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Resultado do 1º turno mudou quando igrejas entraram na disputa, mostra estudo da USP

Segundo o professor e pesquisador Raphael Corbi, quando os setores religiosos iniciaram campanha, Bolsonaro teve uma boa arrancada
Maria Fernanda Barros
Jornal da USP

Tradução:

O Brasil possui uma das maiores populações cristãs do mundo — conforme constatou a pesquisa DataFolha de 2019, 50% dos brasileiros se declaram católicos e 31%, evangélicos. Qual o impacto de tal hegemonia religiosa na política institucional do País? Essa questão é a proposta de análise do Centro de Estudos da Religião e Políticas Públicas (Cerp), grupo de pesquisa da Faculdade de Economia, Administração, Contabilidade e Atuária (FEA) da USP. Por meio de uma varredura de dados sobre o comportamento de lideranças religiosas influentes no Brasil, pesquisadores analisam como as movimentações políticas da religião afetam a sociedade.

“A religião está mais à frente da discussão pública e os valores religiosos estão determinando mais, dando mais forma a como a sociedade se comporta. É por isso que criamos esse centro, para entender esse movimento, suas causas e consequências”, afirma Raphael Corbi, professor associado de Economia da FEA, fundador e coordenador do Cerp. Segundo ele, é de tamanha importância que essas informações, baseadas em coletas de dados e análises fidedignas, sejam divulgadas à população por intermédio da USP, devido à relevância e ao grande alcance da Universidade.

O Monitor Lideranças é uma das principais frentes de atuação do Cerp. A cada semana, é publicado um boletim que busca analisar o discurso e o comportamento nas redes sociais de figuras religiosas decisivas para a dinâmica política do Brasil.

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Corbi afirma que as pautas dos monitoramentos variam de acordo com o interesse público; a prisão do ex-ministro da educação Milton Ribeiro, a proposta de cobrança de mensalidade nas universidades públicas e o homeschooling são alguns dos temas que já foram selecionados, com enfoque sempre nos posicionamentos dos vinculados às instituições religiosas. Neste momento, as eleições para presidente são a discussão mais atual. 


Setores religiosos na disputa eleitoral

Os últimos boletins divulgados apresentam os sentimentos contidos nas postagens dos parlamentares evangélicos em relação aos dois candidatos mais bem pontuados nas pesquisas eleitorais, Luiz Inácio Lula da Silva e Jair Bolsonaro. O motivo desse novo direcionamento é auxiliar na compreensão do atual contexto brasileiro: “Estamos em ano de eleição, então há muita demanda por informações em relação à religião; a proposta é informar à sociedade”, declara o professor e líder do Cerp.

Quando setores religiosos entraram na disputa eleitoral, os números mudaram para um dos candidatos (foto: Divulgação/ IURD SP)

Dentre todos os trabalhos realizados nesse projeto, Corbi destaca uma das pesquisas do grupo que considera bastante relevante para entender a dinâmica eleitoral deste ano. O monitoramento em questão revela o impacto dos pareceres religiosos na opinião pública, conta o professor: “Há um tempo atrás, quando Lula estava bem na frente nas pesquisas e Bolsonaro muito atrás, diziam que não havia chances de reeleição. Mas víamos nos nossos dados que as igrejas ainda não tinham entrado na campanha; quando elas começaram a falar a favor de Bolsonaro, ele teve um crescimento. Quando os setores religiosos entraram na disputa eleitoral, Bolsonaro teve uma boa arrancada, mesmo que não suficiente para empatar com Lula”.

Páginas de análises do Monitor Lideranças (Foto: Divulgação/Cerp)


Como funcionam os monitoramentos

São coletados dados provenientes dos tweets publicados por indivíduos e organizações, vinculados a entidades religiosas, que são relevantes para a agenda política institucional do País. O Cerp informa que “o vínculo pode ser formal ou informal, e o mesmo usuário pode ser vinculado a mais de um grupo, conforme o caso”.

