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Um novo ano chegou e a esquerda continua sem saber como enfrentar Bolsonaro

A questão não é mais apontar os defeitos e limitações dele. Não basta se indignar. É necessário saber como transformar a indignação em algo real, viável.
Cefas Carvalho
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São Paulo (SP)

Tradução:

Chamou minha atenção o fato de que o presidente Jair Bolsonaro em diversas entrevistas insista na tese de que se vetar a criação do Fundo Eleitoral para os partidos, medida antipática à opinião pública e aos eleitores dele, poderá sofrer impeachment. Na verdade o que chamou minha atenção foi o fato que ninguém da Esquerda gritou aos quatro ventos que isso simplesmente é mentira. Nem em entrevistas, nem pelas redes, nada. Na verdade, quem esperneou vociferando que a verdade não era essa foi a deputada federal Joice Hasselman, ex-aliada do presidente mas ainda direitista e antiEsquerda.

O fato é que a sequência de mentiras, absurdos, grosserias e inabilidades proferidas diariamente por Bolsonaro ainda não encontraram resposta à altura por parte da Esquerda. A militância bem intencionada das redes e grupos de Zap se limita a se indignar e reproduzir o conteúdo (falaremos disso mais abaixo). Os líderes de Esquerda e parlamentares se limitam a contrapor de maneira tímida e/ou performática pelo Twitter e em vídeos poucos divulgados pelo famigerado Zap.

Enfim, a Esquerda continuou em todo o malfadado ano de 2019 sem saber como enfrentar Bolsonaro, assim como aconteceu na campanha.

A questão não é mais apontar os defeitos e limitações dele. Não basta se indignar. É necessário saber como transformar a indignação em algo real, viável.

Palácio do Planalto
Esquerda continuou em todo o malfadado ano de 2019 sem saber como enfrentar Bolsonaro, assim como aconteceu na campanha.

Que ele é racista, homofóbico, sexista, tosco, burro, limitado, grosseiro, inepto e que não condições emocionais sem intelectuais para ser subsíndico de prédio de três andares já se sabe, e hoje em escala mundial. A questão não é mais apontar os defeitos e limitações dele. 

O foco seria desconstruir o que ele fala e construir algo melhor, uma nova narrativa. Nisso a Esquerda – Lula livre incluso – parece engessada, sem saber exatamente como proceder para além da indignação vazia.

Como já dito, a militância bem intencionada nas redes piora o cenário, divulgando toda e qualquer coisa dita pelo “mito” e, pior, levando a sério e dando uma importância que muitas vezes o fato sequer tem. É dar respaldo que chama, né?

Não basta se indignar. É necessário saber como transformar a indignação em algo real, viável.

Na campanha de 2018 tivemos como exemplo quase didático deste não saber lidar com Bolsonaro e, ainda mais, o que ele representa, o movimento Ele Não. A princípio a ideia parecia excelente: Mulheres enjoadas do machismo e misoginia no “mito” saindo às ruas conclamando que se votasse em qualquer outro candidato no primeiro turno, menos Bolsonaro. Uma semana depois, o “mito” subiu nas pesquisas à reboque na ineficácia do movimento, visto como iniciativa de mulheres de classe média e de Esquerda, e confrontado com a campanha EleSim, que veio depois, catapultada pela militância virtual bolsonarista, fosse real, digamos, ou de bots.

Não se pede aqui a tal autocrítica do PT, nem falo apenas do petismo, mas de todos os espectros da Esquerda (inclusive de Ciro Gomes na campanha, também sem a menor noção de como enfrentar Bolsonaro) no tocante a ações práticas, como dialogar com parentes e amigos ou postagens em redes sociais.

Sobre como os progressistas amplificaram ao longo dos anos o discurso e as bizarrices de Bolsonaro, li neste fim de semana nas redes do escritor, jornalista, historiador Bruno Gaudêncio o seguinte: “Definitivamente a Esquerda virou um megafone das besteiras que o presidente fala diariamente”.

É isso.

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As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul do Global.

Cefas Carvalho

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