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Cannabrava: Gaza na idade da pedra; EUA, os únicos responsáveis pela guerra

O editor da Diálogos do Sul conversou com a Rádio Cairo sobre massacre contra os palestinos promovido por Netanyahu com o apoio de Washington
Paulo Cannabrava Filho
Diálogos do Sul Global
São Paulo (SP)

Tradução:

Na última segunda-feira (30), o jornalista e diretor da Diálogos do Sul Paulo Cannabrava Filho conversou com a versão em português da Rádio Cairo sobre a situação na Palestina.

Na entrevista, Cannabrava denunciou a massacre promovido pelas forças israelenses e o papel dos Estados Unidos no genocídio em curso: “Em Gaza, já não há onde colocar tantos mortos. Biden poderia resolver logo essa questão”, observa. No entanto, Washington opta por minar os esforços na ONU pelo cessar-fogo, aponta.

Autor de “A Nova Roma: Como os Estados Unidos se Transformam numa Washington Imperial através da Exploração da Fé Religiosa”, Cannabrava lembra que a violência sob comando de Netanyahu se equipara ao holocausto operado por Hitler. Um sinal da gravidade da situação é a indignação vista em diversos cantos do mundo: “Multidões nunca antes vista em Paris, em Londres, o povo exigindo paz e liberdade para o povo palestino, inclusive judeus horrorizados a dizer que esse governo e essa guerra não têm seu apoio”, ressalta.

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Confira a entrevista completa a seguir.

* * *

Rádio Cairo – O Brasil está assumindo agora a presidência rotativa do Conselho Internacional da segurança da ONU. Como o Brasil pode desempenhar um papel positivo neste conflito e o papel das instituições oficiais brasileiras em apoiar os esforços da paz e movimentos da solidariedade com o povo palestino?
Paulo Cannabrava – Joe Biden desembarcou em Israel em plena situação de guerra e prometeu apoio em bloco. Já havia dito antes, em nota oficial da Casa Branca, que falava em nome da Inglaterra, França e Itália. Como não dizer que esta é uma guerra dos Estados Unidos? Uma guerra que em poucos dias já custou quase 5 mil mortos. Em Gaza já não há onde colocar tantos mortos.

Biden poderia resolver logo essa questão, com só bastando parar de impor veto às resoluções da ONU. Fazer vigorar a resolução que estabelece dois estados, ou seja, reconhecer a soberania do povo palestino sobre seu território ancestral.

Leia também: Cannabrava | Genocídio em Gaza

Ao contrário disso, deslocou dois porta-aviões, os gigantescos Gerald Ford e Eisenhower, com seus caças artilhados, acompanhados de destróieres e submarinos, além de colocar em prontidão a 6ª Frota. Tudo isso para dissuadir o mundo árabe e muçulmano a não se meterem nessa guerra. 

No Conselho de Segurança da ONU, mais uma vez os Estados Unido vetam resolução apresentada pelo Brasil que cria situações que permitam socorrer e alimentar o povo palestino, com argumento de que não reconhece o direito de defesa de Israel. Resumo da ópera: Estados Unidos ficam como o único responsável pela situação, o único que pode apresentar soluções que agravem ou que resolvam o conflito.

Depois disso, a Assembleia Geral da ONU aprovou por 120 votos a favor, 14 contra e 45 abstenções, resolução que prega uma trégua humanitária imediata, estabelece um corredor humanitário e pede que Israel revogue a ordem de evacuação de Gaza, além de pedir também a libertação de civis presos.

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O editor da Diálogos do Sul conversou com a Rádio Cairo sobre massacre contra os palestinos promovido por Netanyahu com o apoio de Washington

Foto: State Of Palestina/Twitter
Cannabrava: Por toda parte, todos os dias, inclusive nos Estados Unidos, o povo nas ruas exige o reconhecimento da Palestina

A Causa Palestina vive nestes dias momentos difíceis e inéditos. Gostaríamos de saber sua visão sobre a situação atual e a importância do papel das comunidades e organizações civis especialmente no Brasil neste tempo e a opinião pública no Brasil.
Sem água, sem energia, sem combustível, sem telefone e internet, sem condições básicas de higiene, os palestinos de Gaza são obrigados a viver na idade da pedra. Sem água não há vida, sem energia nada funciona, e sem alimentos e higiene é a porta de entrada para o inferno.

