Conteúdo da página
ToggleDina Boluarte criou o “terrorismo de imagem”, uma expressão que pretende nos convencer de uma abstração que se transforma em uma realidade sinistra quase por um passe de mágica. A ideia, retirada de algum “assessor” atento, faz parte de um esquema mais amplo, o chamado “terrorismo urbano”, que sintetiza a vontade do regime de atribuir uma conotação sediciosa a tudo que afeta seus interesses e, portanto, deve ser reprimido e bloqueado.
Mas o que, na verdade, ela quis criar com suas especulações foi outra figura: o terrorismo mágico. Isso transforma um protesto cívico em uma ação subversiva, ou um homem consciente em um criminoso vulgar. Assegura que quem governa representa o bem, e que a fome e a miséria não existem. Que vivemos no melhor dos mundos, mas que, como somos “pró-terrorismo”, não vemos isso.
Autoritarismo, impunidade, corrupção: Boluarte conduz Peru à catástrofe
Desse modo, e graças a essa tão sugestiva metamorfose, a detenção nas ruas de um indivíduo qualquer pode automaticamente criar um réu de alta periculosidade condenado a 20 anos de prisão, a serem cumpridos em Challapalca ou em um Campo de Concentração na selva.
O pontapé inicial desse jogo foi dado na última quinta-feira (10), mas já existem precedentes. Por isso, mais uma vez, se fala aqui de vítimas da repressão. Alguns foram assassinados; outros já estão atrás das grades. Logo, serão mais.
Cumplicidade da mídia
Com a cumplicidade da “Grande Imprensa”, o regime busca embelezar o rosto da polícia. Mas não pode ignorar que habitualmente são encontrados uniformes policiais, armas de fogo, insígnias e outros acessórios nas mãos de quadrilhas comuns, de tal modo que nunca se sabe se quem te assalta são criminosos comuns ou policiais disfarçados de criminosos.
Além disso, os transportadores sabem que os policiais são seus primeiros extorquidores: eles os detêm e cobram propina para não sancioná-los com multas onerosas. Agora, exigem que confiem neles para “protegê-los” de extorquidores maiores. Mas essa mesma polícia protege os extorquidores e agride os extorquidos.
Para oligarquia do Peru, democracia é esmagar o povo e entregar riquezas ao império
Há policiais confiáveis? Claro que sim. Honrados, mas acontece que eles veem seus “superiores” receberem passagens das empresas de Chibolín para passar alguns dias no Panamá, com todo luxo e recebendo vantagens. O exemplo os alcança e corrói a instituição de cima a baixo.
Ademais, os moradores de diversas zonas da capital viram, pela primeira vez na última quinta-feira, milhares de policiais, e se perguntaram: por que eles não estão presentes quando vêm os extorquidores e criminosos?
O que acontece é que desta vez eles não vieram para “proteger” ninguém, mas para impedir a paralisação, as mobilizações e as marchas. São crimes, disse o titular do Ministério do Interior. Pau neles, então. Se os moradores querem ver muitos policiais, é muito fácil: organizem uma marcha ao Congresso, e verão outra vez milhares com capacetes, fuzis e cassetetes, sempre prontos.
Revogação das leis
A cidadania luta pela revogação de leis aprovadas pelo Congresso e saudadas pelo regime. Elas protegem e beneficiam o crime organizado, diminuem as penas para vários delitos, amparam processados mafiosos. Porém, ao mesmo tempo, consideram “ação terrorista” a resistência ao comportamento abusivo do governo e suas estruturas de Poder.
Diz-se, e é verdade, que muitas vezes promotores e juízes libertam criminosos. É o caso de Emma Benavides, por exemplo. O que se esconde é que, em outras ocasiões, a polícia acusa inocentes porque não está interessada em saber o que realmente aconteceu, mas sim em encontrar culpados. É fácil dar uma surra em um sujeito para que “confesse” ou “plantar” evidências – como foi denunciado – para “encerrar um caso”.
Pode-se concordar ou não com Vladimir Cerrón, mas já passou um ano e não foi capturado. Só há duas explicações: ou não querem, ou não podem. Se for o primeiro caso, são cúmplices. Se for o segundo, são inúteis. Em qualquer um dos casos, não servem para nada.
“Acabar com o ódio”
A ultradireita diz que “é preciso acabar com o ódio”. Mas o editorial do Expresso de 6 de outubro chamou Martín Vizcarra de “tipinho”, “estúpido”, “miserável”, “canalha”, “abjeto”, “repugnante”, por causa do referendo que ele impulsionou na época para captar a opinião pública. O mesmo acontece quando escrevem sobre Sagasti.
Assine nossa newsletter e receba este e outros conteúdos direto no seu e-mail.
A questão é: se um dos dois chegasse ao segundo turno em 2026 contra Keiko, ganharia em uma goleada apoteótica. Por isso os odeiam. Mas odeiam tudo: ao cantor Julio Humala foi proibido o acesso ao Museu da Nação por ser “contestador”.
Recentemente, em eventos calorosos da esquerda, falou-se muito sobre construir a Unidade do Movimento Popular. Mas não é esta uma excelente ocasião para forjar essa unidade? Não pressuporia isso combater juntos, marchar juntos, lutar juntos e enfrentar juntos um governo que, afinal, é inimigo de todos? Pois é: a unidade se dá na ação, ou não se dá.
Conheça, acompanhe e participe das redes da Diálogos do Sul Global.
Que o governo está nas nuvens, isso até o mais desatento sabe. Hoje, procura comprar aviões de guerra “para enfrentar o Chile”, enquanto Dina busca adquirir um novo “avião presidencial”, o Comando da Polícia Nacional trabalha prolixamente para escolher a rainha de beleza que representará a instituição em 2024, e oficiais do exército se divertem dançando à vontade nos dias de “emergência” nos subúrbios da capital.
O Terrorismo Mágico serve para muitas coisas. Mas, sobretudo, transforma o país em um caos.
“O Genocídio Será Televisionado”: novo e-book da Diálogos do Sul Global denuncia crimes de Israel