A 43 anos de seu vil assassinato, Argentina recorda hoje o grande jornalista Rodolfo Walsh em dia triste e escuro, quando foi sequestrado por um grupo da então Escola Mecânica da Armada (ESMA).
Nesta quarta-feira se completa outro aniversário daquela noite de 25 de março de 1977, quando na esquina de San Juan e Entre Ríos, caiu nas mãos de um grupo de militares da última ditadura militar (1976-1983) que lhe fez uma emboscada, o encheu de balas e desapareceu com seu corpo.
Sua entrega total e sua luta comprometida é reflexo das batalhas sociais que a Argentina de hoje trava em um contexto regional e mundial cada vez mais difícil e cheio de incertezas.
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O jornalista argentino Rodolfo Walsh
Ontem, no 44º aniversário do golpe de Estado de 1976, com o qual essa nação austral atravessou um dos momentos mais dolorosos de sua história, as ideias de Walsh estiveram presentes também em milhares de lenços brancos e nas mensagens que ondearam nos balcões, janelas e grades das casas pelo Dia Nacional da Memória pela Verdade e pela Justiça.
Desde a véspera, nas redes sociais seu nome se repetia com força, em tempos muito diferentes, mas igualmente difíceis, com um país quase fantasma da mesma forma que o mundo, onde a incerteza sobre o que acontecerá amanhã reina por causa de um vírus que já cobrou mais de 16 mil vítimas em poucas semanas.
Já se passaram mais de quatro décadas do horrendo crime contra Walsh e apesar do tempo, ainda há o mistério de onde foram parar seus restos, embora seus familiares sustentem que poderiam estar em um campo esportivo próximo à ex-ESMA.
“O campo intelectual é por definição a consciência, um intelectual que não compreenda o que acontece em seu tempo e em seu país é uma contradição andante”, dizia o grande jornalista argentino.
Uma vida entregue à luta, ao amor pela verdade, Walsh não claudicou e fez jornalismo até os últimos dias em uma época dura, cruel e sangrenta, que mutilou seu corpo, mas não suas ideias, um pensamento vigente para os repórteres destes tempos.
De ascendência irlandesa, Walsh nasceu em 9 de janeiro de 1927 na província de Rio Negro e chegou à capital argentina em 1941.
Após o golpe militar de março de 1976, havia passado à clandestinidade como Norberto Pedro Freyre, graças a um documento que lhe havia facilitado um amigo policial. Já havia falsificado sua identidade pela de Francisco Freyre quando investigou os fuzilamentos de José León Suárez, relatados em seu livro Operación masacre.
Apesar disso caiu em mãos de um grupo de militares que em uma emboscada o metralhou e desapareceu com seu corpo.
Fundador da agência Prensa Latina, sua pena certeira, precisa, comprometida, suas ideias, sua entrega total, continuam vigentes hoje nas vozes dessa gerações que continuam seu exemplo e legado.
Prensa Latina, especial para Diálogos do Sul — Direitos reservados.
Tradução: Beatriz Cannabrava
As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul
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