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Foto: Thomas Hawk / Flickr

Eleitores latinos nos EUA mais que dobram em 4 anos e serão decisivos na eleição

Latinos são quase um quarto da população de Nevada e Arizona, dois dos chamados estados-chave que determinarão a eleição presidencial nos EUA
Jim Cason, David Brooks
La Jornada
Nova York

Tradução:

Beatriz Cannabrava

Os latinos com direito ao voto aumentaram de 14,3 milhões em 2000 para mais de 36 milhões hoje, segundo o Pew Research Center, e na disputa presidencial de 2024, mais uma vez sua participação pode definir quem ganha a Casa Branca.

Este ano, projeta-se que os latinos serão quase 15% do eleitorado, cerca do dobro do que representavam em 2000, quando eram apenas 7,4%. Os estados com mais eleitores latinos são a Califórnia, com um quarto do total, seguida por Texas, Flórida, Nova York e Arizona.

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Em parte, seu papel potencialmente determinante tem a ver com onde estão concentrados. Os latinos são quase um quarto da população de Nevada e Arizona, dois dos chamados estados-chave que determinarão a eleição presidencial; também são entre 4% e 6% de outros cinco estados-chave, ou seja, o suficiente para fazer a diferença entre o triunfo ou derrota dos aspirantes presidenciais.

Segundo as pesquisas, o candidato republicano Donald Trump tem acumulado maior apoio entre os latinos, principalmente por sua mensagem de suas políticas econômicas e algumas posições socialmente conservadoras que atraem parte da comunidade latina. Por sua vez, a campanha de Kamala Harris acaba de divulgar seu primeiro comercial de televisão em espanhol e acaba de ser apoiada pela organização eleitoral latina mais antiga do país: LULAC. A disputa por esse voto será vital para ambos os concorrentes durante os próximos três meses.

Tema obrigatório e central

O tema migratório tem um impacto sobre parte do voto latino, e diante de uma proposta abertamente antimigrante do candidato republicano, Harris e os democratas ainda não conseguiram definir uma mensagem clara. Embora Harris tenha endossado as propostas do presidente Joe Biden para impor maiores controles na fronteira com o México e a anulação em grande parte do direito ao asilo, ela também está promovendo uma proposta mais ampla sobre migração.

“Ela falou sobre um pacote de imigração com vias para a cidadania, na ideia de que aqueles que estão aqui (sem documentos) merecem uma oportunidade para conquistá-la, assim como ter uma fronteira segura”, explicou o deputado democrata Robert Garcia em entrevista à MSNBC. “Terá uma maneira de abordar isso de forma justa e firme, ela entende que há pessoas neste país que são como eu, como minha família, que merecem uma oportunidade para ganhar uma via para a cidadania”, afirmou.

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Em um discurso em um comício de sua campanha no Arizona na sexta-feira passada, Harris reafirmou os compromissos dos democratas de fortalecer a segurança com mais agentes da Patrulha Fronteiriça para conter a entrada de indocumentados do México. “Fui procuradora-geral de um estado fronteiriço (Califórnia). Persegui as gangues transnacionais, os cartéis de drogas e os traficantes de humanos. Os julguei caso a caso, e ganhei”. Em um vídeo da campanha divulgado na semana passada em inglês e espanhol, Harris se compromete a “contratar milhares mais de agentes da Patrulha Fronteiriça para combater o tráfico de fentanil e o tráfico humano”.

Reforma integral do sistema migratório

Mas ela também ressuscitou um compromisso para trabalhar a favor de abrir vias para a cidadania, tema que havia se ausentado cada vez mais na narrativa eleitoral democrática durante mais de um ano. “Sabemos que nosso sistema migratório está quebrado e sabemos o que é necessário para consertá-lo: uma reforma integral. Isso inclui maior segurança fronteiriça e uma via para a cidadania que se ganha”, declarou Harris ao público no evento realizado em Glendale, Arizona.

Uma nova pesquisa nos seis estados-chave que poderiam determinar o resultado nacional da eleição presidencial – Arizona, Nevada, Pensilvânia, Michigan, Wisconsin, Geórgia e Carolina do Norte – registrou que dois terços dos eleitores latinos veem de maneira positiva o chamado de Harris para criar uma via para a cidadania de imigrantes, combinado com o fortalecimento da segurança fronteiriça. Ao mesmo tempo, a pesquisa da BSP Research encontrou que os eleitores latinos não conhecem bem Harris e que seu apoio geral nesses estados continua sendo de só 55%.

