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Colômbia: camponeses criticam inércia dos acordos de paz e exigem cessar-fogo bilateral

Reunião entre o Comissionado de Paz e o governo colombiano, no domingo (8), terminou em tumulto em meio a ausência de líderes e falta de soluções
Jorge Enrique Botero
La Jornada
Bogotá

Tradução:

Tibú, norte-oriente da Colômbia. Vários dias de crescente expectativa sobre novos passos para alcançar a paz terminaram sem acordos entre o governo colombiano e as dissidências das Forças Armadas Revolucionários da Colômbia (FARC), cujas delegações se dispunham a instalar formalmente uma mesa de negociações acompanhada do cessar-fogo entre as partes. 

Os termômetros marcaram 40 graus de temperatura ao longo de uma jornada que devia começar às 8:30 da manhã, mas se prolongou até às 3:30 da tarde, em meio aos ânimos caldeados de cerca de três mil e quinhentos camponeses que acudiram ao encontro. 

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Representantes de umas 100 organizações de lavradores, assim como centenas de integrantes das chamadas “guardas camponesas” ameaçaram a delegação do governo de impedir sua saída do município caso o governo não expedisse um decreto de cessar-fogo. 

Com transmissão ao vivo pela televisão pública, debaixo de uma enorme barraca acondicionada com potentes equipamentos de som e telas gigantes de televisão, durante quase três horas desfilaram pelo palanque dirigentes camponeses que saudavam o começo das negociações, porta-vozes de regiões que clamavam pelo cessamento das hostilidades, crianças que cantavam à paz e rappers que esgotavam seu repertório, aproveitando a transmissão ao vivo que fazia a televisão. 

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Uma enorme mesa, atrás da qual se podiam ver dezenas de cadeiras vazias, logo chamaram a atenção de cerca de cinquenta jornalistas credenciados para a ocasião, os quais se perguntavam onde estavam as delegações das partes e porque não apareciam para anunciar o início oficial dos diálogos e o esperado cessar-fogo bilateral.

Reunião entre o Comissionado de Paz e o governo colombiano, no domingo (8), terminou em tumulto em meio a ausência de líderes e falta de soluções

Foto: Asociación Campesina del Catatumbo/Twitter
Reuniões terminaram sem acordos entre o governo colombiano e as dissidências das Forças Armadas Revolucionários da Colômbia

Uns rumores asseguravam que a guerrilha não aceitava a proposta cessar-fogo apresentada pelo governo e outros sugeriam que as delegações estavam estancadas em meio de debates sobre um par de palavras e várias vírgulas. As horas passavam e a mestra de cerimônia tirava do chapéu novos atores para encher a transmissão, tratando de manter a calma em um auditório que suava a jorros e começava a inquietar-se pelo atraso da cerimônia central. 

Por volta do meio-dia, Andrey Avendaño, o jovem chefe da delegação insurgente, deu uma volta pelo palanque, tomou o microfone e pediu paciência, anunciando que em questão de minutos chegariam seus colegas e os delegados do governo. 

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Por volta das 2h da tarde, quando a situação não tinha mais onde estirar: os elencos artísticos se esgotaram e a apresentadora do ato perdeu o controle do palanque que – pouco a pouco – se foi povoando de líderes comunais que subiam o volume de suas palavras e o calibre de seus adjetivos. 

Mulheres que alegavam ter viajado durante três dias para chegar a Tibú advertiam que não iriam embora com as mãos vazias, líderes agrários narravam que em suas terras a temperatura era de 15 graus e não pensavam “aguentar” aquele calor para regressar sem garantia de que não haveria mais estrondos de fuzis; jovens que alegavam ter sido testemunhas, quinze dias atrás, de um acordo entre o governo e a guerrilha para deter a guerra durante 10 meses, se revezavam no microfone em meio da crescente algaravia de milhares de pessoas que haviam suportado horas de espera a ponta de água e estoicismo.

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Como era de se esperar, às 2h10 da tarde a transmissão ao vivo foi interrompida, depois que as arengas se dirigiram contra o presidente Gustavo Petro e seu Comissionado de Paz, Danilo Rueda. Então, o auditório começou a dizer em coro a ameaça de que não deixariam sair dali os delegados do governo, ao mesmo tempo que exigiam à televisão pública que retomasse a transmissão. Discretamente, alguns porta-vozes do governo na mesa começaram a retirar-se, aproveitando que se anunciava a iminente chegada ao lugar do Comissionado de Paz. 

Suas palavras conseguiram apaziguar os ânimos, quando anunciou que governo e guerrilha haviam acordado uma suspensão temporária de operações ofensivas, passo prévio – disseram – para começar uma série de instâncias territoriais de diálogos. As ações ofensivas serão suspensas até 16 de outubro, dia em que o governo emitirá um decreto de cessar-fogo., que será replicado pela insurgência.

Em um comunicado emitido ao final da tensa jornada, as delegações asseguraram que “se requer um maior alistamento para pôr em marcha os mecanismos necessários para o cessar-fogo temporário, nacional e territorial, com ênfase na proteção da população civil”. 

O governo e o denominado Estado Maior Central das Farc completam catorze meses tratando de abrir uma negociação de paz, que se somaria à já existente com o Exército de Libertação Nacional, iniciada em novembro de 2022. 

Jorge Enrique Botero | La Jornada, especial para Diálogos do Sul – Direitos reservados.
Tradução: Beatriz Cannabrava


As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul

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As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul do Global.

Jorge Enrique Botero Jornalista, escritor, documentarista e correspondente do La Jornada na Colômbia, trabalha há 40 anos em mídia escrita, rádio e televisão. Também foi repórter da Prensa Latina e fundador do Canal Telesur, em 2005. Publicou cinco livros: “Espérame en el cielo, capitán”, “Últimas Noticias de la Guerra”, “Hostage Nation”, “La vida no es fácil, papi” y “Simón Trinidad, el hombre de hierro”. Obteve, entre outros, os prêmios Rei da Espanha (1997); Nuevo Periodismo-Cemex (2003) e Melhor Livro Colombiano, concedido pela fundação Libros y Letras (2005).

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