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ToggleA mais difícil eleição dos últimos tempos no Brasil foi motivo de grandes expectativas aqui na Argentina e em toda a região latino-americana. A vibração da multidão brasileira, incluindo militantes e cidadãos comuns, que confluíram dos bairros à avenida Paulista na noite de 30 de outubro comemorando a vitória de Lula da Silva, repercutiu no mundo, marcando um ponto de inflexão histórica no Brasil.
Vale a dimensão qualitativa da força social que se destapa por trás da apertada diferença quantitativa (dois milhões) dos números nas urnas. Esses votos são a gota d’água, os poucos graus de temperatura que servem para o salto do estado sólido, ao fluido da democracia, dos direitos e da justiça social.
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Lula, o presidente operário pela terceira vez, venceu o lawfare e conseguiu juntar todos os elementos para esta transformação, este salto de qualidade e político. Lula declara que não arredará e tudo indica que será sempre a enzima deste processo:
“Eu vou começar a trabalhar, porque eu já fui presidente, eu já ganhei a primeira vez, e essa é a vitória mais consagradora porque derrotamos o autoritarismo e o fascismo neste país. A democracia voltou ao Brasil. As pessoas poderão voltar a sorrir; vão voltar a ter educação; e as pessoas que dormem embaixo da ponte, voltarão a comer, a ter casa e a ter trabalho”. Confira o discurso completo.
Certamente não há que subestimar o estrago político das fake news e de anos do ódio bolsonarista ainda vigente nas mentes envenenadas de boa parte da sociedade; e as forças conservadoras e oligárquicas ávidas para continuar desestabilizando.
Os bloqueios violentos de estrada da ultradireita bolsonarista, e seus chamados histéricos ao golpe militar, não surpreendem; estavam dentro das previsões, não só frente à sua derrota nas urnas, mas ao isolamento nacional e internacional em que se encontram.
O governo Bolsonaro reage diante da deserção de seus aliados na política, no mercado e no exército. Os bloqueios de estrada desnudam à sociedade a cara violenta e anti-social do bolsonarismo. Assustam, mas revelam que são a minoria frente às massivas, pacíficas e alegres manifestações por Lula presidente, pela democracia e pela vida.
Esteban Collazo – Presidência da Argentina
Lula e Cristina citam o passado para indicar o futuro. Recuperar sonhos que foram arrebatados. “Nós já os realizamos e sabemos como fazer”
A vitória de Lula torna-se sujeito e objeto de um mundo multipolar
A vitória da eleição de Lula inicia um percurso político que ainda encontrará percalços. Não só a atuação de fascistas e violentos (que não deverão ficar impunes frente à Justiça), mas o mercado que poderá oscilar e pressionar segundo seus interesses durante o próximo governo. Porém, é verdade que a vitória de Lula já conta com o apoio internacional, desde Biden a Xi-Jiping e Putin, boa parte da Europa e a América Latina em peso. E o concreto é que, no contexto mundial, a China, cujas relações com o Brasil vem de longa data desde os governos do PT, é a que tem maior potencial econômico para respaldá-lo rumo a um mundo multipolar. Não há dúvidas de que a Nova Rota da Seda na América Latina, via Brasil, se acelerará com o governo Lula.
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O Brasil, um subcontinente rico em minerais, energia, floresta, sol e água, com Lula na presidência, será sujeito importante na união dos governos progressistas da região por uma economia integrada de Estados soberanos. A derrota de Bolsonaro é desde já um freio político às intenções golpistas das forças neoliberais contra Castillo no Peru, Arce/Evo na Bolívia e Alberto/Cristina na Argentina. Não é casual que, Alberto Fernandez, quem foi solidário com Evo Moráles (durante o golpe na Bolivia), e visitou Lula na prisão em Curitiba, inaugurou o abraço latino-americano ao novo presidente eleito.
À vista, grandes acordos no plano energético e do comércio de produtos industriais entre a Argentina-Brasil, acionando o BRICS, e o Banco do Sul, com provável nova moeda única regional. A vitória de Lula já reativou as forças políticas na luta pela recuperação da Petrobrás, da indústria naval, das estatais e do aumento do salário mínimo. Da mesma forma na Argentina, a reativação do gasoduto de Vaca Muerta, em andamento, torna-se estrategicamente crucial também para o Brasil.
Lula chega à Presidência da República, após vencer uma grande batalha contra o lawfare
O lawfare, a Lava Jato, impediu que Lula fosse presidente em 2019 e impôs 4 anos de retrocessos no nefasto governo de Bolsonaro. Com a tenacidade dos grandes da história, Lula se agigantou nos 580 dias de prisão, enquanto as contradições econômicas internas dos próprios atores do lawfare se acentuaram. Lula enfrentou 21 causas fraudulentas revogadas por falta de provas pelo STF e todas as instancias do Poder Judicial. Não desistiu frente à violência midiática e das fakenews das corporações. Mobilizou o povo, venceu e voltou.
A trajetória comum entre Lula e Cristina Kirchner frente ao lawfare
Após o atentado sofrido há dois meses, Cristina Kirchner participa de seu primeiro ato público com trabalhadores e sindicalistas da UOM (União Operária Metalúrgica), entre os quais o novo dirigente Abel Furlan, e vários políticos kirchneristas. Cristina, a maior vitima do lawfare na Argentina, recebe o impulso da vitória de Lula e demonstra força para seguir seu exemplo nas eleições de 2023.Veja.