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A partir do recolhimento dessas informações, o grupo analisa os posicionamentos contidos na publicação; no atual contexto eleitoral, a análise se encontra direcionada ao sentimento dos autores dos tweets em relação aos presidenciáveis Lula e Bolsonaro. No monitoramento a seguir, referente à semana de 15 a 21 de setembro, a amostra coletada revela que os membros da Frente Parlamentar Evangélica (FPE) possuem muito mais sentimentos positivos em relação a Bolsonaro do que em relação a Lula — tendo os sentimentos negativos em relação ao último se intensificado. 

Atualmente, o centro de estudos realiza a coleta de dados apenas por meio do Twitter, mas de acordo com o professor Corbi, o Cerp pretende expandir o espaço de amostragem: “Estamos também olhando para dados de grupos abertos e públicos de WhatsApp”.

Sentimento dos parlamentares da Frente Parlamentar Evangélica (FPE)
Por semana

Entre os parlamentares da Frante Parlamentar Evangélica (FPE) manteve-se a tendência de as postagens mencionando Jair Bolsonaro terem sentimento positivo. Também foi observada uma intensificação dos sentimentos negativos nas postagens que mencionam Lula.

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Dados e análises sobre religião

O objetivo do centro de estudos, de acordo com Corbi, é promover uma análise crítica do assunto, indo além do fornecimento das informações. “Como o próprio nome diz, o monitor é simplesmente um monitor, serve para dar uma temperatura e mostrar para onde as coisas estão caminhando. Mas o nosso forte é fazer uma análise de dados mais profunda”, relata. Por isso, um dos projetos futuros do Cerp é a elaboração de um livro sobre religião no Brasil.

Segundo o professor e pesquisador Raphael Corbi, quando os setores religiosos iniciaram campanha, Bolsonaro teve uma boa arrancada

Reprodução – Twitter IURD
O objetivo do centro de estudos, de acordo com Corbi, é promover uma análise crítica do assunto, indo além do fornecimento das informações

A motivação para a escrita do livro também vem da escassez de materiais sobre religião com embasamento empírico, segundo o professor e líder do Cerp. O desejo é articular uma literatura sobre religião que seja fidedigna, sem a interferência de grupos de interesses, explica o professor: “Nossa formação como economistas é interessada em dados e no nosso livro traremos análises unindo teoria e dados; será um livro que usa todos os dados disponíveis sobre religião, economia e política no Brasil”. 

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Ao expandir o conhecimento da população sobre as interferências externas nos processos políticos, em um ano eleitoral, as informações sobre o assunto se tornam essenciais. “Tudo que é informação, se for baseada em impactos e informação em dados medidos, ela vem para contribuir e para ajudar. Então, temos o objetivo de informar, tanto grupos diversos quanto à sociedade em geral”, finaliza Corbi. 


Estudos acadêmicos

Além de Corbi, o centro de estudos conta com a liderança do professor Fábio Miessi, graduado e mestre em Economia pela FEA e ex-professor da casa. Também compõem o grupo o professor Ricardo Madeira, também da FEA, pesquisadores afiliados à Universidade e alunos de mestrado e doutorado da USP e de outras instituições. 

O Cerp realiza reuniões semanais nas quais organiza as produções do projeto em “três braços”, conforme explica Corbi. O monitoramento nas redes constitui um deles, mas há também “o braço estritamente acadêmico, que produz textos acadêmicos que são publicados em jornais internacionais e em periódicos acadêmicos, e o braço de comunicação com a sociedade, em que se produz materiais com uma linguagem menos acadêmica para levar o conhecimento mais longe”. 

O conteúdo produzido pode ser acessado por meio do site do grupo, neste link. Os estudos institucionais, os textos para discussão e os artigos de opinião, que consistem nos dois primeiros braços citados pelo professor, trabalham assuntos de longa duração, como a isenção tributária das instituições religiosas, os subsídios religiosos e a expansão da Igreja Universal do Reino de Deus no Brasil.

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Maria Fernanda Barros | Jornal da USP


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