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A diretora de mídia latina da campanha de Harris, Maca Casado, argumenta que a candidata tem uma longa trajetória de apoio a temas prioritários para os latinos, desde a ampliação dos serviços de saúde até o enfrentamento da violência com armas de fogo. “A campanha da vice-presidente Harris conhece o poder político dos latinos e é a única que está trabalhando agressivamente para apresentar nossos argumentos, já que não daremos seus votos por garantidos”, comentou Casado em entrevista à agência AP.

Impacto no voto dos latinos

Ainda está para ser visto se tudo isso logrará alentar o voto latino a favor de Harris. Embora a imigração seja sempre um tema importante para o eleitorado latino, a economia continua sendo a questão mais importante para esse setor.

63% dos latinos nos seis estados-chave percebem a economia, e o custo de vida, como temas de maior importância para eles ao decidir por quem votar, segundo a pesquisa da BSP Research. Essa mesma pesquisa encontrou que 60% dos latinos estão de acordo com uma mensagem progressista popular de Harris de aumentar os impostos sobre as grandes empresas e fazê-las prestar contas e atacar Trump como representante dos mais ricos.

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Talvez o maior desafio para Harris seja convencer os eleitores a participar nas urnas, particularmente nos estados do Arizona, Nevada e Geórgia, onde o voto latino pode definir o resultado.

A Associação Nacional de Funcionários Latinos Eleitos (NALEO) calculou que a taxa de participação dos latinos pode chegar a 855 mil no Arizona, quase 200 mil na Geórgia e 276 mil em Nevada, algo que facilmente pode determinar a disputa presidencial nesses estados.

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Mas Harris e os democratas ainda não alcançaram o nível de apoio latino que historicamente precisaram para ganhar a Casa Branca, segundo uma análise da Axios avaliando dados dos últimos 50 anos. Apontou que quando os candidatos presidenciais obtêm menos de 64% do voto latino, quase sempre perdem. O nível de apoio latino para Harris, segundo as pesquisas mais recentes, está em 55% ou pouco mais –muito melhor do que o nível de que Biden gozava–, mas é um claro indicativo de que são necessários mais do que anúncios em espanhol nos próximos 84 dias antes da eleição para obter o apoio necessário – e talvez essencial – dos latinos.

Terreno eleitoral mudou para os democratas

Dezenas de milhares participam dos comícios eleitorais da candidata presidencial Kamala Harris e seu companheiro de chapa Tim Walz, e as pesquisas mais recentes indicam uma mudança nas tendências, favorecendo os democratas, o que está dando nova vida à beira da reta final de uma das disputas nacionais mais raras em décadas.

Em apenas 20 dias desde que o presidente Joe Biden anunciou que abandonaria sua tentativa de reeleição, os democratas mudaram o cenário eleitoral de uma derrota quase certa para uma situação onde, no mínimo, já não estão perdendo e, até mesmo, em alguns estados-chave, estão vencendo pela primeira vez contra o candidato republicano e ex-presidente Donald J. Trump.

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“Pela primeira vez este ano, a campanha de Trump está vacilando e o Sr. Trump parece estar desconcertado”, reconheceu o veterano estrategista político republicano Karl Rove no Wall Street Journal. “Ele está cometendo muitos autogols e desperdiçando tempo de grande valor e não substituível em insultos, temas marginais e trivialidades. Tudo isso mina sua causa.”

Enquanto isso, a renovada campanha democrata liderada por Harris goza de um período de “lua de mel” que provavelmente continuará durante a Convenção Nacional Democrata programada para Chicago de 19 a 22 deste mês.

Notícias positivas e ataques pessoais

Ante a avalanche de notícias positivas e, pela primeira vez, um entusiasmo palpável nos eventos relacionados à campanha democrata compartilhado por toda a gama de bases e aliados desse partido, desde os progressistas até os conservadores centristas, está provocando, pela primeira vez, nervosismo entre as fileiras republicanas.

Trump realizou uma coletiva de imprensa na Flórida na semana passada, onde tentou desviar a narrativa pública ao repetir uma série de ataques pessoais contra a vice-presidente Harris, insistindo que ainda estava ganhando. “Ainda tenho a liderança substancial nas pesquisas, na frente em vários estados-chave”, reiterou o ex-presidente neste fim de semana, embora isso já não seja certo.

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Uma nova pesquisa nacional da Marquette University revela que Harris está vencendo Trump por 6 pontos, 53% contra 47%. O reconhecido Cook Political Report, fonte chave para avaliar a disputa eleitoral, transferiu três estados-chave que anteriormente classificou como “inclinando-se republicano” de volta para a categoria de “em jogo”. Enquanto isso, a pesquisa mais recente do New York Times/Siena registrou que Harris está vencendo nos estados-chave de Michigan, Wisconsin e Pensilvânia por cerca de 4 pontos. Todos são indicadores de que os democratas com Harris à frente estão conseguindo mudar a dinâmica da disputa. Até o início deste mês, Trump tinha a vantagem em quase todas as pesquisas nacionais e nos estados-chave que determinariam a eleição presidencial.

