“Estamos em uma situação de guerra, em meio à desinformação da mídia, desorganização e falta de esclarecimento sobre quais são os objetivos do Governo [Daniel Noboa] para resolver este conflito”, alertou a advogada equatoriana Angélica Porras Velasco, durante entrevista coletiva concedida aos jornalistas da Agência ComunicaSul na última quinta-feira (11).
Não é de hoje que o país andino vive uma crise social, política e econômica. Segundo ela, este cenário se deve a fatores externos como a migração do fluxo do tráfico de drogas e internos como a dolarização da economia, a implementação de políticas neoliberais, o desmonte do Estado, a criminalização dos movimentos sociais e perseguição aos governos progressistas.
A advogada, que participa da Ação Jurídica Popular, coletivo de intelectuais e cidadãos que atuam na reivindicação dos direitos constitucionais no país, apresentou dados alarmantes como o aumento significativo das mortes violentas no país que, durante o governo de Rafael Correa (2007 a 2017), era de cinco para cada 100 mil habitantes, hoje este número subiu para 43 e, em lugares com maior conflito, pode chegar a 100 ou mais.
Outro fator que, de acordo com Angélica, contribuiu para que o narcotráfico migrasse para o país é o fato de que a economia é dolarizada, o que facilita a lavagem de dinheiro. “A dolarização oferece o espaço adequado para lavagem de dinheiro do narcotráfico e os bancos são os maiores beneficiários deste sistema”, destaca.
Confira abaixo a íntegra da entrevista:
Além disso, a ascensão da direita e a atuação dos governos, nos últimos anos, em relação às políticas sociais favoreceram o aumento da desigualdade no Equador criando um ambiente propício para a atuação dos narcotraficantes. “Lenín Moreno e Guillermo Lasso e suas políticas neoliberais eliminaram as políticas públicas para as questões sociais, desmontaram o Estado, não investiram em segurança, educação, tudo isso com o apoio dos meios de comunicação”, critica a equatoriana.
Neste sentido, ela fala sobre o papel que a mídia hegemônica exerce para legitimar a violência. “Os grandes meios de comunicação contribuem para a ideia de que a paz se consegue com bala. Esse discurso está se impondo em nosso país, é fundamental o apoio para esta discussão: se opor aos militares não é estar ao lado do narcotráfico”, ressalta.
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Organizada por ComunicaSul, Barão de Itararé e Diálogos do Sul, conversa contou com participação de Leonardo Wexell Severo e Caio Teixeira
Ao ser questionada sobre como os países latinoamericanos podem contribuir para uma resolução da crise equatoriana, Angélica disse que “é importantíssimo que os países amigos nos ajudem a passar por essa situação”, ela acredita que também é necessária a “criação de um Conselho de Segurança regional que planeje a política de enfrentamento das drogas na América do Sul com liderança de países como Brasil ou México”, informa.
Organizado pela ComunicaSul em parceria com o Centro de Estudos da Mídia Alternativa Barão de Itararé e a Diálogos do Sul, a conversa contou com participação de Leonardo Wexell Severo (repórter da editoria internacional do jornal Hora do Povo) e Caio Teixeira, jornalistas da ComunicaSul que cobriram in loco a eleição no país irmão, realizada entre agosto e outubro. Também integrantes da ComunicaSul, Vanessa Martina-Silva (editora da Diálogos do Sul) e Felipe Bianchi (jornalista do Barão de Itararé).
Érika Ceconi | ComunicaSul
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