O refugiado palestino Yousef Mozahem Yousef Saif estava no ônibus, a caminho da cidade de Paraty, no Rio de Janeiro, quando recebeu a notícia de que a casa onde vivia, na Cisjordânia, Palestina, foi bombardeada pelo exército sionista de Israel.
Ele se diria à cidade fluminense para participar, nesta quinta-feira (12), do debate “Como a vida pode florescer aos genocídios contemporâneos”, uma das atividades do 1º Encontro Internacional de Territórios e Saberes (EITS), que começou no dia 9 e segue até domingo (15).
O palestino vive em São Paulo desde 2017 na condição de refugiado, mas sua família permaneceu na Palestina. Todos os dias recebe informações de que pessoas próximas ou de sua própria família foram assassinadas. “Eles viram estatística, mas são pessoas, têm histórias!”. Após um longo silêncio, diz: “tenho um mar de palavras e não consigo dizer nada”.
Leia também | Guerra genocida de Netanyahu segue padrão terrorista e impede acordo global de paz
Hoje com 30 anos, nasceu em Jeddah, na Arábia Saudita, onde seu pai trabalhava. Ali ficou até os três anos, quando foi para a cidade palestina de Tulkarm, onde de fato cresceu e foi criado. Teve que deixar sua terra em busca de asilo em razão da pressão e violência impostas por Israel. Músico, toca bouzouki, instrumento da família do alaúde, e participa da Orquestra Mundana Refugi, dirigida pelo músico Carlinhos Antunes.
Sua experiência como alvo do genocídio começou ancestralmente. Sua família está na Palestina há pelo menos 900 anos, ele ressalta. Após a Segunda Guerra Mundial, a Europa se viu no dever moral de ajudar os judeus perseguidos pelo regime de Adolf Hitler, que então foram levados à Palestina. No entanto, acabaram usando a causa dos judeus para realizar a ocupação do território palestino.
“Os britânicos começaram a bombardear as casas porque diziam que aquela era a ‘terra dos judeus’”, afirma. Saif conta ainda que muitos palestinos aceitaram o povo que chegava. Sua bisavó, que era professora, deu terra, comida e dinheiro para alguns deles. Depois de sete anos, “eles queriam matar a minha bisavó porque disseram que eles não tinham mais direito àquela terra. Ou saíam, ou morreriam”.
Quando tinha 8 anos, o exército israelense invadiu Tulkarm. Fizeram um cerco completo, com corte de água e luz e proibição de acesso de ambulâncias e profissionais da saúde. “Eles entraram com helicópteros e tanques. De repente, a casa do vizinho foi bombardeada. Bombardearam todo mundo na rua, que virou um rio de sangue, um mar de sangue. Foram mais de 13 horas de terror”, recorda Yousef Saif.
Leia também | Martirizada e indomável, Gaza é símbolo universal do que o imperialismo reserva a todos nós
Tulkarm fica localizada a apenas 10 km do litoral. “Eu sempre senti o cheiro do mar, mas nunca pude vê-lo porque existe um muro que nos impede de ir até lá”. Dessa memória surge uma forte conexão com a cidade de Ubatuba, no litoral norte de São Paulo:
O plano de Yousef Saif, destruído por Israel
Semanas antes da viagem a Paraty, Saif pediu a um amigo que enviasse produtos palestinos para vender no evento que participaria. Os itens chegaram e o dinheiro arrecadado seria enviado a Gaza para ajudar a família do amigo. Porém, isso não será mais possível. Na última terça-feira (10), ele recebeu a notícia de que a casa do colega foi bombardeada pelo exército sionista, assassinando seus nove familiares:
Como não poderia deixar de ser, a fala de Yousef terminou sua fala com o grito de guerra: “Palestina Livre, do Rio ao Mar”.
* * *
O Encontro Internacional de Territórios e Saberes (EITS) também contou com a participção de Débora Silva, do Movimento Mães de Maio; Rose Firmino, do Museu Sankofa, da Comunidade da Rocinha; Mara Lucia Sobral Santos, embaixadora da Frente Parlamentar de Mulheres Catadoras e liderança do Movimento Negro Unificado; Renata Gracie, pesquisadora da Plataforma Potencialidades Periféricas, da Fiocruz; Valcler Rangel, do Ministério da Saúde. A mesa foi mediada pela líder caiçara da Comunidade paratiense de Trindade Vera Lucia de Oliveira, conhecida como Vera da Trindade.
Edição: Guilherme Ribeiro
Leia também | Ofensiva de Israel na Cisjordânia é bomba-relógio contra palestinos. Ação internacional é urgente!