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Vitória de Milei não é uma derrota do peronismo

É bom entender que este fracasso não é nosso, é dos malabaristas de argumentos, das vedetes sem plumas que se pavoneiam nos tapetes vermelhos
Enrique Box
Diálogos do Sul
Buenos Aires

Tradução:

Em plena síndrome vertiginosa (isso que às vezes nos faz sentir como se caíssemos da cama, mas em meu caso a cada quinze segundos) aprendi que responder no princípio da ação era a melhor forma de cair da cadeira de rodas onde estive sentado.

Cuidado com isso a que nos incitam. Não vamos cair na armadilha, porque tudo está planejado pelo poder que sabe (ou pensa saber) quais vão ser nossas reações. Não façamos o que o poder quer e espera que façamos.

Primeiro vamos pela composição de lugar. Quem somos? Somos os que acreditavam que a dupla Alberto Fernández e Sergio Massa era peronista?

Bem, se não foi teu caso, estamos na mesma equipe e é bom entender que esta derrota não é nossa, é dos malabaristas de argumentos, das vedetes sem plumas que se pavoneiam nos tapetes vermelhos do servilismo ao poder.

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Nós somos esse setor da população que não necessita de contos de fadas, nem de beijar figurinhas para entender a política e que, para proceder, prefere a verdade por mais dolorosa que seja. Coisa rara, em um momento em que dizer a verdade é “fazer o jogo da direita”.

Mas eis que desde domingo, 19 de novembro, esta estrutura do marketing político “national and pop”, que acreditava mais em Durán Barba que em Perón, ficou despedaçada contra o paredão do absurdo. Mais vale que seja resgatada e saiba fazer uso do conveniente “mutis por el foro”, sumindo da cena política.

E com ela, toda essa direção artificial, paraquedista, posta a dedo pela mesa pequena (muito pequena) da superestrutura, porque nos vem levando de fracasso em fracasso que o povo tem que pagar com suas vidas. Frustrações, infelicidade, decepções. Pagamento injusto para quem trabalha dignamente.

“Loucura é pretender que as pessoas que estão em pânico raciocinem com medida”, escrevi em um trecho de minha nota de 7 de setembro, que chamei de “No caminho do suicídio cívico”.

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É bom entender que este fracasso não é nosso, é dos malabaristas de argumentos, das vedetes sem plumas que se pavoneiam nos tapetes vermelhos

Foto: Elad Abraham/Flickr
Primeiro devemos nos constituir, porque nenhuma vitória se obtém com desorganização

Em 24 de outubro, disse que houve mudança de figurinhas, e em 13 deste mês escrevi a nota “O Debate”, onde em minha análise advertia quanto a uma negociação obscura.

Que nível de necessidade é necessário para pretender que essa gente que estamos humilhando, esfomeando e martirizando com os preços, vote em nós? Se quando estamos no governo e com os amplos poderes confiados a Sergio Massa, a coisa é incontrolável, o que nos faria pensar que melhoraria depois das eleições?

A gente pode estar mal, mas com a promessa de um tratamento confiável encara qualquer coisa. Mas se a promessa é “algo vai me ocorrer depois, se votar em mim agora”, penso que não vai seduzir aqueles que têm pressa de soluções. Faltou o projeto do estadista e a mão firme do condutor da conjuntura.

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Agora só resta começar de novo. Pode parecer incerto, mas o êxito da caminhada depende de dar os primeiros passos e, se o destino está claro, as vontades vão se somando; isso é a construção social.

E deve-se dar prioridade a esta construção social, mesmo em meio aos absurdos que iremos ver sendo cometidos, porque uma coisa é certa: o mundo já não é o mesmo e, estes que vêm, chegam com as fórmulas do passado. Logo, tudo poderá ser restaurado se conseguirmos nos organizar.

Por isso, primeiro devemos nos constituir, porque nenhuma vitória se obtém com desorganização. A pátria não é “o outro”, a pátria é um, com os demais. Não esperemos nada de cima, vamos sair da pirâmide construindo nosso próprio círculo de confiança.

É agora ou nunca.

Enrique Box, el Olvejo Negro | Colunista na Diálogos do Sul, direto de Buenos Aires.
Tradução: Ana Corbisier


As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul

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