Em sua tentativa golpista, a reação venezuelana cometeu um erro fundamental: especulou com o rompimento dentro das Forças Armadas, mas tanto seus comandos como a oficialidade e a tropa alinharam-se com a Constituição bolivariana e defenderam o governo legítimo de Nicolás Maduro.
No dia seguinte às eleições, enquanto se tentava a divulgação do caos em Caracas e outros pontos do país, este cronista teve acesso a altas fontes castrenses que lhe confirmaram o seguinte, segundo as próprias palavras de um comando do Exército: “os votos, a mobilização imediata de milhares e milhares de venezuelanos e venezuelanas em defesa do governo, e a vocação constitucional inquebrantável de nossos corpos armados e de segurança fizeram com que as tentativas golpistas fracassassem”.
A estratégia da direita foi de manual, isto é, a prevista em cada um dos “papers” que a CIA distribui na atualidade às forças golpistas de cada país latino-americano, muito especialmente na Venezuela: apresentar-se na eleição ainda que de antemão a qualifiquem de fraudulenta, adiantar-se aos resultados anunciando uma suposta vitória, para depois clamar pela fraude pré-anunciada, mobilizando elementos marginais e paramilitares a soldo, com a intenção de provocar o caos.
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Nessas manobras, as operações periodísticas desempenham um papel fundamental. Fazendo uso de todas as ferramentas midiáticas tradicionais e daquela fornecidas pelas novas tecnologias digitais, particularmente com “trolls” nas redes sociais, difunde-se de forma massiva os conteúdos previstos e fornecidos pelas usinas golpistas.
E tiveram um protagonista muito capacitado nestas tarefas: o próprio candidato da direita, que de forma falida proclamou-se vencedor nas eleições de 28 de julho.
Edmundo González Urrutia conta com um passado sanguinário na guerra civil salvadorenha na década de 1980. Na época foi recrutado pela CIA para a organização de grupos paramilitares e esquadrões da morte, em sua posição de funcionário da embaixada venezuelana em São Salvador, quando outro figurão da direita golpista, Leopoldo Castillo, era o titular desta representação diplomática.
Nessa oportunidade, as forças reacionárias tentaram recriar e aperfeiçoar os cenários de caos e desorganização que tinham tentado montar em 2016 e 2018.
Muito antes do domingo de 28 de julho, dia em que se realizaram as eleições presidenciais na Venezuela, os grandes meios de comunicação globalizados empreenderam uma campanha midiática em que se questionava o futuro resultado eleitoral.
Desta maneira, “destacados jornalistas”, “influencers” e “especialistas” de toda laia utilizaram longas horas no ar e nas telas de TV, como também nas redes sociais para editoriais, indicando e culpando o governo de Nicolás Maduro, com um sem fim de acusações e responsabilidades determinadas.
A operação golpista penetrou em âmbitos políticos latino-americanos auto-considerados progressistas e nacional-populares, entre os quais alguns presidentes e ex-mandatários, que por miopia ou cumplicidade encoberta, exigiam do governo de Maduro “transparência” e entrega de atas que confirmassem sua vitória, tal como ficou registrado pelas autoridades eleitorais.
Com aquela espécie de patéticas exigências, estes atores políticos davam crédito à informação falsa e ilegal difundida pela direita, desconhecendo a que oferecia o governo constitucional, em cumprimento estrito das leis que regem as eleições nesse país, ratificadas, por certo, em sua qualidade em mais de um processo de votação em vários anos.
O dia da eleição presidencial caracterizou-se por ser uma jornada onde primou a paz, a tranquilidade e uma alta participação eleitoral. À espera da decisão soberana, os altos comandos da Força Armada Nacional Bolivariana (FANB) deram uma rápida conferência de imprensa onde destacaram a unidade em suas fileiras e que não permitiriam que se burlasse a decisão dos venezuelanos.
Por volta da meia-noite, quando foram conhecidos os resultados, o oficialismo festejou em massa no Palácio Miraflores, enquanto as ações de caráter violento assumidas pela oposição começaram a se fazer sentir em diferentes pontos do país. Assim, com 80% das urnas apuradas e com uma tendência irreversível, o candidato do PSUV ganhava as eleições.
Vale destacar que naquela mesma noite ou madrugada, o site do Conselho Nacional Eleitoral (CNE) foi hackeado a partir da Macedônia do Norte – a direita golpista e seus mandantes dos Estados Unidos dispõem de recursos globais –, o que travou o sistema de transmissão de dados.
Também foram alvo de ataques os Departamentos Regionais Eleitorais, Centros de Votação e Centros de Transmissão de Contingência.
Em pouco tempo, os “comandinhos” da ultradireita opositora, como foram batizados por Maduro, apedrejaram lojas, cometeram linchamentos, queimaram uma sede do PSUV e derrubaram estátuas de Hugo Chávez e do legendário índio Guaicaipuro, entre outras formas de ação direta.
Na segunda-feira, 29, tanto a oposição como o oficialismo convocaram à mobilização e a disputa passou a ser por quem controlava as ruas.
Fora da Venezuela, a operação consistiu em reclamar a apresentação das atas com os resultados por parte das autoridades eleitorais, enquanto a campanha midiática se encarregava de ocultar que tais autoridades (o CNE) têm pelo menos um mês para fazer isso.
Também nesse dia, no ato de proclamação de Maduro como presidente eleito para o mandato 2025-2031 realizado na sede do CNE, o mandatário denunciou: “Estão tentando na Venezuela um golpe de Estado de caráter fascista”, e nesse sentido alertou: “Se a Venezuela caísse, toda a América se encheria de violência. A Venezuela foi a contenção do fascismo”.
O triste papel que Washington fez desempenhar o presidente e o ex-presidente da Argentina, Javier Milei e Mauricio Macri respectivamente, que chamaram as forças armadas para provocar um golpe de Estado, coincide com que, na mesma semana, os deputados do oficialismo em Buenos Aires, os fascistas que se fazem chamar de “libertários” visitaram um grupo de militares e civis genocidas encarcerados por delitos de lesa humanidade cometidos durante a última ditadura cívico-militar.
Os Estados Unidos inicialmente rejeitaram o resultado oficial das eleições presidenciais na Venezuela e, sem esperar a publicação das atas nem a recontagem dos votos, declararam como vencedor Edmundo González, em um claro ato de ingerência a que estamos acostumados.
A direita continental buscou novamente desenvolver um plano de saque, similar ao que ocorreu com a vergonhosa proclamação de Juan Guaidó como “presidente” ilegal em 2019, incluindo ceder a representação diplomática e os ativos financeiros da Venezuela no estrangeiro.
Isto incluiu a apropriação das reservas de ouro, 31 toneladas, depositadas no Reino Unido pelo Banco Central da Venezuela, com o argumento de que Guaidó tinha a representação legal legítima do país.
Estes enormes e multimilionários recursos nunca foram devolvidos, verdadeiros atos de pirataria do século 21, que González Urrutia e sua assessora, María Corina Machado, pretendem continuar levando a cabo, supostamente em nome da democracia.
Um novo episódio de realismo mágico ocorreu em 2 de agosto, quando os dez candidatos a presidente deveriam se apresentar ao Tribunal Supremo de Justiça (TSJ) para entregar as atas que cada partido possuía.
O único aspirante à presidência que não chegou até ali foi justamente González Urrutia, que repetia até o cansaço que estava muito preocupado com a sorte das atas.
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