Pesquisar
Pesquisar
Foto: Reprodução

Vice-chanceler da Ucrânia diz que país deseja paz, mas insiste em adesão à Otan

Em entrevista, Iryna Borovets fala da visão ucraniana sobre um possível acordo e justifica exclusão da Rússia de cúpula de paz que acontece em 15 e 16 de junho na Suíça
Montserrat Hawayek Figueroa
La Jornada
Cidade do México

Tradução:

Beatriz Cannabrava

“Deter a guerra a qualquer preço significaria estar em guerra permanentemente”, assevera a vice-chanceler ucraniana, Iryna Borovets. “Para iniciar qualquer negociação, as forças armadas e equipamentos russos devem ser completamente retirados de todo o território da Ucrânia”, reafirma.

A paz “é exatamente o que milhões de ucranianos querem agora; no entanto, não estamos preparados para a paz a qualquer preço”, diz Borovets, de 48 anos, veterana diplomata, às vésperas da Cúpula pela Paz Global a ser realizada em Bürgenstock, Suíça, nos dias 15 e 16 de junho.

Em entrevista ao La Jornada, realizada por meio de um questionário enviado pela embaixada de seu país no México, Borovets destaca que na reunião na Suíça, na qual participarão pelo menos 107 países e organizações – Rússia não foi convidada –, se buscará definir uma agenda para alcançar “uma paz integral, justa e estável”, dois anos e três meses após o início da invasão russa.

A seguir, algumas das respostas da vice-chanceler:

– Por que a Ucrânia só admite a fórmula de paz do presidente Volodymir Zelensky, que a Rússia rejeita, e por que excluí-la da Conferência de Paz na Suíça?

– A Ucrânia está lutando por sua independência e soberania, preservação de sua identidade nacional e integridade territorial e a sobrevivência do próprio Estado. A paz para a Ucrânia deve ser integral, justa e estável. Isso só será possível quando as tropas russas deixarem o território de nosso Estado e sua soberania e integridade territorial forem restauradas dentro das fronteiras internacionalmente reconhecidas.

Como vítima de uma agressão, a própria Ucrânia tem o direito moral de determinar as condições para o restabelecimento de uma paz justa, que deve se basear nos objetivos e princípios da Carta das Nações Unidas. A fórmula de paz proposta pelo presidente Zelensky corresponde às normas fundamentais deste documento, que é a base da ordem internacional, por isso a consideramos a única ferramenta eficaz para pôr fim à guerra.

A Federação da Rússia deve participar do processo de paz. Mas isso não pode acontecer agora, quando não mostra sinais de estar disposta a abandonar sua agressão contra nosso Estado, que vem travando há mais de uma década.

O papel do México na cúpula de paz

O México poderia desempenhar um papel muito mais ativo em certos componentes da fórmula de paz da Ucrânia. Em particular, gostaríamos que o México, como principal impulsionador do Tratado de Tlatelolco sobre uma zona livre de armas nucleares na América Latina e no Caribe, se unisse ativamente ao ponto sobre segurança radiológica e nuclear, contribuindo com sua experiência e autoridade para buscar, pela comunidade mundial, garantias a este respeito para a Ucrânia. A propósito, o destacado físico nuclear mexicano, ativo promotor do Tratado de Tlatelolco, Markus Moshinskyi, era de origem ucraniana. Nasceu em Kiev.

– A Ucrânia tem alguma opção em caso de um eventual fracasso das negociações de paz na conferência da Suíça?

A Ucrânia está lutando por sua existência contra a agressão armada de uma potência nuclear que tem muito mais recursos. Os russos têm superioridade aérea e humana e continuam acumulando tropas. No entanto, a Ucrânia continua a lutar e não vai parar. Nosso objetivo é claro: queremos o pleno restabelecimento de nossa integridade territorial dentro de fronteiras internacionalmente reconhecidas e a retirada das formações e equipamentos militares russos de todo o território de nosso Estado. Todos os nossos esforços, tanto militares, quanto diplomáticos, estão voltados para isso.

– Como avalia a abordagem de negociação proposta pela China, que, em um momento, o presidente Zelensky não descartou?

