há nada nas acusações que lhe fazem: “o criminoso real é o promotor distrital, que deveria ser julgado”. Agregou que “tenho um juiz que odeia Trump, com uma esposa que odeia Trump, cuja filha trabalhou para [a vice-presidente] Kamala Harris”. Também denunciou os outros casos legais pendentes contra ele na Georgia, no estado de Nova York e os que prosseguem no nível federal. 

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Enquanto isso, alguns festejaram o dia histórico em que Trump foi finalmente detido. O que diz Stormy Daniels, a estrela pornô, quando primeiro se anunciou a acusação contra o ex-presidente na quinta-feira passada, se tornou umas das consignas dos opositores de Trump: em referência à famosa gravação de Trump onde comenta a um jornalista do programa Access Hollywood que “quando se é famoso pode agarrar a xoxota de qualquer mulher”, Daniels declarou: “esta xoxota te agarrou de volta”.

Para conferir a acusação formal contra Trump (em inglês) clique aqui.

Jim Carson e David Brooks | La Jornada, especial para Diálogos do Sul — Direitos reservados.
Tradução: Beatriz Cannabrava.


As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul

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Jim Cason Correspondente do La Jornada e membro do Friends Committee On National Legislation nos EUA, trabalhou por mais de 30 anos pela mudança social como ativista e jornalista. Foi ainda editor sênior da AllAfrica.com, o maior distribuidor de notícias e informações sobre a África no mundo.

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