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Inácio da Costa (Foto: Vanessa Martina-Silva)

Deputado da oposição Inácio da Costa escapa por pouco de atentado mortal na Venezuela

Deputado do Cambiemos, Inácio da Costa foi atacado com garrafa quebrada, sofreu várias facadas e por poucos centímetros não ficou paraplégico
Vanessa Martina-Silva
Diálogos do Sul Global
Caracas

Tradução:

Na madrugada entre a última sexta (19) e sábado (20), Inácio da Costa foi celebrar a formatura da sua noiva na concorrida Universidade Central da Venezuela (UCV), na qual ele mesmo é aluno e bem conhecido, já que tem ali uma ampla trajetória política como liderança estudantil. 

O dia, planejado para ser festivo, no entanto, se transformou em uma tragédia que, por centímetros, não foi fatal. Da Costa, que é deputado na Assembleia Nacional da Venezuela, pelo partido oposicionista Cambiemos Movimiento Ciudadano e apoia a candidatura de Antonio Ecarri, foi covardemente atacado com uma garrafa quebrada e, por pouco, não ficou paraplégico, como indica investigação preliminar.

Da Costa conta que foi atingido no pescoço pelo impacto da garrafa quebrada (Foto: Vanessa Martina-Silva)

Durante o ataque foi ofendido, xingado e difamado. O agressor, ligado à candidatura de Edmundo González (e Maria Corina Machado, inabilitada pela Justiça do país) o acusava de ser diversionista e de fazer uma espécie de linha de apoio da candidatura oficialista de Nicolás Maduro, do Partido Socialista Unido da Venezuela (PSUV), que concorre à sua segunda reeleição. No país, a reeleição é constitucionalmente permitida indefinidamente.

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Esses fatos já seriam alarmantes, sobretudo por ocorrerem em meio a uma campanha eleitoral. Mas tem mais! O cidadão que o atacou saiu recentemente da prisão, onde cumpria pena por ter sido considerado um dos responsáveis pelo assassinato, em 2014, do deputado do PSUV Robert Serra e de sua assistente María Herrera, fato que comoveu a sociedade venezuelana na época.

(Foto: Vanessa Martina-Silva)

Além de Inácio da Costa: o histórico de violência política na Venezuela

Para nos deter apenas nos 25 anos em que o chavismo está no poder na Venezuela, foram registrados diversos episódios violentos no país entre sanções econômicas, sabotagem e campanhas de desinformação. 

Quatro episódios, porém, se destacam pela ocorrência de vítimas fatais: Golpe de Estado de 2002, que deixou ao menos 19 mortos; Protestos de 2014, com 43 falecidos, e de 2017, com 120 mortes, e a tentativa de golpe de 2019, com número indefinido de vítimas.

Corte no braço de Inácio da Costa (Foto: Vanessa Martina-Silva)

O que esses momentos têm em comum? Todos foram articulados, idealizados e concretizados por ação da oposição venezuelana que, ao invés de disputar politicamente o poder, optou por ações violentas para destituir o chavismo e destruir as forças relacionadas a ele.

A eliminação do outro na política é a expressão mais tangível do fascismo e, enquanto a mídia brasileira — fazendo coro da campanha internacional contra Maduro — fala em um virtual banho de sangue (a ser perpetrado por chavistas caso o atual presidente perca o poder), é a oposição que comete atos extremos de violência.

Confira a entrevista realizada pela ComunicaSul com Inácio da Costa, diretamente de Caracas:

Vanessa Martina-Silva: Deputado, pode nos contar o que aconteceu no fatídico dia?

Inácio da Costa: Claro! No sábado (20), de madrugada, eu estava saindo da formatura da minha namorada na UCV, em Caracas. Fui atacado por vários indivíduos, entre eles Anthony Vega e John Álvarez. Ambos tiraram uma foto, no mesmo dia, com o candidato presidencial da Plataforma Unitaria (PUD), Edmundo González. Esses indivíduos me atacaram vilmente com garrafas e quebraram uma na minha cabeça.

