Conselhos e lições da resolução diplomática da crise de mísseis nucleares soviéticos em Cuba há 60 anos são relevantes hoje diante de uma nova crise que inclui a ameaça de um desastre militar nuclear em torno da guerra na Ucrânia.
Documentos oficiais estadunidenses desclassificados incluem um documento secreto do embaixador estadunidense ante a Organização das Nações Unidas, Adlai Stevenson, ao seu chefe, o presidente John Kennedy, em 17 de outubro de 1962, onde lhe adverte que deveria descartar as recomendações de outros assessores de atacar Cuba e em seu lugar buscar uma via diplomática, oferecendo um guia diplomático ante a ameaça soviética, “chantagem e intimidação, nunca: negociação e cordura, sempre”.
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Stevenson recomendou, no início dos famosos 13 dias da crise dos mísseis, oferecer o desmantelamento de bases de mísseis na Europa em troca da retirada dos mísseis soviéticos em Cuba, e foi assim que finalmente se conseguiu superar a pior crise nuclear entre os dois poderes.
Kennedy chegou a um acordo secreto, que não seria revelado por quase três décadas, com o mandatário soviético Nikita Kruschev, para retirar os mísseis estadunidenses Júpiter na Turquia em troca da retirada dos mísseis soviéticos em Cuba.
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Oficialmente, só se anunciou que Moscou retirava seus mísseis de Cuba em troca de um compromisso de Washington de não invadir a ilha no futuro, resume uma análise da documentação oficial pelo National Security Archive – centro independente de investigações e documentação sobre relações internacionais em Washington.
Para consumo público, Washington promoveu a narrativa de que os soviéticos haviam desistido diante da posição firme dos Estados Unidos.
“Nem Stevenson nem a diplomacia secreta encabeçada por Kennedy que resolveu o conflito mais perigoso na história moderna receberam um pleno reconhecimento e crédito. A postura de Stevenson, “chantagem e intimidação, nunca; negociação e cordura, sempre”, é mais relevante hoje do que nunca”, comentou Peter Kornbluh, diretor do Projeto de Documentação sobre Cuba do National Security Archive (NSA).
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Stevenson advertiu que ataque a Cuba teria “consequências incalculáveis” e aconselhou Kennedy a descartar ofensiva militar
No 60º aniversário da crise dos mísseis, o NSA publicou documentos oficiais desclassificados sobre o papel de Stevenson, incluindo seu memorando privado a Kennedy, suas recomendações secretas por um esforço de desarmamento respaldado pela Organização das Nações Unidas para resolver a crise e outras parecidas no futuro, entre outros.
Estes se somam a outras coleções do arquivo de documentos oficiais sobre outros aspectos da crise dos mísseis.
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Kornbluh e outros analistas assinalam que as lições da crise dos mísseis, sobretudo a ênfase que imperou em buscar uma solução política e não empregar a opção da força, devem ser aplicadas na conjuntura atual, na qual o presidente Joe Biden comentou há só alguns dias que, “pela primeira vez desde a crise dos mísseis cubanos, temos uma ameaça direta sobre o uso de armas nucleares”, advertindo que o mundo enfrentava um possível “Armageddon” (apesar de que não existe nova informação de inteligência, teve que esclarecer a Casa Branca).
Stevenson advertiu que um ataque sobre Cuba teria “consequências incalculáveis” e, portanto, aconselhou Kennedy a descartar as recomendações de outros assessores a favor de respostas militares à presença dos mísseis em Cuba, relata Kornbluh ao resumir detalhes do desenvolvimento da negociação que resolveu a crise dos mísseis em um artigo publicado na Foreign Policy.
Entre os conselhos mais importantes de Stevenson, estava a abertura de um canal de comunicação com Moscou e Havana, e foi por meio dessa iniciativa que o irmão do presidente, Robert Kennedy, e do embaixador soviético em Washington, Anatoly Dobrynin, conseguiu realizar as negociações secretas, entre as duas potências nucleares, culminando com o anúncio público em 28 de outubro de que a crise havia sido superada pela diplomacia.
David Brooks | Correspondente de La Jornada em Nova York.
Tradução: Beatriz Cannabrava.
As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul
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