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ToggleOs fatos ocorridos na cidade de Las Tejerías, estado de Aragua, em 8 de outubro, deixaram, de acordo com os balanços divulgados nos últimos dias, 54 mortos, 56 desaparecidos, 123 casas em zona de risco e 780 casas afetadas.
Anomalias climáticas e localizadas
Organismos multilaterais como o Painel Intergovernamental sobre a Mudança Climática (IPCC, em sua sigla em inglês) relataram que, como consequência da crise climática global, distintas regiões do planeta experimentaram eventos meteorológicos extremos. Isto, somado às complexidades do hábitat humano, produz catástrofes em que as vítimas costumam ser comunidades populares localizadas em espaços próximos a corpos d’água, como as quebradas ou canais.
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Em uma entrevista a VTV, o presidente do Instituto Nacional de Meteorologia e Hidrologia (Inameh), coronel José Pereira, indicou que, depois do meio dia de sábado 8 de outubro último, houve uma grande precipitação, “consequência do violento furacão Júlia que afetou o Caribe”, onde praticamente “em seis horas caiu a precipitação de um mês” na zona de Las Tejerías.
Ele destacou que a estação que o Inameh tem no centro da cidade afetada recolheu 108/lm² e que nas zonas montanhosas isso pode ter chegado a 150 ou 200/lm².
A onda tropical número 41 tornou-se a depressão tropical número 13 durante sua passagem pelo norte da Venezuela; dela se originou o furacão Júlia que afetou a América Central. Desde a madrugada do dia 6, foram registradas chuvas intensas em vários estados do país, deixando como consequência rios transbordados, deslizamentos de terra, equipamentos urbanos inundados e árvores caídas.
O titular do Inameh alertou que o acúmulo de chuva poderia causar deslizamentos de terra em zonas montanhosas e inundações em zonas baixas, como vales.
Cabe esclarecer que:
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Uma onda tropical é um canal de baixa pressão que se desloca de leste a oeste pelo oceano Atlântico; atrás de seu eixo geram-se aguaceiros e descargas elétricas. Pode ainda propiciar a formação de ciclones tropicais.
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Uma depressão tropical é o nascimento de um ciclone tropical com ventos máximos constantes cuja velocidade pode ser menor ou igual a 64 km/h. Se se intensificar e a velocidade dos ventos aumentar, torna-se uma tormenta tropical.
Mission Verdad
O presidente Nicolás Maduro declarou a região como "zona de desastre e catástrofe natural" e anunciou três dias de luto pelas perdas humanas
Por que Las Tejerías inundou?
O município Santos Michelena, do estado Aragua, está localizado no eixo oriental do Norte de seu território circunscrito, ao pé da serra litorânea. Com uma superfície de 220 km² e uma população próxima de 55 mil habitantes, pertence à bacia do Mar Caribe; seus rios desembocam no Tuy, que o atravessa de oeste a leste. Outro é o rio Cagua, além de Caño Amarillo.
A zona possui uma vegetação seca e está rodeada por bosques secos e capinzais, que são suscetíveis ao desmatamento por incêndios florestais em zonas escarpadas com canais, com contínuos processos de erosão e barrancos, em alguns casos com perigo de deslizamento em massa.
As precipitações ocorridas durante mais de 15 dias saturaram a bacia alta na zona e fizeram que os solos se tornassem permeáveis. Na terça-feira anterior, 4 de outubro, a onda tropical 41 tinha ganho energia sobre águas a 30ºC, e se transformou em depressão tropical perto de Los Roques. No dia anterior chovera o equivalente a um mês de outubro típico, sendo que outubro é um dos meses mais chuvosos. O sábado amanheceu claro no norte da Venezuela e a excessiva evaporação da precipitação dos dias anteriores derivou em chuvas e descargas elétricas durante a tarde.
Contudo, este não foi o único motivo do deslocamento de rochas, vegetação e sedimentos. Desde 2020 está ativado o padrão climático denominado La Niña, que ocorre quando os ventos alísios são muito fortes no Caribe, aumenta o nível da água fria na zona equatorial e a temperatura do mar fica abaixo do normal; é oposto às condições do El Niño.
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Os efeitos de La Niña e de El Niño, que vão desde secas a inundações, de chuvas intensas a furacões, dependem sempre da zona da oscilação: pode produzir indistintamente secas na América Latina, nevadas intensas na zona norte dos Estados Unidos ou secas na Austrália ou nas ilhas do Pacífico.
