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Prefeito de Assunção, Mário Ferreiro levou seu apoio solidário as vítimas de Curuguaty, ao lado de lideranças políticas, religiosas e intelectuais
Leonardo Wexell Severo*
Manifestantes solidários aos camponeses presos políticos de Marina Kue, em Curuguaty, no Paraguai, colocaram uma placa em frente ao Tribunal de Sentenças de Assunção, na última quarta-feira (4), demarcando os dois anos em que foi erguida no local a “Barraca da Resistência” exigindo a anulação do julgamento-farsa e a sua libertação.
Com o apoio do prefeito da capital, Mário Ferreiro, foi cimentada uma placa com os dizeres: “Aqui resistimos as mães e familiares dos mártires e condenados de Marina Kue, exigindo Justiça, Terra e Liberdade”.
Neste momento estão trancafiados na penitenciária de Tacumbú, em Assunção, quatro camponeses inocentes: Rubén Villalba, condenado a 35 anos de prisão; Luis Olmedo, 20 anos; Arnaldo Quintana e Néstor Castro, 18 anos. Os demais sem-terra injustamente condenados, mas que já se encontram em liberdade são Lucía Agüero, Fani Olmedo e Dolores López, sentenciadas a seis anos de prisão; Juan Carlos Tillería, Alcides Ramón Ramírez, Adalberto Castro e Felipe Benítez Balmori, que cumpriram quatro anos.
Reconhecida historiadora e intelectual, a professora Margarita Durán Estragó recordou os inúmeros sacrifícios, as idas e vindas de mães bastante pobres que percorrem centenas de quilômetros para chegar a Assunção, superando as longas jornadas, a chuva, o calor e o frio para manter acesa a esperança de que seja reparado o crime do judiciário.
O prefeito Mario Ferreiro enfatizou que se somava ao clamor da sociedade estimulado pelo exemplo de abnegação daquelas mães, empenhadas “numa luta para recuperar a dignidade do povo paraguaio”. “Elas são nossas heroínas, nossas lutadoras. Oxalá tenhamos 1% da coragem de vocês, 1% da determinação que têm quando se instalam aqui para ver a justiça reparada no caso destes quatro companheiros que ainda estão presos, do que passaram muitos outros que saíram antes ou muitos outros que também estão lá abandonados pelo Estado paraguaio”, sublinhou o prefeito. Infelizmente, assinalou, “aqui se buscou culpados desde o primeiro momento, bodes expiatórios, e nunca chegar à verdade”.
Representatividade
Participando do evento, lideranças e ativistas como o senador Pedro Antonio, as deputadas Norma Camacho e Kattya González e o padre Pedro Velazco reforçavam o movimento de solidariedade, destacando a relevância da pressão para virar a triste página de injustiças e atropelos.
A própria presença dos familiares era um manifesto que falava por si. Carmen Quintana, mãe de Arnaldo Quintana, condenado a 18 anos e Élida Benitez de Castro, mãe de Adolfo Castro, um dos camponeses mortos, de Adalberto e de Néstor Castro. Irmã de Luis e Fermín Paredes, também assassinados em Curuguaty, Martina Paredes descreveu o sacrifício para a sustentação da Barraca e o empenho para libertar os presos, “vítimas de uma Justiça totalmente comprometida com o latifúndio e grupos de poder contrários aos camponeses”.
A pedido das mães, do alto de seus 89 anos, o Padre Oliva deixou as plantas de seus pés impressas ao lado da placa. “O pai Oliva deixou sua marca como pastor da igreja católica, ele esteve nos apoiando com suas missas ao longo de todos esses anos”, explicou Guillermina Kannonikoff, ex-presa política da ditadura de Alfredo Stroessner e coordenadora do movimento de solidariedade aos camponeses.
Guillermina informou que há uma expectativa de que na próxima quarta-feira (11) o Tribunal de Apelações dê uma resposta favorável ao recurso de cassação apresentado contra a sentença que incriminou os camponeses. “O pedido foi feito solicitando a anulação de todo este processo com milhares de erros processuais e atropelos de direitos. Esperamos a anulação da sentença. Queremos que os juízes nos dêem esta luz de esperança para que possamos voltar a acreditar na Justiça”, acrescentou.
Breve Histórico
No dia 15 de junho de 2012, um acampamento de menos de 60 camponeses em Curuguaty, metade deles mulheres, idosos e crianças, foi cercado por 324 policiais armados com fuzis e até helicóptero. A ordem de averiguação do local foi transformada por juízes corruptos em ordem de despejo, resultando em um “confronto” com o assassinato de 11 camponeses e seis policiais por franco-atiradores – com as digitais dos Estados Unidos. A mortandade serviu como pano de fundo para a derrubada do presidente Fernando Lugo, que confrontava interesses de multinacionais como a Monsanto, apenas uma semana depois. Foi o chamado golpe político express, com a atuação conectada do judiciário, da mídia venal e de um parlamento prostituído aos interesses estrangeiros.
Os camponeses que ocupavam a terra pública – Marina Kue significa Terra da Marinha, em guarani – foram condenados por “homicídio doloso”, “formação de quadrilha” e “invasão de imóvel”, sem que os juízes tenham conseguido comprovar nenhuma das acusações.
As balas que atingiram os policiais vieram de armas de grosso calibre – que não dispunham os sem-terra -, a “quadrilha” nada mais era do que um coletivo devidamente cadastrado junto ao Instituto Nacional de Desenvolvimento Rural e da Terra (Indert) para pleitear a reforma agrária. Para completar, vários testemunhos favoráveis aos acampados foram desconsiderados e ignorados, enquanto inúmeras provas – como a filmagem realizada pelo helicóptero da polícia – simplesmente desapareceram.
Que as estrofes do Canto de Esperança cantada por Ricardo Flecha e potencializada emotivamente pelo público presente ao final do evento comemorativo ganhem vida: “É longo o caminho, porém andando juntos, verás companheiro, que tudo é melhor, a estrela no peito, na boca uma flor, a música, o trigo, a paz, as crianças, o céu mais claro e azul, esta é a Pátria que eu quero viver!”.