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Disputa por Esequibo e interferência de Argentina, EUA e Grã-Bretanha ameaçam eleições na Venezuela

A Guiana tem sido o cavalinho usado para aprofundar a desestabilização da região com o debate em torno da soberania sobre o Esequibo. Tema encontra eco nas eleições na Venezuela
Andrés Gaudín
Nodal
Caracas

Tradução:

Ana Corbesier

O tema da soberania sobre o Esequibo implica formidáveis reservas de hidrocarbonetos, ouro e diamantes: os EUA apoiam a Guiana e enfrentam o governo de Nicolás Maduro, que chega com esforço, mas airoso, a outra reeleição. Eleições na Venezuela serão realizadas no domingo, 28.

Depois de um semestre em que os Estados Unidos e a oposição direitista da Venezuela reforçaram as práticas desestabilizadoras contra o governo de Nicolás Maduro, o presidente bolivariano demonstrou uma afinada mão política que lhe permite, hoje, manejar com vento a favor a realidade eleitoral do país.

Nestes meses, a Venezuela viveu sob pressão. Desde manobras aéreas e navais do Comando Sul estadunidense e da Royal Navy britânica em áreas territoriais e marítimas em centenária disputa com sua vizinha Guiana, até a apropriação dos depósitos de ouro e das refinarias de petróleo, usurpadas pela Grã-Bretanha e pelos Estados Unidos. E o retorno das medidas de bloqueio econômico, e o boicote de uma oposição golpista a toda forma de diálogo civilizado e democrático.

Leia também | 200 anos de história: por que Esequibo é do povo venezuelano?

Eleições de 28 de julho

Por fim, em 28 de julho, os venezuelanos elegerão um novo presidente que assumirá em 10 de janeiro do próximo ano e governará até janeiro de 2031. Maduro tenta a reeleição, e outros nove (dos quais só um tem possibilidades) participarão da disputa.

Não há segundo turno, o presidente do sexênio será eleito por maioria simples. Assim diz a Constituição. Além de que, para as nunca confiáveis pesquisadoras, Maduro assumiu uma cômoda dianteira, o certo é que o primeiro êxito do mandatário consiste no fato de que a oposição aceitou participar das eleições.

Nas duas últimas, o boicote chegou ao extremo de não apresentar um candidato, uma forma de desacreditar as eleições e deslegitimar quem fosse eleito.

A um mês das eleições, o governo obteve outra conquista, quando, além de Maduro, sete candidatos assinaram uma ata em que se comprometeram a reconhecer os resultados validados pelo Conselho Nacional Eleitoral, o Centro Carter dos Estados Unidos e outras missões de observação eleitoral (MOE) oficialmente convidadas.

Estes sete signatários não têm possibilidades de ser eleitos, mas entre todos somam mais de 11% do eleitorado, um índice considerável. No convite, estavam incluídos para atuar como observadores os especialistas da União Europeia, mas o governo retirou-lhes o convite, depois de, em um novo ato de intromissão, a entidade europeia voltar a erigir-se per se em líder ético/democrático e aplicar “sanções” a personalidades do governo e a empresas estatais venezuelanas.

Guiana e desestabilização

Nestes meses, a Guiana foi o cavalinho usado para aprofundar a desestabilização da região. O assunto: a soberania sobre o Esequibo, um território de 160 mil quilômetros quadrados com formidáveis reservas de hidrocarbonetos, ouro, diamantes e manganês, em litígio há mais de um século.

Ao aceitar o ingresso de tropas do Pentágono e da marinha britânica, o governo de Georgetown levou o conflito para a agenda global. Além disso, com a ExxonMobil à frente de um conjunto de empresas petroleiras estrangeiras — Total e SISPRO (da França), a International Investment (Nigéria), Liberty Petroleum (Estados Unidos) e a Corporação Nacional de Petróleo da China — que disputam a participação no negócio, a Guiana agregou aliados que avivaram a possibilidade de um enfrentamento bélico. E a Venezuela mobilizou efetivos de ar e terra.

Leia também | “Disputa venezuelana por Esequibo é com Guiana ou ExxonMobil?”, questiona Amanda Harumy

O reaquecimento da situação regional incidiu fortemente no contexto interno. De um e outro lado — do oficialista Partido Socialista Unido da Venezuela e da Plataforma Unitária — formularam-se apocalíticas predições, todas conducentes a imaginar, inclusive, um final de campanha sangrento e a possibilidade de que a Plataforma retirasse seu candidato, em um ato extremo de boicote.

Mas nada aconteceu e desde o início oficial da cruzada eleitoral, os partidos reforçaram suas ações proselitistas. Os herdeiros do chavismo tomaram a dianteira e lançaram a Grande Marcha pela Vitória, uma sucessão de 70 mobilizações que incluiu os 335 municípios mais importantes do país.

Governo da Venezuela em alerta

Uma multitudinária manifestação em Caracas pareceu confirmar os prognósticos das pesquisadoras que dão Maduro como vencedor. Nos dias prévios, nada calou, no entanto, as denúncias do governo, que se declarou “alerta e vigilante” ante uma “nova série de planos conspirativos do extremismo opositor aliado à Plataforma”.

O governo falou da explosão de pontes e do reinício da chamada guerra elétrica que, meses atrás, comoveu o país com a sabotagem de várias centrais geradoras. Nas denúncias, o presidente da Assembleia Nacional Legislativa e chefe da campanha de Maduro, Jorge Rodríguez, incluiu o governo argentino de Javier Milei.

Segundo Rodríguez, “a embaixada argentina em Caracas é um antro onde se planejam as ações terroristas”. Na missão está asilada a totalidade da equipe de campanha da Plataforma. Consideram-se “perseguidos políticos”.

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E houve um terceiro êxito pré-eleitoral, talvez o maior, quando no primeiro dia de julho, Maduro destampou a panela ao anunciar que os Estados Unidos tinham aceitado voltar ao diálogo – um jogo tantas vezes iniciado e outras tantas interrompido — em consonância com o que fora assinado em Doha (Catar) em maio passado.

Ou seja, eliminar as restrições para que a Venezuela possa vender seu petróleo e suprimir o bloqueio ao Banco Central, “no marco de negociações com pleno respeito à soberania e à independência venezuelanas”.

Maduro pôs Joe Biden contra a parede apenas três meses depois de ter reimplantado as sanções e às vésperas de umas eleições que selarão o futuro dos seis próximos anos da vida do país. Desmentir o bolivariano teria significado admitir oficialmente que os Estados Unidos não jogam a partida da paz.


As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul do Global.

Andrés Gaudín

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