– Queremos ver Pequim entre os estados que podem ajudar a deter a agressão armada da Federação Russa e restaurar a integridade territorial da Ucrânia, e apreciamos que a China tenha confirmado repetidamente o respeito ao princípio da integridade territorial. É extremamente importante observar os princípios da Carta das Nações Unidas e do direito internacional, em primeiro lugar, no que diz respeito ao respeito à soberania e à integridade territorial dos países, que é uma das disposições-chave da fórmula de paz da Ucrânia, bem como o fundamento sobre o qual se baseiam as relações bilaterais entre a Ucrânia e a China. A notícia de que Pequim não participará da Cúpula Global pela Paz inaugural na Suíça é profundamente lamentável.

– Na tentativa de chegar a um acordo em Istambul, a Ucrânia ofereceu-se para se declarar um país neutro e retirar sua intenção de ingressar na OTAN. Por que a Rússia rejeitou quando eram duas condições que, afirma, a obrigaram a invadir a Ucrânia? A Ucrânia estaria disposta a retomar as negociações a partir do que foi acordado em Istambul?

– A Ucrânia é um Estado soberano e tem o direito de determinar as prioridades de sua política externa. A neutralidade não é garantia de não agressão, pelo contrário. A Ucrânia era um Estado não alinhado quando, em fevereiro de 2014, a Federação Russa lançou sua agressão armada contra nosso país e temporariamente ocupou a Crimeia e parte das regiões de Lugansk e Donetsk. Isso simplesmente demonstra que Moscou usou a permanência da Ucrânia fora da OTAN para atacar nosso país.

Foi após isso que o nível de apoio à integração euro-atlântica na Ucrânia aumentou rapidamente (…) A adesão à OTAN é a única garantia confiável de nossa segurança.

– O presidente Zelensky afirmou que nunca negociará com o presidente russo, Vladimir Putin. Não haverá negociações?

– As garantias da Federação Russa de que está pronta para negociações não passam de um mito. A pseudo-disposição da Federação Russa para negociações de paz é apenas uma tentativa de ganhar tempo para fortalecer o controle sobre os territórios temporariamente ocupados da Ucrânia, retardar ou tornar impossível o fornecimento de ajuda militar, financeira e humanitária à Ucrânia pela comunidade internacional.

Rechaçamos qualquer apelo para negociações de paz com a Federação Russa nos termos de Moscou. Parar a guerra a qualquer preço significaria estar em guerra permanentemente. As autoridades de aplicação da lei da Ucrânia registraram um número sem precedentes de crimes cometidos pelo exército russo durante a invasão em larga escala: mais de 133 mil crimes de agressão e crimes de guerra, e 17 mil contra a segurança nacional; mais de 162 mil objetos de infraestrutura civil foram destruídos ou danificados. Por trás de cada um desses números há um evento trágico, uma vida humana. Tais ações podem testemunhar a sinceridade das garantias da Federação Russa sobre o desejo de paz e disposição para negociar? Em minha opinião, não.

Temos uma visão clara de como se construirá o caminho para a paz.

O aspecto chave para iniciar qualquer negociação deve ser a retirada de todas as forças armadas e equipamentos russos de todo o território da Ucrânia. Gostaria de enfatizar que a questão da soberania e integridade territorial do Estado dentro de suas fronteiras internacionalmente reconhecidas não pode ser objeto de qualquer compromisso.

Confira a completa, em espanhol, aqui.

La Jornada, especial para Diálogos do Sul – Direitos reservados.


As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul do Global.

Montserrat Hawayek Figueroa

LEIA tAMBÉM

Navio da amizade Xi Jinping convida América Latina à construção do novo sistema global
Navio da amizade: Xi Jinping convida América Latina à construção do novo sistema global
Coreia do Sul e Geórgia os interesses nacionais frente à “ordem baseada em regras”
Coreia do Sul e Geórgia: quando as demandas internas se chocam com os interesses do Ocidente
Lavender o uso de IA por Israel para automatizar o extermínio na Palestina
Lavender: a inteligência artificial de Israel e a automação do extermínio palestino
Programas de deportação não resolvem crise migratória nos EUA, afirma especialista
Programas de deportação não resolvem crise migratória nos EUA, afirma especialista