Segundo a Polícia Federal, o esquema golpista foi organizado em seis grupos operacionais, envolvia 30 pessoas, sendo 4 civis e o restante militares, tendo alguns que aparecem em mais de uma agrupação.
De acordo com matéria publicada no Estado de São Paulo de 10 de fevereiro, a Polícia Federal, para melhor entender e investigar, separou os golpistas em seis núcleos, sendo:
- Núcleo de desinformação e ataques ao sistema eleitoral, com nove integrantes, sendo três civis;
- Núcleo responsável por incitar militares a aderirem ao golpe de então, com cinco integrantes, sendo apenas um civil;
- Núcleo Jurídico, com cinco integrantes, sendo três civis;
- Núcleo operacional de apoio às ações golpistas, com seis integrantes, todos militares;
- Núcleo de Inteligência paralela, com três integrantes, todos militares;
- Núcleo de oficiais de alta patente, com seis integrantes, sendo um almirante, Almir Garnier Santos e os generais Walter Braga Neto, Mario Fernandes, Estevam Theophilo Gaspar de Oliveira, Laércio Virgílio e Paulo Sergio Nogueira de Oliveira.
Não era homogênea a postura dos altos oficiais. Alguns, mais afoitos, queriam virar a mesa antes da eleição; outros, apegados ao discurso da fraude eleitoral, queriam, logo após apuração, não deixar o presidente tomar posse.
Desde o início do processo alertamos que o que estava a acontecer não era um mero processo eleitoral stricto sensu, mas sim uma operação da inteligência para captura do poder, planejada a sonhada com dez anos de anterioridade. Planejaram também a permanência no poder. Bolsonaro executou à perfeição as táticas de diversionismo.
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Foto: Nando Motta
Fomos vítimas de técnicas sofisticadas de guerra psicológica, com a mídia hegemônica exercendo um papel crucial nessa história
Tudo o que o agente incrustado na presidência dizia, cada frase por absurda que parecesse, fazia parte do plano, alimentava as manchetes dos jornais, desviando a atenção do público dos fatos essenciais, alguns perpetrados na calada da noite. Vejam como é diferente o comportamento dele agora, na tentativa de se firmar como líder da oposição.
Não era o capitão Bolsonaro que pretendia arrastar as forças armadas para a aventura golpista e no poder executar o projeto neoliberal de desmontagem do Estado. Eram as forças armadas como instituição do estado que utilizavam Bolsonaro para o necessário diversionismo. Fomos vítimas de técnicas sofisticadas de guerra psicológica, com a mídia hegemônica exercendo um papel crucial nessa história.
Por que não deu certo? Tinham até um plano B para a toma do poder, e não deu certo. É a pergunta que paira no ar e que está difícil de ter resposta. Uma hipótese, perderam o timing em discussões entre as tendências golpistas. Outra hipótese, tinham certeza de que ganhariam fraudando a eleição, mas, foram surpreendidos pela avalanche dos democratas que cerraram fila para eleger Lula. Dupla vitória de Lula, que venceu a eleição e venceu a fraude, se deram conta de que não havia correlação de forças para agir como planejado.
Uma terceira hipótese, os Estados Unidos, na última hora, pararam o golpe. Não esquecer que o Brasil participa com um oficial de Estado-Maior no Comando Sul. Apoiaram durante a campanha eleitoral na expectativa de que seriam vitoriosos. Como não deu certo, preferiram manter a institucionalidade. É conhecida promiscuidade entre os militares e os serviços de inteligência com Estados Unidos. Uma quarta hipótese é a que envolve todos esses fatores.
O ministro Alexandre de Moraes, encarregado da investigação sobre a intentona golpista, tornou pública gravação de uma reunião ministerial do dia 5 de julho de 2022, em que, diante da constatação de que Lula ganharia a eleição, discutiram ter um plano B para evitar a posse.
“Se a gente agir depois das eleições, vai ter um caos no Brasil, vai virar uma grande guerrilha, uma fogueira. Alguém tem dúvida de que a esquerda, como está indo, vai ganhar as eleições?”
A gravação da reunião estava num dos computadores do ajudante de ordens da Presidência, tenente-coronel Mauro Cid, apreendido pela Polícia Federal, e foi tornada pública.
Se tiver que virar a mesa, tem que ser antes da eleição, argumentava o general Heleno, ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional.
A institucionalidade se impôs, mas não há hipótese alguma de estar o Brasil livre da conspiração golpista. Só haverá tranquilidade quando pelo menos uma plêiade de generais forem punidos. Generais e seus subalternos que participaram da baderna em que se transformou a intentona de 8 de janeiro.
A questão militar precisa ser repensada. É necessário um começar tudo de novo e, para isso, só com uma Conferência Nacional sobre Segurança e Soberania. Que a inteligência do povo discuta e formule uma nova Doutrina Militar, as questões relacionadas com a soberania e os currículos nas escolas militares.
Paulo Cannabrava Filho, jornalista editor da Diálogos do Sul e escritor.
É autor de uma vintena de livros em vários idiomas, destacamos as seguintes produções:
• A Nova Roma – Como os Estados Unidos se transformam numa Washington Imperial através da exploração da fé religiosa – Appris Editora
• Resistência e Anistia – A História contada por seus protagonistas – Alameda Editorial
• Governabilidade Impossível – Reflexões sobre a partidocracia brasileira – Alameda Editora
• No Olho do Furacão, América Latina nos anos 1960-70 – Cortez Editora
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