A Administração Nacional Oceânica e Atmosférica dos Estados Unidos (NOAA) e outras organizações meteorológicas da América Latina já tinham prognosticado há um par de meses “uma Niña de intensidade moderada” podendo influir nos últimos meses da atual temporada ciclônica no Atlântico, que foi particularmente ativa.
Acrescenta o informe que, em anos anteriores, fortaleceu-se desde 2020 com uma longa temporada de furacões no Atlântico, condições de seca na América do Sul e fortes chuvas na América Central e no norte da América do Sul. Na América Latina se manifesta de duas formas totalmente diferentes:
Chuvas intensas e abundantes, aumento da torrente dos rios e posteriores inundações na Venezuela, Colômbia, Equador e no norte do Brasil.
Condições de seca no Peru, Bolívia, sul do Brasil, Argentina e Chile.
Resposta das autoridades e do povo venezuelano
O presidente Nicolás Maduro declarou a região como “zona de desastre e catástrofe natural” e anunciou três dias de luto pelas perdas humanas registradas. No dia 11, foi instalado um Posto de Comando Presidencial na cidade afetada. Nesta data obtiveram-se alguns avanços:
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95% da eletricidade da zona está recuperada.
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100% da telefonia móvel foi restabelecida.
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Estão em abrigos 442 famílias.
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Foi estabelecido o pagamento de um bônus aos habitantes do local.
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O vice-presidente setorial de Obras Públicas e Serviços, Néstor Reverol, informou que são mantidos mobilizados mais de mil trabalhadores em oito frentes de atenção para monitorar vias principais, quatro quebradas e o eixo transversal do Rio Tuy. Neste último encontram-se 17 equipamentos.
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A Assembleia Nacional designou uma comissão de deputados para organizar a ajuda e o acompanhamento das vítimas.
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Disponibilização de 450 casas da Gran Misión Vivienda Venezuela (GMVV) para as famílias de Las Tejerías afetadas, além da avaliação de terrenos com condições necessários para a construção de novas casas.
Além disso, distintas expressões do povo organizado e de instituições do Estado ativaram espontaneamente centros de recepção para receber roupa, calçados, água potável, medicamentos, lencería, utensílios básicos para cozinhar, alimentos não perecíveis, colchonetes, lençóis, toalhas e fraldas. A solidariedade em ação foi geral entre a população nacional.
Distintas missões se dispuseram a ir à zona, entre elas a Missão Alimentação, que transferiu proteína e ítens secos para as famílias afetadas.
#SinFiltros| altas autoridades #venezolanas encabezadas por la Vicepresidenta @delcyrodriguezv supervisaron la remoción de escombros, distribución de insumos a los damnificados de #Tejerías.
Un equipo de expertos del Instituto de Geógrafos Nacional se instalará en el sitio. pic.twitter.com/qVpz14eVeZ— Madelein Garcia (@madeleintlSUR) October 13, 2022
A vice-presidenta Executiva da República, Delcy Rodríguez, participou de uma reunião com a comunidade científica para receber as recomendações, propostas e soluções das zonas afetadas. De helicópteros militares foram lançadas cargas contendo alimentos, água e objetos que chegam de paraquedas às zonas de difícil acesso.
FANB en operaciones aerotransportadas de abastecimiento logístico en las montañas de Las Tejerías. #LasTejeriasRenacerá pic.twitter.com/vfNeAYjVpV
— GJ. Domingo Hernández Lárez (@dhernandezlarez) October 12, 2022
Permanente acompanhamento
O Inameh informou na semana passada que três novas ondas tropicais chegariam à Venezuela ainda em outubro, para completar as 35 que afetaram o território nacional.
No dia 6, um prognóstico da instituição informou que a número 43 já se encontrava no norte do país, afetando em sua passagem alguns estados do oriente e avançando a 27 km/h em direção a oeste, a partir do Oceano Atlântico em sentido América Central e Caribe.
A onda tropical número 44 se encontrava no Atlântico Central tropical, enquanto que a 45 já avançava para o oeste de Cabo Verde, no continente africano, caminho para a zona caribenha.
Redação | Mission Verdad
Tradução: Ana Corbisier
As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul
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