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Foto: Geoff Livingston / Flickr

Violência política nos EUA: país registrou mais de 8 mil ameaças a legisladores em 2023

Episódios de violência política alcançam patamar inédito nos EUA e são impulsionados sobretudo por apoiadores de Trump
Jim Cason, David Brooks
La Jornada
Nova York

Tradução:

Beatriz Cannabrava

Funcionários e voluntários eleitorais locais, organizações de direitos civis, promotores, juízes e até jornalistas vivem sob ameaças de morte e intimidação nos EUA, parte de um clima de violência política que inclusive gera preocupações entre alguns especialistas pela possibilidade de uma “guerra civil” em torno à disputa eleitoral.

As ameaças e o cultivo da violência política são gerados por Donald Trump e seus apoiadores de extrema-direita em todo o país. O candidato republicano se recusa a se comprometer a respeitar o resultado eleitoral se não ganhar e continua insistindo que não perdeu na contenda de 2020, que culminou em 6 de janeiro de 2021 com um assalto violento ao Capitólio por trumpistas que tentaram frear a certificação da eleição, no que muitos chamaram de uma tentativa de golpe de Estado.

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Esse ato de violência política não tem precedentes na história do país. Mais de 1.500 pessoas foram processadas criminalmente por esse fato, no qual cerca de 140 policiais ficaram feridos (um morreu em decorrência desse incidente). O então presidente foi sujeito a um impeachment por sua incitação a esse ato e enfrenta um julgamento criminal federal pelo mesmo motivo.

Entretanto, hoje, em quase todos os eventos públicos de sua campanha, Trump reproduz uma gravação do hino nacional cantado pelos presos condenados por participar desse assalto, chamado de “Coro J6”, afirmando que são “grandes patriotas” e sugerindo que serão absolvidos se ele voltar à Casa Branca.

Acusações mentirosas e promessas de perseguição

Com isso, Trump continua nutrindo a ideia de que esta eleição — se ele não ganhar — já está comprometida, alegando sem provas que seus opositores estão registrando imigrantes “ilegais” como eleitores por todo o país, que as autoridades eleitorais locais e estaduais são corruptas e que não haverá um resultado confiável. Ao minar a credibilidade do sistema eleitoral, Trump também ameaçou que, quando vencer, perseguirá criminalmente e de maneira massiva os “funcionários eleitorais corruptos”, ou seja, todo político, funcionário e oficial que se atreveu a questioná-lo agora e em 2020. Abertamente tem dito que utilizará o Departamento de Justiça contra seus inimigos políticos, incluindo o atual presidente, e que serão sujeitos a longas penas de prisão.

“Donald Trump está fazendo muitas ameaças públicas de que usará o sistema legal para castigar seus inimigos, os quais parecem ser qualquer um que se oponha a ele. Essa conduta não tem precedentes na história das campanhas eleitorais, ameaça todas as nossas liberdades e viola nosso mais básico império de lei”, comentou, em entrevista ao The Guardian, o ex-vice-procurador-geral e subsecretário do Departamento de Justiça, Donald Ayer, que ocupou o cargo sob o presidente George W. Bush.

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Depois de uma tentativa de assassinato contra Trump em um comício em julho e outra aparente tentativa semelhante neste mês em um de seus campos de golfe, o ex-presidente e seus aliados buscaram culpar os democratas por esses atos, acusando-os de fomentar a violência política ao acusar Trump de ser uma “ameaça à democracia”. Trump, em vez de baixar o tom hostil, responde dizendo que “eles são as ameaças à democracia… eu estou tentando salvar o país” de seus oponentes “marxistas, socialistas”. Agora, ele se refere à candidata democrata Kamala Harris como “a camarada Kamala”, e recentemente acusou que, “por essa retórica da esquerda comunista, as balas estão voando, e só piorará”.

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Não cessam os casos de pessoas que enviam mensagens ameaçando a vida de políticos e oficias, de seus colegas e assistentes, muitas vezes mencionando que estão com suas armas de fogo preparadas. As autoridades reportam que as ameaças contra juízes federais dobraram nos últimos anos. A polícia do Capitólio investigou mais de 8 mil casos de ameaças contra legisladores no ano passado, e esse tipo de incidente segue crescendo este ano. O Departamento de Justiça apresentou denúncias em aproximadamente 700 casos de ameaças nos últimos dois anos, 400 dos quais contra juízes, políticos, promotores e outros funcionários públicos. Foram 78 acusados em 2023 e outros 72 até o momento, relatou a Reuters. A secretária de Estado do Colorado, Jena Griswold, afirmou que recebeu mais de mil ameaças graves, incluindo de morte, no último ano. Enquanto isso, o FBI investiga pacotes suspeitos enviados a oficiais eleitorais em mais de 12 estados, reportou a AP.

Trumpistas afirmam que violência é justificável

Sondagens de especialistas registram um número crescente de pessoas que creem que a violência política é justificável para garantir o retorno de Trump à Casa Branca. Não ajuda quando figuras com ampla presença nas redes, como Elon Musk, dono do X, expressam que “a menos que Trump seja eleito, os EUA cairão em uma tirania”, e alguns dias atrás escreveu: “e ninguém está nem tentando assassinar Biden/Kamala” (depois apagou o tuíte e disse que estava brincando).

Por outro lado, Trump e seus fanáticos continuam atacando a mídia como “a inimiga do povo”, e em seus comícios quase sempre há um momento em que, do púlpito, ele aponta para a seção da imprensa para criticá-los e acusá-los de tudo, enquanto os participantes gritam insultos. Isso chegou a tal ponto que o Comitê de Proteção de Jornalistas está oferecendo guias aos meios de comunicação sobre como proteger seus repórteres, incluindo segurança física, legal, cibernética e psicológica, durante esta reta final da eleição.

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Nem os famosos estão isentos. “Ódio a Taylor Swift“, foi a mensagem de Trump depois que a estrela pop mais influente do país endossou a democrata Kamala Harris. Ele comentou que “ela pagará um preço por isso no mercado”, e seus aliados comentaram que ele estava planejando uma “guerra santa” contra Swift se ela ousasse apoiar sua opositora.

Especialistas dizem que esse cenário é extraordinário em supostas democracias avançadas no mundo e que é preocupante a violência política nos Estados Unidos, o autoproclamado campeão da democracia mundial.


As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul do Global.

Jim Cason Correspondente do La Jornada e membro do Friends Committee On National Legislation nos EUA, trabalhou por mais de 30 anos pela mudança social como ativista e jornalista. Foi ainda editor sênior da AllAfrica.com, o maior distribuidor de notícias e informações sobre a África no mundo.
David Brooks Correspondente do La Jornada nos EUA desde 1992, é autor de vários trabalhos acadêmicos e em 1988 fundou o Programa Diálogos México-EUA, que promoveu um intercâmbio bilateral entre setores sociais nacionais desses países sobre integração econômica. Foi também pesquisador sênior e membro fundador do Centro Latino-americano de Estudos Estratégicos (CLEE), na Cidade do México.

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