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US$ 158 bilhões a Israel desde 1948: EUA são cúmplices da guerra contra o povo palestino

Políticas bélicas sionistas ao longo do último meio século têm sido em grande medida apoiadas de maneira incondicional por Washington
Jim Cason
La Jornada
Washington

Tradução:

O secretário de Estado, Anthony Blinken, viajou a Israel na última quinta-feira (12) para reiterar a fórmula de que os “Estados Unidos apoiam Israel”, mas evitou reconhecer que seu governo, como todos os anteriores de seu país, é de fato cúmplice da estratégia bélica de Israel, financiando em parte a ocupação militar de Gaza, facilitando a ampliação de colônias de Israel na Cisjordânia e permitindo o desenvolvimento de armas nucleares de seu aliado.

Muitas das declarações de Blinken focaram nos detalhes do horror dos civis israelitas assassinados pelo ataque de Hamas. Mas agora os meios de comunicação nos Estados Unidos começaram a reportar as declarações vingativas de Israel e suas implicações para os civis em Gaza. 

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Um dia antes, o presidente Joe Biden tentou combinar a mensagem de apoio pleno a Israel com uma sugestão – e foi notável que não foi condição – comentando na quarta-feira que em sua conversa com sua contraparte de Israel lhe disse que “é muito importante que Israel… opere com as regras de guerra. E há regras de guerra”. 

De fato, o secretário de Defesa de Biden, Lloyd Austin, declarou depois de sua reunião com a OTAN em Bruxelas que os Estados Unidos não estão impondo nenhuma condição em sua assistência militar adicional a Israel, e comentou que Washington espera que as forças israelitas “façam o correto” em sua guerra contra o Hamas

Políticas bélicas sionistas ao longo do último meio século têm sido em grande medida apoiadas de maneira incondicional por Washington

NPR
O secretário de Estado dos EUA, Anthony Blinken, e o primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu




Crimes de guerra

As regras de guerra não imperaram durante anos nas políticas bélicas de Israel contra a população palestina, sobretudo em Gaza, e têm sido repetidamente denunciadas como “crimes de guerra” pela Anistia Internacional e outras organizações de direitos humanos durante anos.

Israel e seus aliados têm justificado esta estratégia bélica afirmando que se encontra ante uma ameaça “terrorista” onde as regras de guerra não são facilmente aplicáveis.

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Mas a resposta oficial de Israel ante os crimes de guerra cometidos pelo Hamas é um sítio total a Gaza, o que é tecnicamente um crime de guerra por ser um “castigo coletivo” a uma população civil. 

As políticas bélicas de Israel do último meio século têm sido em grande medida apoiadas de maneira incondicional pelos Estados Unidos. Washington outorgou mais de 158 bilhões de dólares a Israel desde 1948 – mais que a qualquer outro país no mundo – com dois terços dessa soma em assistência militar, segundo o informe mais recente do Congressional Research Servicié (agência oficial de investigações do Congresso). Esse apoio quase sempre é caracterizado como limitado aos esforços para a defesa de Israel frente aos seus vizinhos, mas essa assistência é mais que só isso.


Cumplicidade

Como o veterano jornalista Seymour Hersh documentou em seu livro The Samson Option em 1991, desde os anos 1950 os Estados Unidos mantiveram uma política não explícita de “mirar para o outro lado” enquanto Israel desenvolvia uma arma nuclear.

Mas uma cumplicidade mais ativa e explícita, argumenta a jornalista britânica e observadora veterana da região do Oriente Médio, Helena Cobban, é o apoio cada vez mais amplo ao esforço de Israel para minar toda possibilidade de uma solução de dois Estados – a coexistência de Estados separados para israelitas e palestinos.

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“Embora por vezes líderes em Washington (com exceção de Trump) poderiam ter oferecido apoio verbal à ideia de um resultado de dois Estados, todos sabemos na prática que os Estados Unidos se colocaram muito longe de realmente promovê-lo”, escreve Cobban em seu blog Globalities.


Trump e Jerusalém

A decisão do então presidente Donald Trump de reconhecer a anexação do leste de Jerusalém na Cisjordânia é a medida mais extrema destas decisões, mas como aponta Cobban, isto parece ser a política atual, já que “Biden nunca reverteu isso, nem tampouco o reconhecimento de Trump à anexação do Golán sírio por Israel”. 

A aceitação dos Estados Unidos à anexação gradual de territórios palestinos na Cisjordânia, no Sinai e Golán, por Israel se iniciou muito antes. Embora Washington tenha ocasionalmente protestado pela expansão das colônias israelitas na Cisjordânia, Cobban recorda que os Estados Unidos “têm continuamente ajustado suas próprias propostas para o que poderiam ser os limites de uma “entidade” palestina na Cisjordânia, de tal maneira que sempre têm permitido a contínua expansão das colônias israelenses enquanto reduz o território que (segundo a perspectiva dos Estados Unidos) deveriam estar disponíveis para os palestinos para negociar”. 

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Enquanto isso, os Estados Unidos facilitaram esse processo de expansão de colônias israelenses. Em 2010, o rotativo Haaretz encabeçou uma reportagem assim: “Os contribuintes estadunidenses estão pagando pela ocupação da Cisjordânia por Israel”.  

A esse respeito, Cobban reporta que “Washington tem outorgado uma isenção fiscal a várias organizações nos Estados Unidos que constroem colônias israelenses que, em efeito, tomam seus subsídios dos contribuintes de impostos para usar na construção de novas colônias”.


Negociações diplomáticas

Embora o governo de Biden tenha expressado apoio à chamada solução de dois Estados, seus esforços se focaram em fortalecer as negociações diplomáticas entre Israel e vários Estados árabes, sobretudo Arábia Saudita, iniciativa impulsada primeiro pelo ex-presidente Trump.

Essa iniciativa, apontaram especialistas, ignora os direitos dos palestinos a tal grau que quando o primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu chegou para oferecer sua visão ante a Organização das Nações Unidas em setembro, mostrou um mapa de Israel sem territórios palestinos. Mas isso mudou ao explodir esta crise, e a ideia de que se poderia proceder a uma “solução” no Oriente Médio sem os palestinos – como desejava seus aliados, incluindo Washington – agora ficou anulada.  

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A pergunta agora é: o que vai acontecer? Por ora, os Estados Unidos continuarão declarando seu apoio incondicional a Israel, mas terá que enfrentar as consequências de sua cumplicidade e o que seu aliado é capaz de fazer agora. 

Alguns creem que a crise poderia oferecer uma abertura para ressuscitar a solução dos dois Estados. “A crise na Palestina/Israel atualmente é tão extrema – e isso é tanto a crise imediata dentro e ao redor de Gaza como a crise de mais longo prazo que seguiu na região da Cisjordânia e nos campos de refugiados palestinos no Líbano, no Séria e na Jordânia, como para os palestinas que vivem como cidadãos de terceira categoria na própria Israel – que este conflito tem que chegar a uma resolução justa o mais rapidamente possível… O sofrimento tem persistido por muito, demasiado tempo já”, afirma Cobban, que tem vivido e trabalhado nessa região durante décadas. 

Jim Cason e David Brooks | La Jornada, especial para Diálogos do Sul – Direitos reservados.
Tradução: Beatriz Cannabrava


As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul

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As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul do Global.
Jim Cason Correspondente do La Jornada e membro do Friends Committee On National Legislation nos EUA, trabalhou por mais de 30 anos pela mudança social como ativista e jornalista. Foi ainda editor sênior da AllAfrica.com, o maior distribuidor de notícias e informações sobre a África no mundo.

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