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ToggleO presidente da Colômbia, Gustavo Petro, regressou a Bogotá carregado de acordos e consensos com a Venezuela depois de uma visita de três dias a Caracas, na semana passada. O movimento deixou em evidência uma total reativação dos vínculos bilaterais, rotos por completo durante os quatro anos do governo de Iván Duque (2018-2022).
“A relação integral entre os dois países vai de vento em popa”, resumiu o presidente Nicolás Maduro ao fazer, junto a Petro, um balanço da visita oficial na qual as delegações de ambos os países trabalharam no incremento do comércio e – sobretudo – em ações para que ambos os países garantam sua segurança energética.
Venezuela e Colômbia fortalecem integração com novo acordo comercial
Este último tema ocupou a atenção principal na Colômbia depois do anúncio de Petro sobre a iminência de que a estatal petrolífera colombiana (Ecopetrol), e sua homóloga venezuelana (PDVSA), se associem para a exploração de campos de gás e de petróleo na Venezuela. O vizinho país, segundo o chefe de Estado Colombiano, se beneficiará com o fornecimento de eletricidade colombiana aos estados de Zulia, Táchira e Bolívar, situados do outro lado da fronteira de mais de 2.500 quilômetros que compartilham ambas as nações.
“Haverá energia elétrica colombiana para a Venezuela e matérias-primas fósseis venezuelanos para Colômbia”, explicou Petro, depois de advertir que isso sucederá até que os dois países transitem para o uso de energias limpas, “como sucede hoje com as nações que compõem a União Europeia”.
O anúncio de Petro sobre a associação da Ecopetrol com a PDVSA gerou reações adversas em setores políticos e analistas colombianos que consideram qualquer relacionamento com o vizinho país como um perigo e um sinal de que o governo colombiano está cada vez “mais tentado a optar pelo modelo econômico da Venezuela”.
Foto: Nicolás Maduro/X
“Todo o apoio da Venezuela para que vá adiante a estratégia de paz total do governo colombiano”, declarou Maduro
Álvaro Uribe
O primeiro a se pronunciar foi o ex-presidente Álvaro Uribe, por estes dias encurralado ante acusações de ex-chefes paramilitares sobre sua participação em massacres de camponeses, o qual escreveu em sua conta do X: “Arruínam a Ecopetrol ao associá-la com a PDVSA”.
Juan Camilo Restrepo, ex-ministro de finanças, qualificou de paradoxo o fato de que “proibimos exportar hidrocarbonetos na Colômbia, mas agora resulta que vamos nos associar com a Venezuela para fazer lá o que se proíbe aqui”.
Além das críticas sobre o tema energético, os analistas econômicos concordaram em que a nova fase das relações econômicas bilaterais só trará benefícios ao país, que teve por décadas a Venezuela como seu segundo sócio comercial, depois dos Estados Unidos.
Em declarações oficiais, Petro e Maduro constataram que depois de refeitas as relações diplomáticas, registram-se alentadores incrementos em matéria comercial e se puderam abordar construtivamente espinhosos temas como o da migração e a presença na fronteira de economias ilegais e forças armadas irregulares.
“Todo o apoio da Venezuela para que vá adiante a estratégia de paz total do governo colombiano”, sublinhou Maduro ao mesmo tempo que apelava aos seus ministros a conceder “prioridade” em sua agenda a todos os termos que tenham a ver com a Colômbia.
Este novo clima, que contrasta com a hostilidade do governo de Duque para com Caracas, fez com que Petro dissesse que a boa saúde da economia colombiana dependerá em grande medida de que se consolide uma “relação bilateral integral” com o vizinho país.
Polêmica por reunião de Petro com a elite empresarial e Uribe
O presidente Gustavo Petro se reuniu com a elite empresarial, em Cartagena de Índias, e com o ex-presidente Álvaro Uribe, em Bogotá, dois fatos que ocupam o centro da cena política na Colômbia e refletem a urgência do chefe de Estado colombiano por obter governabilidade em meio de um clima de extrema crispação, opinam analistas locais e dirigentes de diversas forças políticas.