Holocausto. O dicionário define como extermínio de parte de uma população. Os nazistas, sob o comando de Hitler, exterminaram judeus, ciganos e outras minorias pelo simples fato de não serem arianos. Os sionistas sob o comando de Netanyahu estão exterminando parte da população da Palestina, pelo simples fato de não serem judeus, um verdadeiro holocausto palestino.

Leia também: Cannabrava | Ofensiva de Israel para acabar com os palestinos

Holocausto é isso. É terra arrasada o que se vê pelas fotos e vídeos, os quais nem a mídia hegemônica que apoia Israel consegue esconder. Mesmo repetindo a cantilena de que a guerra é contra o Hamas, as imagens falam por si, é a população de 2,3 milhões de palestinos que está sendo sacrificada; 1,4 milhão obrigados a abandonar suas moradias no Norte e ir para um Sul que está sendo bombardeado e sem saída. 640 mil em instalações de emergência.

Discutir quem explodiu o hospital é irrelevante. O fundamental é discutir as causas dessa guerra, uma guerra de libertação nacional contra um regime terrorista de apartheid. Meditar sobre a desproporção desse confronto. Tanques armados com canhões ingleses contra uma juventude armada de pedras. Mais de 80% da população é de jovens e crianças.

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Hamas conseguiu fazer cerca de 200 prisioneiros enquanto Israel mantém mais de 5 mil palestinos presos. Uma troca justa, proposta pelo Hamas, é libertar os reféns a troco da liberdade dos presos palestinos. Mas Israel não quer, quer exterminar, é o único objetivo.

Netanyahu exagerou na dose e colocou o mundo em alerta e, ao mesmo tempo, em solidariedade ao povo palestino. Multidões nunca antes vista em Paris, em Londres, o povo exigindo paz e liberdade para o povo palestino, inclusive judeus horrorizados a dizer que esse governo e essa guerra não têm seu apoio. Por toda parte, todos os dias, inclusive nos Estados Unidos, o povo nas ruas a exigir o reconhecimento da Palestina.

[É preciso] meditar sobre a dimensão das forças armadas dos sionistas e sobre o apoio dos Estados Unidos, pois essa é mais uma guerra dos Estados Unidos, Israel é o operador.

No fim desta entrevista, qual é a sua mensagem para o povo palestino e a Rádio Cairo?
Quero agradecer à rádio Cairo, saudar o povo egípcio, sempre solidário à causa Palestina, e perguntar:

Por que essa guerra? As razões são as mesmas que para a guerra contra a Rússia em território da Ucrânia. O sistema capitalista fundado no Consenso de Washington, que a partir dos anos 1980 impôs no mundo a ditadura do pensamento único imposto pelo capital financeiro com a hegemonia dos Estados Unidos, está em crise terminal.

Leia também: Cannabrava | Palestina vive estrangulada por Israel, mas está viva e luta pela libertação

A guerra torna-se necessária para movimentar o complexo militar industrial e prolongar ainda por um tempo a hegemonia do imperialismo ianque, que não é só ianque, é também da Inglaterra e dos países da Otan. 

Nossa solidariedade incondicional ao povo palestino que luta para se livrar da opressão colonial imposta pela aliança entre o sionismo do apartheid e o imperialismo dos Estados Unidos.

Paulo Cannabrava Filho, jornalista editor da Diálogos do Sul e escritor.
É autor de uma vintena de livros em vários idiomas, destacamos as seguintes produções:
• A Nova Roma – Como os Estados Unidos se transformam numa Washington Imperial através da exploração da fé religiosa – Appris Editora
Resistência e Anistia – A História contada por seus protagonistas – Alameda Editorial
• Governabilidade Impossível – Reflexões sobre a partidocracia brasileira – Alameda Editora
No Olho do Furacão, América Latina nos anos 1960-70 – Cortez Editora

Assista na TV Diálogos do Sul



As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul do Global.

Paulo Cannabrava Filho Iniciou a carreira como repórter no jornal O Tempo, em 1957. Quatro anos depois, integrou a primeira equipe de correspondentes da Agência Prensa Latina. Hoje dirige a revista eletrônica Diálogos do Sul, inspirada no projeto Cadernos do Terceiro Mundo.

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