Desafios

Para Harris e Walz, o desafio é consolidar essas tendências nos 90 dias que restam desta disputa (as campanhas nos Estados Unidos são extremamente longas comparadas a outros países, às vezes de mais de um ano), e todos têm conselhos sobre como fazer isso. Nate Cohen, o respeitado pesquisador, escreveu esta semana que “com os democratas unificados e com nova energia novamente, a tarefa central da campanha de Harris nas próximas semanas é construir uma imagem política duradoura que a proteja dos ataques previsíveis sobre a fronteira, crime e suas posições anteriores mais à esquerda sobre os temas.”

Segundo esse conselho, que é amplamente compartilhado por uma boa parte dos chamados especialistas em Washington, os democratas precisam girar para posições mais conservadoras para atrair os chamados eleitores “independentes” (não registrados com um dos dois partidos nacionais), que de outra forma poderiam decidir não votar ou votar em Trump. A classe política profissional oferece variações sobre como Harris precisa demonstrar que será “firme” em temas como segurança pública e crime – talvez ao destacar sua experiência como procuradora estadual da Califórnia – e também programar algum evento na fronteira para responder ao ataque central de Trump sobre o fato de ela e seu partido favorecerem uma “fronteira aberta”. De fato, ela já começou a repetir a mesma linha que seu chefe Biden de que é necessário tanto uma “fronteira segura” como uma reforma migratória integral.

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Mas o que Harris tem logrado fazer de maneira efetiva até agora é injetar novo entusiasmo nas bases do Partido Democrata que estavam desencantadas e irritadas com a cada vez mais anêmica campanha de Biden, suas fracas aparições públicas, sua resposta aos republicanos adotando posições conservadoras sobre controle da fronteira e imigração, e seu firme apoio à guerra de Israel em Gaza.

Tim Walz aumenta entusiasmo dos democratas

Com a nomeação de Tim Walz como seu candidato a vice-presidência, Harris nutriu o novo entusiasmo das correntes liberais e progressistas de seu partido – Walz, como governador de Minnesota, defendeu direitos trabalhistas, direitos civis e da comunidade LGBTQ+, educação pública, uma agenda ambientalista, e é um dos poucos políticos que não tem investimentos em Wall Street – mas ela continua sendo pressionada não apenas pela cúpula conservadora do partido, mas também por essas bases progressistas.

Em Michigan, estudantes disseram em coro: “Não pode se esconder, a acusamos de genocídio”. Ela respondeu que esses manifestantes poderiam acabar ajudando a eleger Trump e a maioria de seus apoiadores gritou slogans pró-Harris para calá-los. Mas se Harris quiser recuperar e mobilizar o voto jovem, e triunfar em estados como Michigan, suas posições sobre o até agora apoio incondicional a Israel prejudicarão sua campanha.

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Abdulla Hammoud, o prefeito da cidade de Dearborn em Michigan, escreveu no X que os manifestantes estão expressando “a dor de um povo, de quem se sente desumanizado e nesse momento havia uma oportunidade para reconhecer a alienação que muitos eleitores sentem, não só em Michigan, mas em todo o país, em torno desse genocídio. Tenho a esperança de que haverá uma oportunidade para um diálogo construtivo”. De fato, os manifestantes conversaram brevemente com a vice-presidente, que se comprometeu a se encontrar com eles.

Outro desafio para Harris é a forma que abordará o tema da imigração e da fronteira com o México, que foi colocado como um eixo do debate eleitoral nacional por seu adversário Trump, e algo que quase todos os dias o republicano reitera.

Mas por ora, esta é uma nova contenda e não é pouco dizer que, pela primeira vez em meses, Trump já não está ganhando.

La Jornada, especial para Diálogos do Sul – Direitos reservados.


As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul do Global.

Jim Cason Correspondente do La Jornada e membro do Friends Committee On National Legislation nos EUA, trabalhou por mais de 30 anos pela mudança social como ativista e jornalista. Foi ainda editor sênior da AllAfrica.com, o maior distribuidor de notícias e informações sobre a África no mundo.
David Brooks Correspondente do La Jornada nos EUA desde 1992, é autor de vários trabalhos acadêmicos e em 1988 fundou o Programa Diálogos México-EUA, que promoveu um intercâmbio bilateral entre setores sociais nacionais desses países sobre integração econômica. Foi também pesquisador sênior e membro fundador do Centro Latino-americano de Estudos Estratégicos (CLEE), na Cidade do México.

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