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Foto: Reprodução - Facebook de UTEP

Marcha de professores e estudantes é a maior contra Milei e dá aula sobre defesa da Educação

A enorme mobilização desta terça-feira (23) foi também a maior em muitos anos e deixou evidente que o governo terá problemas se buscar destruir a educação pública
Luis Bruschtein
Resumen LatinoAmericano
Buenos Aires

Tradução:

Guilherme Ribeiro

Ao longo de 2024, houve três grandes marchas na Argentina contra Milei.

A primeira marcha foi do movimento operário, em 24 de janeiro, contra o DNU, a lei omnibus e a flexibilização trabalhista; a segunda foi em 24 de março, pelos direitos humanos. E esta foi a terceira grande marcha contra o governo de Javier Milei, mobilizada pela comunidade educativa em defesa da educação pública. E a cada vez foi maior. O espírito da produção e do trabalho representado nos trabalhadores, o espírito moral e ético simbolizado pelas Mães e Avós e o espírito cultural do país alimentado pelas escolas, colégios e universidades, foram os atacados por este governo e os primeiros a reagir. Há mais do que três marchas em jogo, entre as três, além de sua massividade, expressam a essência de um país. Para este governo, tudo é corrupção, exceto os corruptos, a quem concebe como “heróis” que fogem com milhões, abusam dos preços ou especulam no mercado financeiro.

Foto: Reprodução – Facebook de UTEP

O governo desprezou esta marcha porque – disseram – foi organizada e participaram aqueles que não querem a auditoria das universidades. “São aqueles que se beneficiam com este sistema de corrupção e não querem perder seus benefícios”, disseram pela televisão. E Patricia Bullrich a qualificou como “estranha”. Defender a universidade que o governo quer fechar é “estranho”. Todo o relato se baseia em grandes mentiras que se reproduzem nas redes até o infinito, porque as universidades têm seus próprios sistemas de auditoria.

Mas tudo é corrupção, exceto os corruptos. Assim como Mauricio Macri, falam do negócio dos direitos humanos e quando não podem comprar os sindicalistas, os acusam de corruptos. Mas a verdadeira corrupção, a que equivale a um PIB, é a que fugiu com 400 bilhões de dólares, os donos das offshores que recebem Milei no Llao Llao, os que estrategicamente colocaram seus gerentes nas decisões de política econômica e nas empresas do Estado.

As mãos invisíveis do mercado não são tão invisíveis, mas se escondem por trás dos ataques aos pontos mais sensíveis, como os trabalhadores, os direitos humanos e a educação. Este país deixaria de existir, ruiria, se destruíssem esses pilares.

A enorme mobilização desta terça-feira (23) foi a maior em muitos anos. As fotos aéreas o reafirmam. A Praça e as avenidas laterais, mais toda a Avenida de Maio até parte da Praça dos Dois Congressos, as diagonais, Rivadavia e Irigoyen, repletas. Mais as grandes mobilizações que ocorreram em Mar del Plata, Córdoba, Tucumán, Misiones, Mendoza e outros lugares, deixaram evidente que o governo terá problemas se buscar destruir a educação pública.

Nas três marchas houve uma parte que foi a todas, mas em cada uma se somam muitos manifestantes novos. E aquele que vai uma vez, já não desce, porque o encontro físico com outras pessoas que pensam parecido e agem em comum destrói preconceitos e dilui o preconceito sobre o qual se baseia todo o discurso antipopular ou mesmo antimilitante, ou antipolítico, que são os antis que funcionam como cola para o discurso desarmador da direita.

Foto: Edgardo Gómez

Nesta marcha havia muita gente sem se alinhar. E havia colunas que quase nunca compartilharam a rua, como as de agrupações peronistas estudantis e a Franja Morada do radicalismo. Essa mesma mistura se dava na multidão.

É provável que as mobilizações não mexam no amperímetro de Milei, que passou a tarde nas redes, assim como seu vice que tentou humilhar Hebe de Bonafini. Milei confia mais em seus modelos matemáticos que, como tais, nunca são a realidade, mas sua representação: um modelo de números sem seres humanos, como os que mostrou na cadeia nacional de rádio e televisão na segunda-feira (22). Ele se interessa por esses números voadores e não pelos seres humanos, imperfeitos e corrompíveis. Mas cuidado, as frias matemáticas são manipuláveis e manipuladas neste caso.

Foto: Somos Télam

Um detalhe que evidenciou a diversidade dos manifestantes que compareceram às marchas foi a profusão de cartazes caseiros. Nas marchas anteriores havia alguns. Mas nesta terça estava repleto de cartazes com mensagens inventadas por seus portadores, escritas com marcadores de diferentes cores em folhas, cartolinas ou papelão. Uma reportagem do Página/12, dá conta desse fenômeno. Não é preciso pensar muito: centenas ou milhares de professoras e professores se reúnem, preparam a marcha como se fosse uma aula, com seus cartazes didáticos ou engraçados para seus alunos. É difícil imaginar uma marcha de ferroviários, por exemplo, com cartazes escritos à mão com marcadores de diferentes cores.

Como esses caras que governam conhecem pouco o país real. Esses cartazes são uma aula na escola pública. Ninguém as obriga a levar um cartaz. É o que fazem os professores em seu tempo “livre”, porque é o que está no sangue de ser professor. “A educação nos torna livres”, diz um que reivindica a verdadeira liberdade e não a que estes charlatães ridicularizam. E há outro que é para refletir: “Luto por uma educação que nos ensine a pensar e não por uma educação que nos ensine a obedecer”.

Resumen Latinoamericano


As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul do Global.

Luis Bruschtein

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