Neste discurso, saudou a eleição de Lula e recordou o dia 10 de dezembro de 2021, Dia Internacional dos Direitos Humanos, quando mais de 250 mil pessoas, confluíram à Praça de Maio em Buenos Aires, frente à casa Rosada, celebrando os 38 anos de Democracia reconquistada após a ditadura militar, com o advento do governo de Raul Alfonsín (1983). Leia.
Além da prisão, lições de irmãos vizinhos golpeados pelo lawfare fez Lula amadurecer
Nessa ocasião Lula esteve presente ao lado de Cristina, Alberto e o ex-presidente Mujica (Uruguai). Grande emoção de Lula da Silva frente a milhares de argentines e peronistas, que lhe cantaram: “Volver, vamos a volver!” (Voltar, voltaremos!). E Cristina lhe disse: “Não quero fazer previsões, mas sempre que cantaram isso, não se equivocaram”. Assim foi: Lula voltou a ser presidente.
Na última semana, o poder real, numa contraofensiva, retorna à carga dos ataques contra Cristina Kirchner, libertando os jovens componentes violentos da quadrilha envolvida (com provas) na gravíssima tentativa de magnicídio. Tudo indica que o lawfare continua vigente através de juízes da Câmara Federal e da Corte Suprema, encobrindo o grupo político de extrema-direita “Revolução Federal”, acusado pelo atentado à vice-presidenta e vínculos com membros do ex-governo Macri.
Poder real
O poder real na Argentina se atiçou com a derrota de Bolsonaro, resolveu reativar o lawfare e desengavetou várias causas passadas e sem prova contra Cristina. Leia. Já se iniciou a contra campanha midiática para impedir a reeleição da Frente de Todos em 2023.
Mas, Cristina Kirchner, que esteve a palmos de levar um tiro na cabeça, resiste com dignidade e força, recebendo o impulso de Lula, que disse na avenida Paulista: “Eu considero o momento que eu estou vivendo quase que uma ressurreição. Eu recuperei. Eles pensavam que tinham me matado, eles pensavam que tinham acabado com a minha vida política, eles me destruíram, me destruíram contando mentiras a meu respeito, e graças a Deus eu estou aqui firme e forte, e amando outra vez, e apaixonado pela minha mulher!… “
Lula: o Brasil vai voltar a sorrir. Cristina: quero ver o povo sorrir novamente. Lula como Cristina falam de voltar aos seus anos de governo, recuperar as medidas onde o povo não passava fome. Lula fala em nome da reconstrução diante do retrocesso econômico-social dos últimos anos com Bolsonaro. Cristina, fala estando no governo progressista, mas ainda vitimada pelo lawfare, enfrentando enormes embates para superar a herança maldita do macrismo: dívida externa impagável, pandemia e efeitos da guerra na Ucrânia.
Lula já conta com a grande crise no poder Judicial-Midiático (STF-Globo) que o permitiu estruturar uma Frente Democrática contra Bolsonaro. Cristina se defronta com a debilidade política de aliados internos da Frente de Todos; o que impede derrotar as grandes corporações do Partido Judicial-Midiático.
Projeto de nação
Porém, ambos falam em recuperar um projeto de nação e popular como nos melhores anos de seus governos, com grandes chances de recompor uma América Latina unida como nos melhores anos entre 2002/2015 com Néstor Kirchner e Hugo Chávez presentes, como Estados atuantes, cooperantes e com projetos sociais inclusivos.
Por isso Cristina, ao mesmo tempo que se defende dos ataques do lawfare que a querem eliminar, enfoca o horizonte e se ocupa de ideias. “Os sindicatos têm uma grande chave. Não discutir somente salários, mas um projeto de país”… “Os trabalhadores devem voltar a discutir um modelo político para o país”. “Não há solução sindical, sem solução política!”. E propõe salário fixo, além das chamadas paritárias (segundo a inflação).
“O que vimos no Brasil com Lula se repete com Kirchner na Argentina”, lembra jornalista
Lula e Cristina citam o passado para indicar o futuro. Recuperar sonhos que foram arrebatados. “Nós já os realizamos e sabemos como fazer”.
Certamente, é um grande desafio. Não será um passeio, apesar da conjuntura internacional ser de crise final agônica do capitalismo, há um contexto de guerra mundial com desfecho imprevisível.
Rui Falcão (PT), diz: “a governabilidade da nova gestão será prejudicada se mudanças forem promovidas em sentido diferente ao dos compromissos assumidos por Lula diante da população”. João Pedro Stedile (MST) fez sua justa avaliação e sobre a importância e conteúdo dos Comitês Populares. “A natureza das mudanças do governo Lula vai depender da capacidade que nós tivermos como forças populares de seguir organizando o povo para lutar pelas mudanças.
Na história da humanidade nunca houve mudanças sem a pressão popular.”… “Temos uma missão imediata nos próximos dois meses: fazer com que todos os comitês populares tenham vida própria, autônoma e que sigam se reunindo.” “Nós somos mais de 7 mil comitês populares articulados em sindicatos, por mandatos, por movimentos populares, por partidos. É importantíssimo que esses comitês se reúnam e tenham vida própria. E o que fazer de agora até 31 de dezembro? Discutir um plano de emergência para o governo Lula.” Leia.
Helena Iono | Colaboradora da Diálogos do Sul em Buenos Aires.
As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul
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