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Uma América andina sem revoluções e com a presença ostensiva dos Estados Unidos

Colômbia, Peru e Chile são experiências “Sem Revoluções” e que apresentam dilemas e desafios em suas experiências democráticas neoliberais
Renata Peixoto de Oliveira
OPEU
São Paulo (SP)

Tradução:

A ingerência dos Estados Unidos na Região Andina demonstra como esta se tornou a porta de entrada dos interesses da potência hemisférica em nosso continente. O Plano Colômbia (1999), o golpe contra Chávez (2002), a crise separatista na Bolívia (2008) e a atual crise Venezuelana (2017-) são exemplares do envolvimento e da relevância desta região em termos geopolíticos e estratégicos.

Na última década, o mercado editorial nos brindou com relevantes e importantes análises sobre os países andinos, notadamente, aqueles que se converteram em epicentro de profundas transformações sociais, políticas e econômicas, como a Venezuela, o Equador e Bolívia. A chamada Onda Rosa monopolizou nossas atenções e, recentemente, fomos impactados(as) pelo suposto retorno do neoliberalismo por meio de movimentos conservadores e de um papel ainda mais preponderante dos Estados Unidos para solapar as revoluções democráticas e corrigir a rota.

No entanto, é preciso ressaltar que três países sul-americanos, situados na região Andina, não participaram do momento anterior, mantendo-se firmes à via neoliberal e também a seus modelos de democracia representativa e liberal, sem apresentar transformações dignas de nota. Assim sendo, Colômbia, Peru e Chile são experiências “Sem Revoluções” e que apresentam dilemas e desafios em suas experiências democráticas neoliberais. Este é o intuito da obra que acabo de lançar pela editora Appris, fruto de pesquisa e trabalhos desenvolvidos, ao longo dos últimos anos, no projeto de pesquisa intitulado “Modelos de desenvolvimento e densidade democrática: um exercício comparativo entre Chile, Peru e Colômbia”.

Conhecer a história política, os desafios quanto ao caminho trilhado para o desenvolvimento pela via neoliberal e as incongruências desses modelos às suas democracias se torna elemento essencial para qualquer análise pretendida que considere as relações entre estes países e os EUA e a avaliação que a superpotência precisa fazer da região. Curiosamente, enquanto a academia estadunidense, os think tanks e o próprio governo se aprofundam no conhecimento da realidade sul-americana e, em especial, da realidade andina, nós mesmos nos tornamos profundamente ignorantes de suas dinâmicas e processos políticos, sociais e econômicos centrais.

Estes três países conformaram um eixo de resistência neoliberal, condizente com os interesses dos Estados Unidos e em oposição marcada ao eixo bolivariano.

Colômbia, Peru e Chile são experiências “Sem Revoluções” e que apresentam dilemas e desafios em suas experiências democráticas neoliberais

Crédito: JM Vilches/Emol
Na última década, o mercado editorial nos brindou com relevantes e importantes análises sobre os países andinos

Eixo neoliberal

O Chile é o baluarte das experiências pretendidas pelos Estados Unidos, ao realizar pela via autoritária reformas de cunho liberalizante que se tornaram o modelo, tanto para o receituário do Consenso de Washington na década de 1980 quanto para a nova guinada ultraliberal da segunda década do século XXl. O presidente Sebastian Piñera evidencia esta relação visceral, por intermédio de sua aproximação com o governo Trump e devotada  submissão ao grande irmão do Norte. É simbólica a percepção do mandatário chileno de que a bandeira de seu país se insere na bandeira norte-americana.

A Colômbia demonstra a mais sólida parceria com os Estados Unidos desde o Plano Colômbia, articulado no momento em que Hugo Chávez chegava ao poder na vizinha Venezuela. Cabe ressaltar que o país passa por momento delicado em função dos desacertos do processo de paz com os grupos guerrilheiros. Além do narcotráfico, tema central para os Estados Unidos na região, a Colômbia foi, durante décadas, o maior ponto de instabilidade, violação de direitos humanos e refugiados internos, bem como considerável impacto regional de sua infindável crise.

