Donald Trump foi acusado de “trair a nação” pela Câmara de Representantes no início da semana histórica na qual se converterá no terceiro presidente dos Estados Unidos a ser formalmente submetido a um julgamento político para sua destituição.
O Comitê Judicial da Câmara apresentou o relatório que fundamenta o pedido de impeachment contra Trump em um informe que sustenta que o presidente “traiu a nação ao abusar de seu alto posto” e recomenda que seja destituído.
O informe divulgado detalha os delitos cometidos que levaram o comitê a aprovar as acusações formais – que justificam o impeachment – de abuso de poder e obstrução do Congresso em sua investigação. Trump, acusa os democratas, “de impor interesses pessoais e políticos sobre os de segurança nacional, eleições livres e imparciais e, ainda, ao sistema de limites e equilíbrios.
O informe, que contém novas acusações ou revelações, apresenta detalhadamente as conclusões das investigações e audiências que foram realizadas desde 24 de setembro quando teve início o processo.
Indica, em torno à primeira acusação, que “quando o presidente exige que um governo estrangeiro anuncie investigações contra um de seus rivais políticos, corrompe nossas eleições”, em referência à tentativa de manipular o governo ucraniano para promover seus próprios fins políticos”. Nessa tentativa, argumenta o informe, Trump cometeu “múltiplos delitos federais” incluindo “suborno criminoso” e “fraude”.
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Manifestante durante protesto segura cartazes pedindo impeachment de Trump pelas lutas em que acredita.
Obstrução
Sobre a segunda acusação que diz respeito as diversas maneiras em que Trump ordenou a não cooperação da Casa Branca e de várias agências do executivo com a investigação da câmara, são uma clara ação de obstrução do Congresso que contraria os princípios de “uma sociedade democrática” e representam que Trump representa um poder exercido pela realeza contra o qual “nossos fundadores se rebelaram”.
Os republicanos do Comitê Judicial incorporaram um documento dissidente, rechaçando as acusações e argumentando que o presidente não cometeu nenhuma violação que mereça seu impeachment.
Por hora se espera que o plenário da câmara baixa vote hoje (18) as acusações formais contra o presidente, cuja aprovação requer maioria simples. Se forem aprovadas, tal como se espera, pela maioria democrata que controla a câmara, Trump será o terceiro presidente na história do país a ser “impichado” (Richard Nixon teria sido o quarto, mas renunciou antes desta fase do processo de destituição).
Uma vez impichado, inicia-se a última fase do processo onde ocorrerá um julgamento político pelo Senado que seria realizado no início do próximo ano e, em princípio, poderia ser destituído. No entanto, já que o Senado está sob o controle do Partido Republicano e até agora não há indícios de uma dissidência entre seus senadores, prognostica-se que ao final será absolvido.
Entretanto, Trump não poderá evitar o dano político e histórico, já que doravante será sempre vinculado a palavra impeachment. A cada dia mais meios de comunicação, em sua postura editorial, se proclamam a favor do “impeachment” do mandatário, entre os quais importantes veículos de mídia nacionais e regionais, incluindo Los Angeles Times, New York Times, Washington Post, USA Today, Chicago Sun Times, Orlando Sentinel e San Francisco Chronicle.
Ainda mais preocupante para a Casa Branca, uma nova sondagem realizada pelo canal de televisão favorito e que mais apoia o presidente, Fox News, registrou que mais da metade dos estadunidenses (54%) creem que Trump deveria ser “impichado”, e 50% acreditam que deveria ser destituído.
Por outro lado, o venerado ex-diretor do FBI e da CIA, o ex-juiz federal William Webster, expressou alarme pelo que chamou “uma ameaça grave” contra o país, ao acusar que Trump e seus subordinados estão minando o princípio “fundamental” do império da lei.
Em um artigo publicado no New York Times, Webster alertou que |”a integridade das instituições que protegem nossa ordem civil estão, tragicamente, sob assalto de gente cujo trabalho deveria ser protege-las”, assinalando em particular os ataques de Trump e de “meu amigo”, o procurador-geral William Barr contra o FBI e o Departamento de Justiça.
*David Brooks, correspondente de La Jornada em Nova York.
**La Jornada, especial para Diálogos do Sul — Direitos reservados.
***Tradução: Beatriz Cannabrava
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