(Foto: Vanessa Martina-Silva)

Depois de me atacar e me derrubar no chão, tentaram me esfaquear várias vezes no rosto e no pescoço. Consegui me proteger com o braço, mas recebi três facadas nele. Eu não estava em um ato político e não conhecia os agressores. 

John Álvarez, no entanto, é conhecido por estar envolvido em um caso de conspiração e terrorismo. Após as investigações, descobriram que Anthony Vega é militante de Vente Venezuela e John Álvarez pertence à Bandera Roja, mas também se disse associado ao [partido] Un Nuevo Tiempo, de Manuel Rosales.

Estes indivíduos estão ligados à candidatura da Plataforma Unitaria. 

Quão grave foi esse episódio?

Tudo está registrado na promotoria, que está investigando o caso. Segundo o relatório da polícia científica, a facada nas costas quase me matou. As fotos mostram a profundidade dos ferimentos, especialmente no braço, que evitou cortes no pescoço e rosto.

Deputado mostra as marcas em sua roupa do impacto da facada nas costas (Foto: Vanessa Martina-Silva)

Recebi toda a atenção médica necessária. A promotoria agiu rapidamente e está fazendo um excelente trabalho. O preocupante é que Anthony Vega, recentemente libertado, foi denunciado pelo presidente em rede nacional há 10 anos pelo assassinato do deputado Robert Serra. Este cidadão está livre e é ativista político de um partido da oposição venezuelana extremista. Mas tem viajado o mundo falando de paz e de presos políticos.

E como você vê essa confrontação política e agressão física, que chega ao extremo de tentativa de assassinato? É prática comum na política venezuelana, como dizem ser na política dos Estados Unidos, por exemplo?

Este cenário político de dois blocos em confronto, com mensagens de ódio e extrema violência, afeta os cidadãos e aqueles que pensam diferente, que acreditam em uma nova oportunidade e caminho para restaurar a institucionalidade na Venezuela e promover a paz.

Registro de como ficou o corpo do político após o episódio (Foto: Vanessa Martina-Silva)

Somos uma terceira via, nossa coalizão nasceu para a paz e o diálogo. Não é a primeira vez que somos atacados, mas seguimos firmes com convicções claras. Esses agressores não são presos políticos, são criminosos na política.

Nós, do partido Cambiemos, buscamos tirar o país do conflito. Somos o partido do pós-conflito e é isso que queremos oferecer. Seguiremos o caminho da democracia, paz e entendimento, mesmo que nos ataquem.

Finalmente, vocês e eles são da oposição, por que eles te atacaram?

Existem várias vertentes no país: dois polos em confronto e nossa posição é moderada, de entendimento. Não pedimos sanções para sufocar o povo nem intervenções estrangeiras. Queremos resolver nossos problemas aqui, dialogando, por via eleitoral.

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Eles têm uma visão política diferente, são anos de abstenção e de protestos. Nós sempre seguimos a rota democrática e eleitoral. Eles não compartilham nossa visão e nos atacam, nos chamando de divisores de votos. Acreditamos na paz e que os venezuelanos merecem uma paz, que deve ser construída por todos. Somos consequentes com nossas ações e continuaremos na nossa rota pacífica e democrática.


As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul do Global.

Vanessa Martina-Silva Trabalha há mais de dez anos com produção diária de conteúdo, sendo sete para portais na internet e um em comunicação corporativa, além de frilas para revistas. Vem construindo carreira em veículos independentes, por acreditar na função social do jornalismo e no seu papel transformador, em contraposição à notícia-mercadoria. Fez coberturas internacionais, incluindo: Primárias na Argentina (2011), pós-golpe no Paraguai (2012), Eleições na Venezuela (com Hugo Chávez (2012) e Nicolás Maduro (2013)); implementação da Lei de Meios na Argentina (2012); eleições argentinas no primeiro e segundo turnos (2015).

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