A um mês dos adversos resultados eleitorais do partido do governo nas eleições regionais e depois de uma sucessão de episódios contra Petro que tiveram ampla divulgação midiática, o mandatário se reuniu durante mais de quatro horas com 10 dos mais importantes empresários “com mais peso econômico na produção nacional” com o fim de apagar os fogos que ameaçavam incendiar o país, em busca de sentar as bases para o que chamou de “diálogo nacional”.
Vitória da direita nas eleições regionais na Colômbia impõe desafios ao Pacto Histórico
Segundo Jorge Fernández, assessor do presidente e gestor do encontro, a foto de Petro com os donos da grande capital “envia uma mensagem muito potente aos colombianos e a outros empresários, uma mensagem de confiança, que é o que nos faz falta”.
Fernández referiu-se a “outros empresários” pois no encontro faltaram os representantes do poderoso Grupo Empresarial Antioqueño (GEA) e a beligerante família Gilinski, donos da revista Semana, considerada a trincheira da oposição mais radical ao governo. “Oxalá os empresários que tanto deram a este país não se confiem. Que saibam que Petro, que se reuniu com eles, é um lobo com pele de ovelha e que na realidade os odeia”, escreveu a diretora da publicação, Victoria Dávila.
Um comunicado emitido após o encontro em Cartagena afirmou que foram abordados temas como o papel de uma educação de qualidade no melhoramento da produtividade, a inclusão social nos territórios historicamente esquecidos, a necessidade de fazer mais produtivas as terras férteis hoje dedicadas exclusivamente ao gado e o fortalecimento do que o presidente chama de “economia popular”, através de sua inclusão por parte do setor financeiro.
“Tentamos construir com os empresários as bases para um acordo nacional que inclua os trabalhadores, o campesinato e as pessoas que desenvolvem a economia popular para construir objetivos que nos permitam pôr a Colômbia nas trilhas da paz e de uma democracia profunda”, explicou Petro em uma breve intervenção por todos os canais de televisão do país.
Reunião “muito boa”
Apesar de o governo e seus interlocutores qualificarem a reunião como “muito boa”, choveram críticas de diversos lados. Em conta no X, o ex-presidente Iván Duque escreveu: “quem não conhece a história está condenado a repeti-la”, e ilustrou sua mensagem com duas fotos: a de Petro em Cartagena e uma de Hugo Chávez quando era presidente da Venezuela durante um encontro com empresários de seu país no hotel Hilton de Caracas.
Nas redes sociais, porta-vozes e militantes de esquerda chamaram a reunião de “claudicação” e expressaram que “ao presente encurralado lhe tocou pedir cacao”, aludindo à forma coloquial como se denomina na Colômbia os ricos (cacaos).
O analista político Horacio Duque comentou ao La Jornada que Petro “está obrigado a manobrar para conseguir aliados e impedir que lhe aconteça o que sucedeu a Pedro Castillo no Peru. Ele não pode se deixar meter em um erro que o paralise e o impeça de executar o Plano de Desenvolvimento”.
Na tarde da última quarta-feira (22), o chefe de Estado recebeu na Casa de Nariño o ex-presidente Álvaro Uribe, feroz opositor às políticas sociais de Petro, para falar “ao calor de um tinto(café)” de uma das propostas-bandeira do governo, a reforma da saúde, cujo trâmite legislativo se encontra empantanado.
O encontro entre estes dois velhos rivais políticos ficou plasmado em outra fotografia na qual se vê que estão distendidos e até sorridentes, minutos antes de começar o diálogo, no qual participaram o ministro do governo e porta-vozes do Centro Democrático, partido do ex-presidente.
“Além das fotografias e das leituras que se façam delas, o importante é que o presidente ganhe governabilidade para levar adiante seu ambicioso programa de reformas sociais”, comentou Horacio Duque.
Jorge Enrique Botero | La Jornada, especial para Diálogos do Sul – Direitos reservados.
Tradução: Beatriz Cannabrava
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