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Trump festejar golpe de Estado na Bolívia é sinônimo de alerta para Venezuela e Nicarágua

Vozes dissidentes de políticos nacionais e figuras públicas estadunidenses denunciaram o que qualificaram como mais outro golpe na América Latina
David Brooks
La Jornada
Nova York

Tradução:

O presidente Donald Trump festejou a “renúncia” de Evo Morales na Bolívia como um triunfo da democracia e advertiu que é uma mensagem para Nicarágua e Venezuela, e seu governo argumentou que o ocorrido não foi um golpe, mas a expressão da “vontade do povo”. Mas vozes dissidentes de políticos nacionais e figuras públicas estadunidenses denunciaram o que qualificaram como mais outro golpe na América Latina, apoiado pelo regime em Washington.

“Estados Unidos aplaude o povo boliviano por exigir a liberdade e os militares bolivianos por cumprir seu juramento de proteger não apenas uma pessoa, mas a constituição da Bolívia”, declarou Trump.  

Agregou na declaração por escrito difundida pela Casa Branca que depois de quase 14 anos e a tentativa de ignorar a constituição de seu país, a renúncia de Morales “preserva a democracia e pavimenta o caminho para que o povo boliviano seja escutado”. 

Trump concluiu: “estes eventos enviam um sinal forte aos regimes ilegítimos na Venezuela e na Nicarágua de que a democracia e a vontade do povo sempre prevalecerão. Agora estamos um passo mais perto de um Hemisfério Ocidental completamente democrático, próspero e livre”.

Seu Departamento de Estado enfatizou que o ocorrido na Bolívia não foi um golpe de Estado, segundo explicou um alto funcionário da dependência em uma teleconferência com jornalistas, mas que “o povo boliviano se fartou de um governo que ignorava a vontade de seu povo”. 

O alto funcionário sublinhou que o informe preliminar da Organização dos Estados Americanos (OEA) concluiu que o processo eleitoral foi marcado por “sérias irregularidades” e recomendou novas eleições – avaliação aprovada por Washington. 

Vozes dissidentes de políticos nacionais e figuras públicas estadunidenses denunciaram o que qualificaram como mais outro golpe na América Latina

twitter / reprodução
Donald Trump

Indicou que Washington “trabalhará com os bolivianos para estabelecer uma democracia em seu país” e instou a todas as partes a descartar a violência para proceder à transição política com a participação de todos os partidos. Outro funcionário estadunidense comentou que espera que a legislatura consiga nomear um novo mandatário interino nesta terça-feira. 

Insistiu em que “não temos preferência entre os candidatos” e disse que o Departamento de Estado não tem tido “contato direto” com nenhum líder político boliviano desde 20 de outubro. Ao mesmo tempo que convocou a participação de todos os atores, com o vocabulário diplomático reiterou a posição de seu chefe, o secretário de Estado Mike Pompeo, que antes da renúncia de Morales sugeriu que “todo oficial do governo” implicado na eleição “fracassada” não deveria participar em novas eleições “para restaurar credibilidade ao processo eleitoral”. 

Os meios estadunidenses e grande parte da classe política recusaram qualificar como “golpe” o que aconteceu na Bolívia. Inclusive o editorial de hoje do Washington Post declarou que a “anarquia” e o “caos” na Bolívia eram de responsabilidade do “cada vez mais autocrata” Morales.  

Algumas vozes dissidentes de alto perfil nacional não evitaram a palavra que marca tanto a história estadunidense no hemisfério. O senador e candidato presidencial democrata Bernie Sanders tuitou que “estou muito preocupado pelo que parece ser um golpe na Bolívia onde os militares… intervieram para remover a Evo Morales”. A disputada e nova estrela da ala progressista do Partido Democrata, Alexandria Ocasio Cortez tuitou que o sucedido na Bolívia “não é democracia, é um golpe de Estado”. Sua colega, a deputada Ilhan Omar, expressou a mesma coisa. 

Mark Weisbrot, codiretor do  Center for Economic and Policy and Research (CEPR), comentou que o ocorrido foi um golpe militar que não poderia haver prosperado sem o apoio de Washington e da OEA junto com uma narrativa de fraude eleitoral “sem apresentar jamais nenhuma evidência” que foi repetida uma e outra vez na mídia, com o que foi aceita como verdade”. Em entrevista a Democracy Now, Weisbrot afirmou que “é óbvio”, mesmo sem provas concretas por agora, que a CIA apoiou esse golpe, igual ao que fizeram nesse mesmo país em 1952, 1964, 1970 e 1980.

Noam Chomsky, junto com o analista Trip Prashad, já havia alertado desde sábado que “um golpe de estado” estava ocorrendo na Bolívia. Eles apontaram, em comunicado público, que os promotores do golpe são a oligarquia boliviana que “tem o apoio total do governo dos Estados Unidos, que há muito tempo anseia por expulsar Evo Morales e seu movimento de poder”. Eles alertam que “por mais de uma década, o Centro de Operações da embaixada dos EUA em La Paz expressou o fato de ter dois planos: Plano A, o golpe; Plano B, o assassinato de Morales. Se trata de uma violação grave da Carta das Nações Unidas e de todas as obrigações internacionais ”.

*David Brooks, correspondente – La Jornada – Nova York.

**Tradução: Beatriz Cannabrava

***La Jornada, especial para Diálogos do Sul — Direitos reservados.

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As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul do Global.

David Brooks Correspondente do La Jornada nos EUA desde 1992, é autor de vários trabalhos acadêmicos e em 1988 fundou o Programa Diálogos México-EUA, que promoveu um intercâmbio bilateral entre setores sociais nacionais desses países sobre integração econômica. Foi também pesquisador sênior e membro fundador do Centro Latino-americano de Estudos Estratégicos (CLEE), na Cidade do México.

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