Embora os voos tenham sido autorizados pela Administração Nacional de Aviação Civil, as autoridades argentinas negaram combustível aos aviões da Cubana de Aviación para retornarem à ilha. Desta forma, a rota aérea Havana-Buenos Aires foi suspensa, porque os fornecedores de combustível se recusaram a abastecê-la, criando problemas aos argentinos que querem retornar [à ilha] e mostrando o total alinhamento do governo de Javier Milei com as diretrizes dos Estados Unidos.
A empresa Cubana de Aviación, companhia aérea da República de Cuba, informou aos seus operadores turísticos que teve que cancelar voos para Buenos Aires porque as empresas de combustível se recusaram a fornecê-lo. Afirmou que a Administração Nacional de Aviação Civil da Argentina (ANAC) invocou disposições das medidas de bloqueio dos Estados Unidos contra Cuba.
A empresa cubana indicou que estava processando a transferência de passageiros para voos de outras companhias comerciais que operam a mesma rota, pelo que indicou que os passageiros estariam “protegidos na medida em que haja lugares disponíveis”.
A recusa das empresas em fornecerem combustível aos voos autorizados pela ANAC ressoa em meio aos últimos gestos de alinhamento total ao governo de extrema-direita de Javier Milei com a Casa Branca, expressos nos recentes atos do presidente com a chefe do Comando Sul dos EUA, a General Laura Richardson, e outros altos funcionários da sua administração, como o chefe da inteligência dos EUA, William Burs.
Milei havia decidido nos primeiros dias de governo não nomear um embaixador em Cuba nem na Venezuela e na Nicarágua, enquanto após a mudança de governo a Aerolíneas Argentinas decidiu suspender seus voos para Havana.
Cubana de Aviación não apenas denunciou a “abrupta” decisão das provedoras de combustíveis de esgrimir as penalidades impostas pelos Estados Unidos para as empresas que têm relações comerciais com Cuba, mas também que “se estendeu a outras linhas aéreas contratadas” pela aerolínea da ilha. Enquanto isso, aos passageiros que aguardavam em Havana sem terem iniciado o processo de embarque, foi garantido o reembolso da passagem.
Cubana destacou que a atuação dos fornecedores argentinos está além de qualquer decisão da companhia, o que indica que o governo argentino, que já havia suspendido os voos da Aerolíneas Argentinas para Havana, não permite que a (ainda) estatal Yacimientos Petrolíferos Fiscales (YPF) forneça combustível aos aviões da Cubana de Aviación, e toma a decisão de aderir ao bloqueio dos Estados Unidos contra Cuba, de 63 anos, aprofundado até à asfixia com mais de 250 novas medidas que foram decididas durante o governo do republicano Donald Trump e apoiadas pelo atual governo democrata de Joe Biden.
“A mão peluda do bloqueio aliada à motosserra de Milei. Todo um relacionamento carnal. Que vergonha para o governo argentino”, disse nas redes sociais o influente jornalista cubano Randy Alonso. A recusa de fornecimento de combustível ocorre quase um ano depois de a companhia aérea cubana ter retomado as viagens à Argentina. Estas sanções, agravadas durante a presidência de Donald Trump (2017-2021), sem que o seu sucessor Joe Biden as tenha flexibilizado, contribuíram em grande medida para o aprofundamento da pior crise econômica de Cuba em três décadas.
A ANAC não comentou a reclamação da companhia aérea cubana. As sanções de Washington contra Cuba incluem empresas que fazem negócios com Havana. No entanto, é pouco comum que as empresas de postos de gasolina neguem combustível aos voos da Cubana de Aviación, que também tem rotas para Madrid e Caracas, entre outros.