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Venezuela: Uma derrota que fere a todos

Gustavo Espinoza M.

Tradução:

Gustavo Espinoza M.*

oposicaovenezuelalatuffOs resultados eleitorais do processo venezuelano celebrado no domingo 6 de dezembro, constituem uma clara derrota do movimento popular.

Além de consolos menores e considerações destinadas a atenuar os efeitos do fato, o real é que fazem parte dos grandes anseios do Império em acabar com a resistência dos povos de nosso continente aos seus planos de dominação.
As razões dessa derrota e os fatores que contribuíram com ela podem ser de domínio mundial, mas o balanço crítico e autocrítico corresponde, em primeiro lugar, aos próprios venezuelanos, que são os que têm à mão os elementos suficientes para saber em que acertaram e em que se equivocaram nesses duros – e inéditos – anos da construção dfe uma sociedade nova na pátria de Bolívar.
Há que esperar-se, somente, que a discussão que se faça seja construtiva e ajude a avançar. E dizemos isso porque aqui, como em outras ocasiões, existirão também os elementos corrosivos e dissolventes que, em nome do “debate profundo”,  promovam a discórdia e a discrepância em lugar de contribuir para a unidade, que hoje é mais urgente que nunca.
Aos venezuelanos lhes corresponde, antes que a qualquer pessoa, enfatizar aqueles fatores que facilitaram os planos do inimigo. E é aqui que se precisa recordar o que um velho e experiente amigo da história – o camarada Lenin – nos disse sem meias palavras:
“A atitude de um partido político diante de seus erros é um dos critérios mais importantes e mais seguros para avaliar a seriedade desse partido e o cumprimento efetivo de seus deveres para com sua classe e as massas trabalhadoras. Reconhecer abertamente o erro, pôr em claro suas causas, analisar a situação que os engendraram e discutir com atenção os meios de corrigi-los; isso é o que caracteriza um partido sério; nisso consiste o cumprimento de seus deveres; isso é educar e instruir a classe, e depois as massas”.
Aos demais, preocupa-nos prioritariamente refletir sobre a incidência do processo venezuelano no plano mais amplo. E, sobretudo, analisar as consequências que se derivarão em cada um dos nossos países, cenários também do mesmo confronto que hoje separa os povos, do Império. Porque a questão da Venezuela é parte de uma confrontação global. 
E é que chamar a atenção sobre o que aconteceu na Venezuela terá uma repercussão muito perigosa na América Latina e ainda em outros continentes. Objetivamente, o solo americano tem sido cenário de uma dura luta na qual os povos têm desferido fortes golpes aos seus inimigos. Hoje, parece que o rumo dos ventos está mudando.
Contrariando o pessimismo, cabe recordar que no passado aconteceram fatos similares. Em 1990 os Sandinistas tiveram que ceder o Poder na Nicarágua; mas aceitaram bem a derrota, superaram suas limitações e ganharam novamente o apoio cidadão administrando hoje uma gestão de sucesso que aparece consolidada.
A administração norte-americana e os instrumentos com os quais conta – incluídos os Serviços Secretos – vêm conspirando contra nossa região de maneira constante e ininterrupta. Nos últimos anos, os denominados “Golpes suaves” afetaram Honduras, Paraguai, e inclusive a Guatemala; e se somaram a estratégias perversas orientadas em alguns casos a gerar o caos em nossos países e desmoralizar e ainda aviltar os povos fazendo com que consintam práticas extremamente corruptas.
A teoria do “caos organizado”, elaborada nos anos 1970 por Zbigniew Brzezinski teve um claro propósito: gerar fatores de corrosão no interior dos Estados para enfraquecer sua capacidade de defesa. Consistiu em acionar, à sombra de sua classe dominante, um conjunto de elementos perversos: a delinquência, o narcotráfico, o terrorismo e outros complementares, assegurando-se que não saíssem de seu controle. E assim ocorreu.
