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Venceu a Democracia!

Revista Diálogos do Sul

Tradução:

João Baptista Pimentel NetoNos últimos dias, milhões de brasileiros e brasileiras saíram às ruas nas principais cidades do país para protestar e apresentar suas reivindicações diante do atual cenário econômico, social e político.

Recebi muitos convites e convocações mas não atendi a nenhuma. Não por não concordar com a fundamentação e justiça de uma boa parte das reivindicações, mas pelo temor de que contribuíssem à ampliar a radicalização e confrontação irracional observadas durante o recente período eleitoral. E, nesse sentido, ampliar ainda mais o enorme fosso que dividiu o país.

ditadura-siteNão compareci também por temer que as manifestações fossem novamente utilizadas como pano de fundo para a ação violenta de vândalos e criminosos, como as ocorridas em 2013 e 2014. E ainda por conta daquilo que considero pior: a disseminação e fortalecimento de teses ilegais e estapafúrdias que continuam sendo difundidas, especialmente através das redes sociais, pelos – infelizmente – cada vez mais visíveis, “atuantes” e perigosos grupelhos comandados por lideranças reconhecidamente reacionárias, fundamentalistas e contrárias à manutenção da Democracia, do Estado de Direito e da Soberania Nacional. Grupos que, apesar da descrença dos mais jovens e dos incautos, são financiados por forças estrangeiras historicamente contrários aos interesses da Nação e do Estado brasileiro.

Não compareci, mas como milhões de outros brasileiros e brasileiras,   angustiado e temendo o pior, acompanhei atentamente as manifestações e suas respectivas repercussões nos meios de comunicação tradicionais e alternativos e também nas redes sociais.

Após refletir sobre tudo que li, vi e ouvi, confesso que me senti aliviado e – ainda mais – orgulhoso em ser um cidadão brasileiro. Quase “feliz”.

Fiquei aliviado e orgulhoso ao constatar que meus principais temores não se tornaram realidade. E que, apesar da grandiosidade – e das “naturais” divergências acerca do número de participantes –  todas as manifestações, sem exceção, foram pacíficas e não descambaram para a violência, nem causaram maiores danos aos patrimônios públicos e privados. Fato que – por hora – aponta para uma bem vinda mudança fruto do amadurecimento de amplos setores da população no exercício pleno da cidadania.

Aliviado e orgulhoso, ao constatar o isolamento e a falta de qualquer apoio às soluções autoritárias pregadas pelas ridiculamente minoritárias vozes que, em meio à multidão, teimavam em bradar palavras de ordem em defesa de um aterrorizante retorno “aos bons tempos da Ditadura Militar”. E publicamente confesso: foi mesmo muito bom assistir o Bolsonaro ser vaiado, impedido de discursar e “respeitosamente” apeado do palanque, durante a manifestação realizada no Rio de Janeiro. Neste momento, senti minha alma lavada.

Assim é que concluído o balanço, vi renascer a esperança de que dias melhores virão. Afinal, mesmo diante das divergências que sempre existiram e existirão entre grupos e participantes, havia pelo menos um ponto de aproximação e consenso entre os que manifestavam indignação em relação às práticas nada

republicanas e reivindicavam imediata implementação de medidas que resultem num efetivo combate a corrupção e ao fim da histórica impunidade de corruptos e corruptores.

Enfim, fiquei aliviado e orgulhoso ao constatar que as já históricas manifestações deste final de semana resultaram na certeza de que, após 27 anos da proclamação da Constituição Cidadã, todos os brasileiros e brasileiras podemos nos manifestar livremente, contra ou a favor de Governos e de governantes de plantão, sem medo de retaliações desmedidas orquestradas pelos poderosos de sempre.

Por fim, me senti “quase” feliz por constatar a acachapante derrota imposta pelo povo brasileiro a todos que acreditavam que as manifestações seriam uma oportunidade para novamente atentar contra a Democracia, fortalecer e ampliar suas ações contrárias aos verdadeiros interesses da Nação brasileira.

Desta vez venceu a Democracia!

Viva o Brasil e o Povo Brasileiro!

Viva a Democracia!

*João Baptista Pimentel Neto é jornalista e editor da Revista Diálogos do Sul.


As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul do Global.

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