Outro parceiro fundamental para os interesses dos EUA na região, o Peru passa por uma espécie de segunda década perdida. Não bastasse a crise que assolou os países latino-americanos na década de 1980, enquanto abriam caminho para o neoliberalismo e realizavam a transição democrática, tivemos uma década de retrocesso fujimorista e, agora, uma década que finaliza marcada por profunda crise política. Praticamente todos os ex-presidentes peruanos foram atingidos por escândalos de corrupção. Fujimori segue preso, Toledo está foragido nos EUA, além de uma renúncia presidencial, em 2018, e do suicídio do ex-presidente Alan García, em 2019.

Resistência à Onda Rosa

Estes três países possuem papel fundamental no Grupo de Lima, principal suporte dos Estados Unidos na condução regional da crise venezuelana. Também são países que logo convergiram com os governos de direita de Brasil (Bolsonaro em 2018) e Argentina (Macri em 2015), garantindo a ampliação do eixo neoliberal e o isolacionismo da Venezuela na região. Em 2012, estes países foram os articuladores da Aliança do Pacífico, junto ao México, visando a um contraponto com a ALBA-TPC e a um retorno aos ditames da contestada ALCA, assassinada por Lula, Kirchner e Chávez em Mar del Plata, em 2005. Na atualidade, são entusiastas do recém-criado PROSUL, um bloco amorfo e fluido que representa a pá de cal sobre a UNASUL, principal projeto da fase pós-neoliberal integracionista na região. 

Peru, Colômbia e Chile resistiram à Onda Rosa e foram os fiéis escudeiros dos EUA, principalmente das administrações republicanas, em reação às revoluções em curso nos países vizinhos. É essencial compreender sua formação sociopolítica, seu caminhar neoliberal, assim como seus processos de transição e liberalização política: características de seus sistemas políticos contemporâneos e questões determinantes para suas crises democráticas nos últimos anos.

Por isso, este convite à leitura de Sem Revoluções: os dilemas das democracias neoliberais andinas para nos aventurarmos nesse debate crucial. Entre junho de 2019 e junho de 2020, haverá uma série de atividades, tais como palestras, oficinas e rodas de conversa sobre os temas abordados e correlatos ao livro, na UNILA (Foz do Iguaçu) e em eventos acadêmicos de âmbito nacional e internacional.

No âmbito do INCT-INEU, este seria um passo inicial para pesquisas e publicações futuras que priorizem as relações entre Estados Unidos e América Latina.

O livro está disponível em livrarias físicas e on-line, em estandes da editora em congressos, eventos de lançamento e divulgação organizados pela autora, assim como no site da Appris.

 

* Renata Peixoto de Oliveira é doutora em Ciência Política pelo DCP-UFMG e professora do curso de Relações Internacionais e Integração e dos programas PPG-ICAL e PPG-PPD da Universidade Federal da Integração Latino-americana (UNILA). Membro do INCT-INEU. Participante da RedeBLAC. Líder do grupo CESPI-América do Sul e membro do grupo DALC-ALACIP.

Informações da obra

Autora: Renata Peixoto de Oliveira.
Título: Sem Revoluções: os dilemas das democracias neoliberais andinas.
Prefácio: Godofredo Vidal de La Rosa (Universidad Autónoma Metropolitana-México).
Editora: Appris.
Ano de lançamento: 2019.
Número de páginas: 117.

* Sumário *

Introdução
1 A formação político-social de nossas repúblicas andinas

2 O modelo chileno: entre enclaves democráticos e a manutenção do neoliberalismo

2.1 Os dilemas de uma longa transição democrática

2.2 Uma democracia que caminha para a desilusão

3 O Sendero peruano rumo ao modelo de desenvolvimento neoliberal

3.1 Neoliberalismo e inserção internacional

3.2 Obstáculos no caminho democrático

4 O terror, o neoliberalismo e os impasses democráticos colombianos

4.1 A dinâmica política colombiana

4.2 O plan0 neoliberal

5 Articulação de políticas externas em torno de uma integração neoliberal

5.1 A falta de consenso: Políticas Externas e Projetos de Integração Regional

5.2 A resistência neoliberal presente na estratégia da Aliança do Pacífico
Conclusões

Referências

Veja também


As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul do Global.

Renata Peixoto de Oliveira

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