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ToggleCompletaram-se três anos da explosão social de 18 de outubro de 2019 no Chile e o presidente Gabriel Boric fez da data uma ocasião para reivindicar o levantamento popular em demanda de transformações estruturais, mas condenando os inúmeros atos de violência que o acompanharam, inclusive a destemperada repressão policial. Ao mesmo tempo, ele pediu à oposição avançar urgentemente nas reformas que ataquem as graves carências que provocaram a revolta.
“Há três anos milhares de pessoas se manifestaram expressando um mal-estar acumulado por longo tempo, que clamava por maior justiça, igualdade e o fim dos abusos. Se manifestaram para que nem o tamanho da carteira nem o lugar de nascimento fossem condição para ter acesso a uma vida segura, uma saúde digna, a uma educação de qualidade e pela necessidade de contar com pensões que garantam aposentadorias dignas após uma vida de esforço”, disse a partir da sede do governo.
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“A explosão não foi uma revolução anticapitalista e, tampouco, como alguns têm dito nos últimos dias, uma pura onda de delinquência. Foi uma expressão de dores e fraturas de nossa sociedade que a política, da qual somos parte, não soube interpretar nem dar respostas”, afirmou, agregando que “expressou e trouxe muita dor e deixou enormes sequelas”, comprometendo-se a que “não vamos permitir que seja em vão”.
Houve, disse, muitas advertências do mal-estar cidadão, mas a política foi incapaz por anos de acordar soluções ao ponto que “ainda não concretizamos as reformas que resolvam a debilidade dos direitos sociais, em saúde, pensões, educação, saúde mental, cuidado da infância e paz” e a demanda de dignidade.
Reivindicou as reformas estruturais propostas em seu programa de governo, mas admitiu que estão bloqueadas ao ser minoria legislativa e porque não há acordo no mundo político.
Brasil 247
Gabriel Boric, presidente do Chile
Crítica à violência social e policial
O presidente fez significativas reflexões em torno à violência que acarretou a explosão, à brutalidade com que respondeu o governo de Sebastián Piñera, com gravíssimas violações aos direitos humanos cometidas pela polícia durante a repressão dos protestos, causando dezenas de mortes, centenas de feridos, mutilados e abusos sexuais.
“É indispensável que na democracia os abusos policiais sejam investigados e sancionados; não só é um ato de justiça às vítimas, mas também é um ato de justiça com a instituição policial, cujo trabalho não deve ser confundido com atuações que foram gravíssimas e condenáveis, porque não são representativas do trabalho diário que mais de 60 mil carabineiros realizam dia a dia”, afirmou.
Estallido social no Chile: 3 anos depois, persistem carências que levaram povo às ruas
Também assinalou que, desde o protesto, houve “condutas violentas destrutivas” que agiram “contra as próprias causas da explosão ao produzir uma crescente onda de rechaço na sociedade, cansada de ver como o vandalismo destrói os bairros, o comércio e o patrimônio, abrindo passo a ações que são delitivas”.
Colocou que “desde a esquerda, devemos ser mais categóricos que ninguém em pôr um dique a essas condutas, em enfrentá-las sem complexos, denunciá-las e castigá-las. O protesto social não pode ser sinônimo de violência, não pode encobri-la nem a justificar, porque vai contra seus princípios e seus propósitos, e contra a sua vocação de maioria para mudar a realidade”.
O dia transcorreu com pequenas mobilizações em diversas cidades do país, algumas acompanhadas de incidentes e barricadas, com 25 mil carabineiros nas ruas, as quais na metade da tarde começaram a esvaziar-se pois os escritórios públicos, privados e os comércio fecharam as portas mais cedo, enquanto o transporte público foi retirado antes do anoitecer. À medida que caia a noite, em setores populares se acendiam fogueiras e bloqueavam avenidas.
Aldo Anfossi | Especial para o La Jornada, desde Santiago do Chile.
Tradução: Beatriz Cannabrava.
As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul
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