Talvez o ponto de partida para essa política possa ser situado nos anos 1970, com as dolorosas experiências do Uruguai e do Chile, primeiro, e da Argentina, depois. Naqueles anos, eles se valeram da instituição armada e a usaram como instrumento de dominação. Mas o surgimento de personalidades militares como os generais Velasco, Seregni ou Pratt indicou que eles não poderiam ter plena confiança nos fardados; e que era melhor para eles valer-se dos recursos tradicionais, acrescentando um elemento chave: os meios de comunicação.
A esses, eles os converteram, nas últimas décadas, em peças chaves da sua política. A concentração de meios em uma só ou em poucas mãos, como acontece hoje no Peru, na Argentina, no Brasil ou na Venezuela surge como um elemento decisivo na luta pela captação da consciência dos cidadãos de nossos países. Submetê-los e dobrá-los é sua missão essencial.
Resultará extremamente difícil que em nosso continente prospere um processo de transformações profundas que não inclua uma modificação radical na posse e no uso dos meios de comunicação.
O outro elemento é a estrutura política da dominação. É verdade que está integrada por pequenas camarilhas de Poder, e estimulada por caudilhos ou caciques desprestigiados moralmente ou desqualificados; mas sua utilização é indispensável para o efeito da aplicação de suas políticas. Por isso no Peru se empenham em estimular aos que têm à mão para desacreditar a experiência bolivariana.  
Personagens antagônicos como Alan García ou Alejandro Toledo, expressões vivas da corrupção mais desenfreada falam da “imoralidade” do governo de Caracas; enquanto Keiko Fujimori condena a “ditadura de Chávez e Maduro·”. Enquanto isso, as apresentadoras da TV aparecem como “analistas políticos” y falam mal da vida venezuelana à vontade.
Essa mesma “TV”, em conluio com congressistas cúmplices apresentam personagens obscuros para que falem “das agendas de Nadine” como una maneira de envolver o Estado Venezuelano em supostas tratativas financeiras com o governo peruano. E o fazem com um duplo efeito. Por um lado, desprestigiar o governo atual da Venezuela; e por outro, “curar-se preventivamente” advertindo os peruanos sobre o que “poderia ocorrer no Peru” si “tomássemos o caminho de Chávez”. 
Eles não podem negar os avanços conseguidos pelo povo da Venezuela em matéria de cultura, educação, saúde, direitos trabalhistas e sociais e outros campos da vida humana. Então não se referem a eles. Nem os mencionam. Falam de problemas que criaram seus cúmplices, a classe dominante e os meios de comunicação a seu alcance. E advogam – isso sim – por aqueles que delinquiram no esforço por derrubar o regime bolivariano usando métodos terroristas que causaram morte e destruição.
E é claro que já se esqueceram de falar em “fraude eleitoral” e “submissão das instituições eleitorais à vontade do regime”. Hoje essas expressões aparecem extremamente desencontradas da realidade. Preferem então falar da “falta de liberdades” ou de “presos de consciência”. Mas não dizem sequer uma palavra sobre os 43 mortos nem sobre os ingentes danos que causaram à vida cidadã.
É bom que aprendamos a diferenciar o grão da palha. Mas é mais importante ainda que desenvolvamos uma verdadeira luta política para impedir que a mente dos peruanos seja submetida outra vez aos desígnios de uma classe aviltada e em derrota. Não esqueçamos nunca que hoje a Venezuela nos fere a todos.
*Colaborador de Diálogos do Sul, de Lima, Peru


As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul do Global.

Gustavo Espinoza M. Jornalista e colaborador da Diálogos de Sul em Lima, Peru, é diretor da edição peruana da Resumen Latinoamericano e professor universitário de língua e literatura. Em sua trajetória de lutas, foi líder da Federação de Estudantes do Peru e da Confederação Geral do Trabalho do Peru. Escreveu “Mariátegui y nuestro tiempo” e “Memorias de un comunista peruano”, entre outras obras. Acompanhou e militou contra o golpe de Estado no Chile e a ditadura de Pinochet.

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